sexta-feira, 2 de outubro de 2009
me perguntas o óbvio. não digo nem que não, nem que sim. não posso. se te perdes na escrita, a voz que fala pergunta e insiste, mas aqui o corpo que se oculta na cadeira, ladeira abaixo, inscrevendo na madeira, tão adocicada, o cheiro último de um nome que não pode ser. nunca se poderá ser. assim, entre três trevas e três trevos de quatro folhas, a sorte lançada. as coisas que se lançam não se perdem. as coisa que apertam o pescoço, o frio que oprime o peito. a dor na ponta dos dedos e as mãos vazias. este corpo feito cabeça pensante. e que pensa e pensa e pensa e insiste em pensar o mundo em lógicas tortas, ali onde o pensamento faz a curva e vira imaginação. vejo as luzes e antevejo as dores. as dores no vazio de mim. no istmo da palavra sensata. aqui onde o café não aquece, onde as palavras não esquecem. a imagem é sempre a mesma feita tinta em um quadro impossível. retire os óculos. não veja. o aparato que se suspende na força faz força antes de mim e me range os dentes. aqui. o pedaço de carne lançado aos leões. o violino que sempre retorna. um vulto que bate nas portas. nas portas das casas vazias e sem fantasmas. é triste uma casa velha e abandonada sem seus fantasmas, sem seus medos. assim, quarto vazio, masmorra entre escuros tácteis, o silêncio impossível, o farfalhar dos ratos gatunos... o pedaço de mim que é roubado. devorado por bestas medievais. entre as pedras, entre as colunas, o tempo-sem-tempo e com pressa. tanta pressa. 15 minutos para um último suspiro. corra. o salto que quebra. sempre quebram os saltos. um assalto: 4 dólares e alguma vergonha. nada mais. o bilhete. onde está o bilhete? o metrô já passou. a verdade já foi. o encontro ao acaso foi impedido por outro acaso. o meu labirinto que inventei e me perdi e não tenho asas para fugir daqui. o lago feito água parada que cheira mal, mas cheira tão sedutoramente a corpo alheio. a corpo de esquina. colônia barata que expurga os luxos dessa carne macia feita mármore. o olho, último rasgo. a filosofia para quê serve? o relógio insiste, talvez ainda possa... talvez ainda tenha tempo. mas o tempo não há. nem existe. os fantasmas da casa vazia são os tormentos que invento, o erro impossível. há que se passar o ponto. chegou a hora. ficar, sentar e (me) esquecer.
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