segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ópera-ballet

«Les ninphes sautante comme vous.
Mais les Grâces dansent comme elle.»
(Voltaire)

três longos lances de escada. olhar perdido na fachada. estilo que não se sustenta com gregas colunatas ou chinelos de dedo. no meu xadrez, entre cubos de gelo, jaz rígida etiqueta de corte. sem altezas e midinettes rodopiando pelo salão. ainda mais, quem dirá, depois da decapitação de um pequeno sol. no quadro aberto, afogado em água-forte, os convivas, os sorrisos de champagne e caviar. tão mágico. tão russo. lateralmente sem se ver e ouvir, um corpo bóia no verde-azul do mar. trinta anos de rugas. três séculos de dor. milênios ocultos no mofo da biblioteca. sei que trazes, numa caixa de veludo, com laços espelhafatosos, os meus sapatinhos de cristal ainda não perdidos. me beijará com um sorriso o fundo dos olhos. o pé manco. a idade. o improvável do tempo impossilitam a valsa. sei que te esvazias de teu título superior à toda minha literatice. deixas o trono vazio. me dizes, britanicamente, o irreproduzível feito todo efeito. todo épico. ajeito o alfinete de tua gravata. relâmpagos cortam o céu em tons amarelos diante do escuro da noite. uma rosa branca e outra vermelha postas sobre a mesa fazem na imagem uma guerra inglesa. talvez quisesse dançar. talvez até pudesse... não insisto em fazer o sonho durar. antes que comece o pesadelo. minha mão me impede os cristais. algumas cabriolas. o ranges de ossos. os lendários três pés da esfinge. meu príncipe fantasma. oculto nas dobras do lençol da cama vazia. o meu pequeno é fruto de raphaël sanzio. aponto a pálpebra cerrada nas dores antecipadas. acendo um círio por mais um dia. um ano talvez. no quarto, cortinas cerradas, retoco a face enquanto com a mão em prosa persegues a linha em equílibrio do e com o meu corpo. escovas e separas em mechas minhas idéias e pensamentos. se fosse avalon, ainda assim seria uma ilha. o pó se acumula num de meus ombros. quem vai partir primeiro? meio século depois? sei que tudo é certo e nada mais derradeiro. sufoco na beira-mar, por ao ter descido as escadas, fugindo da marcha fúnebre, do caixão içado, a lua e seu reflexo, por ter deixado para trás o meu sapatinho. agora perdido e lúcido. o labirinto fora da poesia.

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