segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Personificações


A minha filha vai se chamar Saudade. O meu filho chama-se Solidão. Minha mulher, grande mulher, me deixou. Saudades. Amizade sempre foi minha companheira, sempre esteve comigo, desde que sou me tornei esse projeto de Falido que sou hoje. Coitado...Cego...Esse sonho só te destrói. Continuo.

A vida tratou de levar Amizade dos meus domínios, tão linda, inocente. Se foi. Muito cedo, eu acho. Tenho certeza, amava Amizade e dedicava todo meu tempo à ela. Foram bons anos, ela deixou uma carta, começava com: "Lembrança...". E por aí vai...Eu li a carta e levei muito tempo pra perceber o quanto aquela partida significava. Amizade morreu. Amizade desapareceu. E com ela foi parte da minha essência. Guardei a carta, o que sobrou em mim foi essa massa negra, fria. Esponja que absorve sentimentos ruins.

Solidão agora me acompanha nessa jornada. Muito pequeno ele nasceu. Não chorava, não pedia nada, ia vivendo. Achava que ele tinha alguma síndrome, não se desenvolvia direito. Alguma coisa o amarrava. Amizade levou as correntes com ela, Solidão sentiu-se livre. Começou a crescer, grande garoto. Pedia tudo, fazia birra, chorava, Solidão se tornou um menino insolente. Pensei em matá-lo. Não consegui, ele tem meu DNA é parte de mim. É muito difícil. Continuo.

Conheci um novo olhar. Novo Olhar era o nome. Me mostrou um novo mundo muito diferente, nossa, como descobri coisas novas. Novo Olhar era inteligente, tinha lá seus problemas, mas sempre foi uma boa companhia. Andamos por muito lugares, fizemos muitas coisas juntos. Novo Olhar tinha uma beleza estranha, me seduzia. Suas mãos, seus cabelos...Quase perfeito. Faltava algo. Algo tão pequeno, como uma pequena frase, que nunca tive o prazer de vê-la saindo de seus lábios. Novo Olhar me ajudou muito, ajudou a domar Solidão, que tinha se tornado muito rude. Sou eternamente grato.

Distância. Novo Olhar escolheu viver com ela.

Novo Olhar pode não saber a dimensão da caverna em que entrei. Tão funda, fria e silenciosa, tão longe da luz. Meus pedidos de socorro só podem ser ouvidos pelas estalagmites, que insistem em crescer pontiagudas. Perfuram-me. Eu sangro. Meus pedidos de socorro se tornam ecos, pura ressonância. Uma folha caiu ao meu lado, trazida pelo vento. Senti que Novo Olhar tinha a deixado cair quando foi embora. Novo Olhar diria que é apenas uma folha, e era. Mas tinha um significado todo especial. A sorte tratou de trazer ela até mim. Eu sempre me acostumei a valorizar as pequenices da vida. Uma folha, um olhar, alguma frase. Novo Olhar sabia bem como fazer.

Novo Olhar também não sabe, mas deixou um pequeno vestígio aqui comigo. Deixou um sonho. Gostaria de dar uma companhia para Solidão. Novo Olhar sem saber acabou me deixando marcas. Solidão vai ganhar uma bela irmã. Os dois brincarão juntos, crescerão juntos, serão minhas companhias nessa vida. Solidão & Saudade. Meus filhos. Salvem-me.

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São Paulo, 27 de Janeiro de 2011
(@uddg)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

baile das máscaras sem rosto

"dit dit dit dah dah dah dit dit dit"

de vários particulares não se faz um universal. o salão está vazio. os instrumentos tombados. a cidade rumoreja. retiro meu esquadro da bolsa: redesenho um triângulo. é pitágoras quem reafirma o trivial em eixos de 3. lógica simples:quem és diante dos espelho? os pés dançam que dançam e cansados se retiram dos calçados. você escolhe cara ou coroa? todo rei é um fantasma que assombra uma multidão. todo homem é um selvagem. eu dei um pressuposto insustentável e leve e dito e sentido.
senta direito à mesa garota, sabe a ordem dos talhares. não marca a taça com batom. ereta. pescoço longo. marcado. não amarrota o vestido. você precisa sorrir, mesmo que o salto aperte.
o garoto à esquerda toca o lenço. codificado. pistola no coldre. é medíocre e usa meias palavras. gasta saliva com o velho lero-lero comunista de saloon.
três pontos. três traços. três pontos.
não tenho alma para ser salva.
eu não tenho raiva. tenho explosão racional racionada. o foco do olhar destruindo o objeto.
um carro freia. três vultos de capuzes negros. você estaria entre eles?
você não entende o sistema deste jogo.
procure os pontos, não as pistas. não saia da pista, mas acelera rasante nas curvas fechadas.
decifra meu código enigma. você sabe que não falo inglês. não com a falta de acentos dessa língua.
seu almirante arma um pano de prato em que traz bordado "das Rudel". silêncio mecânico. falha mecânica. silêncio inumano. falha humana. sem tragédia. apenas a comédia burburinho pequeno burguesa continua e continua e continua e continua.
você não é capaz de sentir o fio da faca.
retiro a maquiagem com a navalha, algo da pele vai junto, mas o nome se apega aos ossos. ele é um fantasma yanomami: sequer existe.
não designo. não lembro.
é a vitrola que ainda toca, com a luva sobre a cauda do piano.
há o punhal sobre a mesa cravado numa maçã vermelha como sangue.
talvez o fim se aproxime com a aurora. sem sinos de guerra.
assina teu nome e foge. sem tempo para caçadas. sem tempo para fronteiras.
é hora de fechar os olhos para algum sono sem sonhos para não reconhecer os crânios sob as colunas de teu palácio de vidro.
o salão está vazio. os instrumentos tombados. a cidade rumoreja e acorda. visto meu paletó e sento à maquina. o que tens para valsar hoje: carta ou procuração?


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

letras amanhecidas

(se bem decodificado, parte disso poderia ser um e-mail)

andromaque, je pense à vous... mas são 6 horas da manhã, já passadas, aqui neste lugar que não é meu com este calor de verão, com seu horário de verão... mas não quis, não poderia te acordar. talvez seu silêncio diga e insista. você ao menos consegue dormir como um pequeno anjo barroco numa cidade perdida. desculpe pelos meus black-outs. aqui os fantasmas embebidos em cerveja dorme. queria poder dormir, quem dera poder sonhar. um pequeno luxo destes que não pode ser comprado, que farmácia alguma compensa. você pode comprar o remédio para dormir, mas não um bom sonho. pensei em te escrever isto, mas... porque perder tempo com meus pequenos anões de jardim assustados?
a velha paris não se compõe e ganha forma, muda e depressa no meu coração assustado. é a crise. a poeira da rua me engasga. o futuro posto entre o nada e o vazio. eu não sei, não há a minha certeza. nenhuma mão desluvada sabe de meu suplício. eu errei. acho talvez, e feio. os meus dados eram todos viciados.
e eu me pergunto repetidamente, a mim, procurando em mim, alguma resposta: "Eau, quand donc pleuvras-tu? quando tonneras-tu, foudre?". acho que me descolei de mim. sou a sombra de um corpo perdido. quem poderias dizer que viver, simplesmente, viver daria nisto?
eu tento escrever sobre um pequeno poema. não meu. não escrevo poemas. jamais serei poeta, nem mesmo de um poema só. eu finjo que sei escrever e acabo acumulando letras, as pessoas que passam não lêem, mas acreditam que escrevo e que isto diz alguma coisa. mas nunca pra mim. chacal diz em algum verso que o corpo sabe letras com gosto. minha mente é que estuda e pescruta e prescreve letras. quem se importaria com um pequeno plágio? ou nem isto, uma citação, sem exigências de gênio... eu não me importaria. mas conheço quem sim, até demais. mas não, sem agradecimentos, sem estes meus pequenos post-its. eu deveria ter tentado ser estrela ao invés de noite escura. não nasci para a luz. nem mesmo de lua cheia.
é uma dor que dói, entre as narinas, apertando os olhos e obrigando aos longos respiros.
eu sei que você não entende o que lê, procura o que não pode achar. nem mesmo aqui.
mas como escolher, entre ficar e partir? partir para onde? partir como? não sei. não quero abraçar uma língua que eu não falo, mas leio e penso que falo com todos os meus acentos de latino-américa que se diz intelectual. meus estudos em filosofia tropeçam na minha lógica. preciso melhorar minha matemática. e pergunto mais: aonde andará o poeta de pijama que escorrega e cai, enquanto distraído sonha um mundo de estrelas? (é piva, você reconheceria?). já não há céu, nem solo firme. por favor, segura minha mão, me silencia, evoca a eutanásia de sintaxes desconhecidas porque sigo as labaredas memoráveis de um dia que apenas reencontro em luto e melancolia. não sei dizer da tua troca entre paris e nova iorque, mas ainda me dói. tanta coisa inexplicada que dói. tanta coisa não esclarecida que volta. não deveria ter sido assim, mas foi. não me abraça, não agora. meu corpo sua. sua com o calor. sua, a musa que mente e troca as letras. insisto no que não faríamos jamais no frente a frente, derramando as palavras, tentando dizer com os olhos (mas os olhos não falam), do silêncio que não pode ser mudez. eu preciso mudar. eu preciso dormir. não confunda quem assina isto. é o outro. sem sombra, sem sombra de dúvida. o que você sabe sobre os espectros? és capaz de encontrar minha cor preferida em pura referência numérica... nos nanômetros de minha incerteza....
não caibo em mim, mas não estou em mim, não quero ser isto. mas... é texto cifrado, datilografado e com toda a sorte de grampos. fecha os olhos, sombra, diante do espelho: o que você é capaz de descobrir, enquanto o dia clareia, através das pálpebras vermelhas neste escuro fabricado?

paradoxo

quem é capaz de suportar
um coração
que insistente
ainda
bate?

isto importa?

eu comecei um romance, não um real, mas talvez. rosto e nome descobertos. o que se faz? há a agonia, a noite, o dia, co-significando luz-&-sombra. sem colorido, não adormeço. não me pela para te contar meu último conto de fadas. eu não sei me valer de metáforas, mas disparo na língua como ninguém. sou insuperável no descontrole: minha atribuição errônea sempre acerta, mesmo quando não penso no erro, meu estopim narrativo sempre se fecha sobre si e minha livre associação é treinada e muscular. não escapo ao teu divã. tive conversas estranhas hoje. tive silêncios estranhos hoje. tive isto. anotei o muxoxo de canto. tive o vazio futuro por perto e você nem soube me perguntar como eu realmente estava, mas onde você estava mesmo?
talvez eu devesse realmente aceitar a proposta, fugir, duas horas daqui. suspender o centro, a braxília fugaz. eu não sei o que esperar de teu silêncio. eu penso mais do que eu realmente consigo escrever, acredite.
5 horas da manhã. eu desabroxo meus paradoxos. não vou escrever sobre eles. estou muito à friedrich schilling, que você não entende, certamente, você não o conhece....
meu corpo está quente, confuso, quente.... não desliga a máquina que não dorme.
"...vem dormir comigo, me abraçando no escuro, afastando os fantasmas..."
brinco de estrela-do-mar enquanto durmo. agora penso que deveria escrever um bom conto de porn-art. é mais fácil entender as coxas contra coxas, o beijo, o vazio dos nomes, os encontros furtivos e fortuitos.
eu desenho pra escapar ao pensamento.
sou o contrário do personagem que invento. a cacofonia não é intencional, é eco.
eu me perco e não me acho.
que sou quando retiro a maquiagem diante do espelho?
você seria capaz de manter a carta que te envio cerrada para abrir só daqui uns 50 anos?
que me diz?
...
talvez seja rude, mas seja simples assim. sem sucesso, obviamente.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Um gole de cerveja lento, uma pitada no cigarro, um sorriso largo, espontâneo, gargalhada alta, daquelas sem vergonha dos que estão ao redor. Do outro lado goles rápidos de uma caipirinha ou outra bebida qualquer feita de destilados, gestos rápidos, palavras jorradas, histórias, risadas. No meio um sentimento: uma amizade simples, pura, sem muitas complicações ou pretensões... Livre, assim como os espíritos dos amigos.
Começou sei lá quando, em sei lá que lugar. Foi aos poucos. Duas pessoas com amigos em comum, se conhecendo, se estranhando, se admirando, jogando conversas fora. Hoje o seu sorriso me faz sorrir e suas histórias me fazem viajar. Aquela conversa gostosa, sobre qualquer assunto – o preferido? Hummm, só coisas boas! – e sem hora para acabar.
E hoje eu espero o próximo gole para continuar com as risadas gostosas e as histórias fantásticas deste ser barroco, desejando que noites como estas nunca tenham fim, apenas finais felizes.

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Jaraguá/ Florianópolis, 26 de janeiro de 2011.
Talita Ewald Wuerges

O retrato de dois anos

(esboço de aniversário)

O interessante deste blog que ele nasceu como um relato, para aceitar a demanda de uma escrita que se dá ao desconhecido. Terapêutica? Não sei até que ponto. Numa constante ebulição liberada pela catarse e pela necessidade de limpar a ponta dos dedos, de limar o pensamento, de aceitar alguma coisa. O blog nasce no mesmo momento em que entro no mestrado e preciso pensar um pouco mais, afinar, sintonizar e perceber problemas. Ao passo que aqui o problema é centrado num eu, num olhar, na necessidade de um caminho que é sintático. Um caminho que tem como saída a palavra. Na origem ele não era pretendido dialogo, afinal, quem ler qualquer literatice ainda nos dias de hoje? Quem persegue algum espaço que não preenche o tempo e mesmo que sejam chamadas de inúteis, não dá uma informação sobre as Ladys Gagas da vida? Pois bem. Não posso dizer que não seja uma experiência e como tal singular. Não sei dizer do que ela me afasta ou do que ela me aproxima. Sei que as letras encontram uma direção ao se combinar, é o fluxo não-natural da língua que se encontre sentido neste corpo, nesta pele que cede ao desejo e ao tato. Mas e quando não se pode tocar o corpo? E quando se erra o nome? Quando tudo que resta é o logro, a mentira e o paradoxo? Como exigir o mínimo de poesia? Como procurar este saber-ver-e-olhar. Não, eis a questão, é o espaço do cérebro suspenso em que quem se entrega é o corpo, neste pacto unilateral, pacto de certo rebaixamento e por isso pacto de sujeição. Alguém tem de se entregar. O corpo domesticado ou a língua assujeitada. É batalha no limite do corpo e da língua, da língua do corpo e da língua posta pra fora do corpo na morte. Talvez sem grandes filosofias, mas puro registro de tempo, do meu tempo, das minhas velocidades. Espaço rodeado pela minha constelação de mitos, que volte-e-meia aceita visitas e se dedica a alguém, a um ou outro ser especial. Não sei se gosto de seres especiais como estrelas cadentes, elas perdem o brilho e nos abandonam. Não gosto do sem rumo, mas não gosto do destino prévio. Não quero os textos longos. Agora, quero a companhia de uma boa leitura, de um bom encontro ou desencontro. entre Florianópolis, São Paulo, Brasília, Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife…. tantos outros pontos no interior de um mapa que fui descobrindo afeccioso… e que se abria também noutros limites maiores: Brasil, Estados Unidos, Canadá, Portugal, Indonésia, China… e noutros e noutros. Como um jogo de espelhos. Mas no fundo, a missão era simples e egoísta: era o meu território que esta ali para ser desvendado, os meus limites… sem provas, sem exigências, mas à espera. Não devo insistir, mas cada companhia, cada leitura, agita novos fantasmas destas letras e por isso meu obrigado. De resto meu obrigado e minha gratidão aos que aceitaram minha intimação….

Abraços
Espero que continuem aparecendo

Evandro Brèal.

Joyeux anniversaire


O que me atriu de primeira foram as longas mechas, aquela estranheza de toda estréia, que ele nem lembra. Os pés esticavam ao infinito sabor ballet, abraçado no cara errado, e eu roubava a bebida aos pouquínhos enquanto conversa com o escudeiro.
Me atraiu da segunda vez o Mário, de Andrade, resposta da minha segunda pergunta, O que você pesquisa?
Daí vieram as conversas fora de hora, o papo furado, o barroco, as inseguranças, os conselhos, as teorias malucas e uma inclinação natural, ou melhor, uma tendência a desempenhar o personagem da vítima.
Tenho que dizer que aprendi a gostar dele e muito, Ev é meu crush francófono e meu melhor amigo da madrugada, não importa há quantos anos, nem por quantos anos mais. Importa a madrugada.
E com todo o “quê” de Diva dos 60, celebra aniversário e fica mais charmosa, ninguém se importa mais com a idade depois da terceira taça anyway.
E agora só restam meus apelos darem resultado e ele também se tornar meu professor de francês, e a vítima de sequestro, que já solucionou meu crime, mas aguarda meu resgate.

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Calgary, 26 de janeiro de 2011.

Lennon Mota
Por muitas vezes pensei em te dizer ‘eu te amo’ mas não soube quando nem como.
Pensei em te dizer o quanto você é especial pra mim e em logo em seguida ficar com a maior vergonha do mundo por ter dito isso, mas pensamentos são apenas pensamentos.
Um abraço, um beijo. Momentos como esses, por mim, poderiam durar toda a eternidade.
Segurar tua mão, ouvir tua voz: isso me conforta de uma maneira que com palavras eu não consigo explicar. Nesses momentos o ar parece rarefeito, e meus pés parecem não tocar o chão.
Sonhos e noites mal dormidas com a cabeça no travesseiro e a mente loooooooonge, pensando em você. Não queria que sonhos fossem somente sonhos e pensamentos, somente pensamentos, mas eles nunca são demais.
Quem sabe algum dia, eu te fale tudo o que eu tenho pra te dizer?
“Eu te amo” três simples palavras, mas tão difíceis de serem usadas corretamente. Apenas três palavras que não só são para ser ditas com a boca, mas também com o coração. Três palavras assim como “eu te odeio”, mas ‘eu te odeio’ pode ser dito com facilidade... Mas afinal de contas, construir um castelo de cartas é inúmeras vezes mais trabalhoso e difícil do que derrubá-lo, não acha?

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Campinas, 26 de janeiro de 2011.

Gabriel Furlan

resultado do sorteio de aniversário

então galerinha,
ja foi
resultado tá aqui.

obrigado a todos os migs, com trema ou sem, com vírgula ou sem, que aceitaram esta brincadeira.
se quiserem em breve faço outro desenho e jogo por aqui...


beijinhos,

mesmo!

Ev.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ergo,Ipso Facto, Colombo, Oreo.

ligue as luzes. todas as noites eu fico aqui esperando a minha chance. arrumo meu cabelo, caso direito os botões da camisa. não sei como você virá. não sei se você virá. tenho seu perfume preso no meu nariz. não gosto de saber das coisas, ficar às escuras talvez signifique por um tempo que estou entregue. mas, bastaria perguntar, quem me liga todas as manhãs para me despertar de um sonho vazio e repleto de sombras. não o sonho de uma noite perfeita que as vezes alguém que bebe e bebe tem. olhos as marcas que acabam enchendo meus olhos. as nuvens recobrem as pupilas. não sei se me reconheço. algumas vezes eu me perco e preciso escrever para me encontrar, atravessar o labirinto, fazendo um fio com as palavras e marcando o caminho. tu me perguntas, nonsensemente, se sou loiro. carrego a chancela dos condenados à morte n'alma. uma flor-de-lis que cheira a suor. talvez seja essa chuva que tudo derruba, um raio cai aqui perto. estou só. mais que isso, me sinto só. tu dizes que acordei para que todo mundo admita que ao menos eu me importei contigo... não sei se quero mais alguém depois da última verdade que se espatifou como espelho pelo chão. sobre a mesa restam os vestígios do jantar de ontem. vestígios completos que não comi, porque você não veio e nem sequer me avisou.sinto que algum dia caminhando para respirar o ar vai me faltar: o corpo caido diante de mim não tem rosto, nenhum.


quando eu tinha um aninho...



então, blog crescendo e envelhecendo...
há um ano atrás, graças ao @assuncion ele tinha esta carinha que segue aí abaixo e que muitas vezes infernizou muitos de vocês.
agora, com o empenho do @uddg ele vai de livros, audrey e a florestinha meio-macabra...
e é esperar o que o novo-ano nos aguarda.
sempre sem promessas....
mas sempre à espreita.

beijos.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Escrever um texto para o blog dos outros, nao atualizo nem o meu!

Mas ta, ta fazer o que, a gente tenta aqui pensar em algo, idéias eu tive mas esqueci junto com as cervejas e tequilas de ontem.

E também meu blog é uma grande inutilidade, escrevo a cada 10 anos e para alguem ver eu tenho que ficar floodando e pedindo “leia!”. Gosto quando leem e comentam algo completamente longe de “ha, gostei” ou “eh ficou bem bom cara”. Nao descarto essas demonstrações de que se deram ao trabalho de ler mas qualquer coisa a mais que isso significa que algo eu acertei no texto.

Blogs são para quem escreve e nao quem lê. Se o cara escreve o que quer a opinião de quem se submeteu a leitura nao importa. É mais uma terapia da escrita, gastando a sua criatividade ou tornando util 1% do tempo que se perde no computador diariamente.

Adiciono que estou escrevendo esse texto na casa de um amigo fora da minha cidade, enquanto ele tenta dormir num dia quente. Predição: O texto vai ficar horrivel, mas eu tentei...

A quero acabar mas está tão pequeno, nada veio, talvez venha, posso deixar de molho entregar em alguns dias, posso mandar assim incompleto e dizer que está completo.

É fecho com: Poderia ter feito melhor.

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Florianópolis, mas de algum lugar entre BH e São Paulo, 20 de janeiro de 2011

Leonardo Lopez

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ao puro de coração

Não tem brilho nem estrelas. Deve ser por eu te ver como poucos: simples, seco, sem frivolidades. Vai bem além do menino minado que se esqueceu de crescer e ainda diz: “eu quero mãe, e quero agora!” É o intelectual forte que te permite errar um ou dois argumentos, mas depois de esmaga, sem crueldade (mas com sarcasmo), com o peso infindo dos anos de leitura.

O que nós sabemos o que eu me permito saber, é que as borboletas no estômago foram devoradas pelo suco gástrico e que a grande maioria das pessoas não sabem esperar as coisas acontecerem. E como um cisne negro que chora lágrimas de cristal, você dança por entre as tristezas tirando delas o que ainda é concreto e depois renasce como uma fênix talhada em outro e pedra.

Que força é essa que na simples menção transforma a escrita e traz palavras que, quiçá, vão permanecer para sempre? É a força que nos eleva num espiral vertiginoso e depois nos lança fracos e nus sobre as ondas do mar. Força essa que nem depois de oito estações perdeu o ímpeto de revelar e iluminar.

Quero que prossiga não em pessoa, mas naquele que você representa. Um pacto de sangue negro e azul; a dança da bailarina cega sobre uma corda num penhasco. Prossiga aflito nas nossas mentes nos inquietando com seu discurso: “já é madrugada! Acorda, acorda, d’accord, d’accord...”

Et une jour sur un portrait noir et blanc, je vais ecrit: “no coração fiz um amigo e para vida o cultivei.”
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Florianópolis, 19 de janeiro de 2011.

Vinicius Neri

Presente de Aniversário


Poderia começar com o clichê: o blog faz aniversário, mas quem ganha o presente é você, mas no no no no...
A coisa toda é simples. Uma brincadeira simples.
Em meio aos presentes-textos que estou ganhando (faltam alguns ainda), resolvi achar o meu jeitinho de retribuir, mas como escolher alguém é complicado, a gente deixa isso pra um programinha de sorteio (que agradeço a indicação do @tiul @adrianozeff e @rubinho, com direito a tutorial for dummies).

Enfim...
fiz três esboços de bailarinas aqui, à bico de pena e nanquim, escolhi a melhorzinha para sortear (a foto não ajudou muito, mas é bem bonitinha tá? acredite e confie).



O método é o de sempre: rt e mimimi. Acho que todo mundo já sabe brincar disto.

( o link pra rt é este aqui: http://kingo.to/rb8 )

(ou na dúvida clica AQUI)

Deixo pra sortear no dia do aniversário (26/01).

beijinhos,
babies..

Ev.


ps. depois do sorteio a gente troca infos e mimimi pra enviar o original pelos Correios.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Meu caro Welsts (posso te chamar assim?),

Peço sua licença pra macular seu espaço com uma prosa bem mundana. Não sou versado em poesia. Quem me dera ser um bom contista, ensaísta.

Você tem apenas dois aninhos e já é denso e complexo desde o primeiro instante.
Ou o tempo de um blog passa mais rápido que aqui fora,
Ou é aquilo: "Tal pai, tal filho".
Ou os nomes tem poder? "Dor do mundo".

A dor faz parte da vida, pequeno blog. Mas não precisa definir uma vida.
Não posso evitar que você sinta dor. Mas posso te estender a mão, fazer olhar pro outro lado.

Muitas vezes não te entendo mas reconheço e admiro a sua beleza e riqueza interior.
Admiro e me encanto como alguém que contempla o nascer de um dia.
E você está justamente aí, ainda nascendo, com muito a viver.

Então, viva muito!

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São Paulo, 17 de janeiro de 2011

Ricardo Matos

Do quinto andar.

Era preciso muita preguiça para subir todos aqueles degraus de elevador.
Passar pelo corredor sem cantar ou sem saber que a porta poderia estar trancada.
Mas eu subia as escadas em silêncio porque meus pensamentos agitados
esperavam te encontrar.
Naquele quinto andar.

Era manhã bonita de quarta-feira e o sol se escondia entra a letra A e B
e eu escutava batuques ritmados sem perceber que era hora do almoço
Aquele ar me fazia esquecer do dia a dia com cara de final de semana.
E de longe eu sentia você perto
Naquele quinto andar

Era difícil aquela língua diferente, aquela cidade nova, aquela carteira usada
Respirar cultura empoeirada sem ter noção do valor da traça
Aquele teatro histórico, a biblioteca intitulada, a dança moderna e clássica, o título engraçado.
e você sabia com maestria tudo o que me encantava.
Naquele quinto andar.

Era dezembro e eu não fui a praia.
Esperei o sol chegar para eu ir embora sem ter coragem de aceitar uma nova estrada.
Aquela vontade de me dividir em duas e deixar minha caneca naquela geladeira.
Como uma forma de dizer: “ainda estou por aqui”
e eu escolhi seu desenho pra te levar comigo.
Naquele quinto andar.

Crescer
Voltar para uma casa que ainda não era minha.
Esperei fazer anos, ganhar dinheiro, andar de metrô sem garoa nos meus olhos apesar de toda a saudade.
Assim como eu, a caloura eterna,
assim como tu, meu veterano amado,
assim como seus escritos, angústias sábias.
A gente se joga de salto alto, mon amour.
E voa.
.
.
.
.
Não precisamos mais andar.
_____

São Paulo, 17 de janeiro de 2011

Natália Sanches

No labirinto infinito

Nos olhos sem brilho
O veludo vermelho
Chame a polícia
Já não há por quê
Isso é tudo que tenho
Isso é tudo que eu tenho pra te dar
Mas nunca é o bastante
Chame a polícia
Retalhos
Costuras
Perdi a mim mesmo
Telhado de cartas
Não há mais saída
Você era o único
Estou cansado
Vou fechar as portas
Eu sou o meu dia
Você era o único

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Blumenau, 17 de janeiro de 2011

Karina Zendron da Cunha

Mem.ó.ria




Escaneio meu toc
Com ou sem toque:

Letras, com letras, e pelas letras.
Doçura? Amargura?

UFSquê? NELIC.
Bazzinga!

En Français? S’il vous plaît.
Ballet? Mallarmé!

“Garoa do Meu São Paulo”
Com que Mário? O Luigi!

Libra? Libre! Cuba Libre!
Mas Scorpio, sempre Scorpio.

“I could have danced all night”
entre Dior, Valentino e Chanel.
Valentino Dior? Miau!

Meu nome é Ev. Evandro é apelido.
Mas também pode ser Holly Golighty.

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Detroit, 16 de janeiro de 2011.

Juliana Bittencourt

sábado, 15 de janeiro de 2011

São Paulo e algum caso de amor.

Para: Cidade luz por direito.
"Eta vida besta, meu Deus"
(Carlos Drummond - 1930)

Você tem um dever a cumprir. Consulte sua consciência.

Ele não saiu naquele dia. O cartaz foi colado no muro de casa. O Brás estava agitado, operários parados, as janelas tornaram-se palcos. Nunca houve tanta fofoca e boatos como naquele dia. Ao pequeno bambino só restava ajudar a avó a costurar as roupas da vizinhança. Gostava de costurar. A avó era seu porto seguro. Os irmãos mal lhe dirigiam a palavra. A mãe reparava, (com desprezo), seu singelo jeito de segurar as bonecas da prima. O pai mantinha-se ocupado em operar a máquina da tecelagem. Vivia sozinho, no seu infinito.

A cidade é infinita.

O menino perderia as primeiras aulas de ballet com a delicada instrutora, (como gostava de ser chamada), a pequena professorinha possuía uma escola de dança no centro. Alemã, fugiu de uma pequena cidade próxima ao Danúbio. Foi difícil. A cidade sempre lhe pareceu grande demais, monstruosa. Instalou-se. Casou-se. Feliz. Ser professora nunca foi seu sonho. Lago dos Cisnes no Municipal, sim. A vida acabou lhe reservando outros planos. Passou a adorar aquelas crianças. Ela amava o que fazia. Ela ensinava arte.

A cidade é cada história dessa gente.

Rua São Bento, esquina. Facilmente identificável. Quinto andar. A escola recebeu poucos alunos no início. O medo era quase que generalizado. "Será que isso fica de pé?". Bobagem. Ele erguia-se no meio do outros art-nouveau, que antes não passavam de 5 andares de altura. Olhava a cidade em sépia, tomada pela névoa. Ele sabia de tudo. Seu olhar via os homens de chapéu, que mantinham o passo apressado no Anhangabaú. Suas janelas enquadravam as mulheres, poder do Número 5 subia até a cobertura. 30 andares. O Martinelli. Ele foi o primeiro. O mais importante. Inesquecível.

A cidade é cada construção.

Tiros para o alto. Um deles atravessou a janela do 2º andar. Correria. A Galeria Prestes Maia servia de esconderijo. A multidão incontrolável. Cavalaria. Do alto, as ruas tingiam-se de verde, os soldados tomaram as avenidas. Não se via mais chapéus, o cheiro no Número 5 não fazia mais efeito. Cheiro de sangue. Os combatentes viram o sonho se distanciar. A cidade continuaria sendo apenas um motor. A vida no Brás continuaria sendo regida pela máquina. Procurando paz, imigrantes continuariam vindo. Gigantes continuaram se erguendo no horizonte. O status quo seria mantido.

A cidade é cada um deles. Homens, mulheres. Soldados.

A vida besta nunca lhe pertenceu. A vida de pormenores só pertencia às casas da Mooca. Ilha como tantas outras, pessoas cercadas de pessoas por todos os lados. Ilha como não há igual. Sem pontes de ferro que não ligam nada a lugar nenhum. A falta de sentido nas coisas é o charme da sua existência. Às vezes expansiva, às vezes introspectiva. Mão de obra altamente qualificada, metralhadora de conhecimento. Burra, como uma porta. De concreto armado, suas linhas se mostram frias, insensíveis, retas, calculadas, técnicas. Por fora, apenas. Por dentro, seus contornos assimétricos, parecem resultado de uma explosão. Difícil de entender, um mistério, um deleite. Um convite à descoberta da sua essência. Só para corajosos. Emocional, frágil, roller coaster of love. Amour. Amore. São Paulo, eu te amo.
De um Paulistano, apaixonado.

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São Paulo, 14 de janeiro 2011.
Otávio Melo

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

We’ll always have Paris…

Penso em te escrever. Penso números, descarto versos, páginas e mais páginas, “tudo pó”, alguém disse. Dois anos. Dois anos de quê? Nunca entendi muito bem essa cronologia ocidental, (?) inventada, a vida devia ser medida de giros, saltos, gritos, gemidos, sorrisos, lágrimas, faltas. Faz também dois anos que te conheci. Que dançamos pela primeira vez. Que nós, inevitáveis e errantes, fomos. E temos sido desde então. Nada de números. É dessa outra coisa que éramos feitos.
E agora isso. O silêncio. O eco do quarto vazio. Eu Boreal, você Austral. Que se há de fazer? Nos aceitamos assim mesmo, anacrônicos. E agora isso. Essa coisa que pesa aqui dentro, sem saber ao certo o quê, onde, quando, andando de um lado pro outro de mim, de ti, dele, de todos. Escrevi mesmo pra te dizer que ando meio assim, meio aqui, meio ai, sempre lá, sabendo voce, também, sempre acompanhado, sempre sozinho, Hemingway, Calvino, Baudelaire? Amanhecemos Clarice, lemos New Yorker Caio F., double espresso, please, depois central park, 5 PM english tea, Shakespeare, jantamos La Bohème, dormimos os mesmos. Sempre os mesmos no fim do dia…
Olho pro mesmo teto de ontem, de anteontem, de mês atrás, o mesmo desgastado no canto esquerdo, perto do abajur, no chão, o mesmo rastro de poeira no rodapé, os mesmos livros espalhados, nas paredes brancas só a falta: teu rosto, me ditando sentidos. De longe o trem passa, apita, grita teu nome, porque teu nome era assim, sem forma, sem letra, só um grito, agudo, sofrido, calava de repente. A mesma musica, I’ve drove to new york, aquela, da nossa última noite juntos, de quando o sol nascia, sul, norte, I’ve made a lot of mistakes in my mind, in my mind, eu assistia o movimento de teus lábios. Você sorri quando dorme. All things go, all things go… Han, tolice a minha. Não entender que o que me trouxe aqui, que te deixou ai, foram esses números. Os números que ignoramos, deixamos passar, cair, junto com as estrelas que esquecemos de contar. “Never mind”, you would say, “très bien ensemble, ma belle, très bien”

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Flórida, 14 de janeiro de 2011.

Andréa de Carvalho

Français non plus?
Y tú?
...
vejo o esfumaçado de um azul discreto,
uma força que se dispersa, elegante e incerta,
mas já é o cair dessa noite que se amansa/
pela clareza dos meus olhos ofegantes;
uma textura que se mistura, um certo âmbar,/
diluído no seu peito arfante;
_esse seu peito.
nada além de um cello que se quebra,
não há tufos de carinho,
não há formas conquistadas no céu,
não há delírios de manchas ou rajadas súbitas;
no leito de curvas no cetim,
recostadas sobre um dos seus ombros,
suspensas, minhas mãos deslizam,
nuvens passam no bico do seio,
borram-se do seu colorido morno,
banham-se da penumbra que se faz gargantilha,/
rubis cintilantes no seu pescoço macio.
óculos largos, nele refratam o brilho adiamantado,
e o Valentino depura a exatidão no olhar dele:
_gatos, afinal, nos protegem dos que morrem.
ele me diz, "pouco provável",
enquanto me dirijo à sua mãe, e/
vou pedir a sua mão.
anéis, braceletes e até um brinco oval,
brisa, nada me comove quanto o relance magiar do garoto.
frisa, make-up concluído.
a luz do poste sincroniza-se com a valsa do menino,
o detalhe entre o soneto e as sombras,
o foco indireto no jardim,
os refletores no campo vazio,
uma capa fina em caracol/
que pisca e acena no pinheiro,
uma refeição às escuras.
meu perfume nas mãos dele.
em número de dez,
uma a uma,
todo o candelabro da bisavó:
ilumino por educação, apago, intuição.
prefiro o escuro dele, onde guarda suas jóias.
queimam-se todas as máquinas na casa de chá,
do bule para a insuficiência respiratória:
dezessete minutos, ou dias?
_a/ casa,
_é o/ caso,
_me/ casa?
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26-XII-10

André Feitosa

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

dois anos são, aproximadamente, 730 dias, 11 horas, 38 minutos e 24 segundos.
são também centenas de textos, uns milhares de frases, outros milhões de palavras, e bilhões de caracteres.
tudo isso costurado por imagens, desenhos, sentimentos e coisinhas bonitas, feias felizes e tristes.
são coisas dele, minhas, nossas, de cada um que lê.
são coisas.
belas. sujas. puras. oswaldianas e horizontais


Flores Horizontais
flores da vida
flores brancas de papel,
da vida rubra de bordel,
flores da vida
afogadas nas janelas do luar
carbonizadas de remédios, tapas, pontapés,
escuras flores puras, putas, suicidas, sentimentais.
Flores horizontais.
Que rezais?

Com Deus me deito.
Com Deus me levanto


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Florianópolis, 13 de janeiro de 2011.

Lara M. Guimarães

Florianopolais

J'adore, eu poderia lhe dizer
Mas é amor que sai dos meus poros
Je t'aime, então. Je t'aime!

Sua descrição é impossível:
as palavras são poucas
as imagens distorcidas
Nem o francês lhe alcança
Nem Monet lhe contorna
Um continente não lhe é o bastante
Mas uma ilha o cativa
Tenho vontade de tornar a gritar: je t'aime!
Mas meu grito se soma a tantos que, involuntariamente, entoa um canto, formando um coro

A harmonia, então, se instala
Os pares são feitos
Dois é seu número
Biênio é seu tempo
Duplamente qualificado: beleza e intelecto
Mas continuo só,
a despeito do dois
a despeito dos dois
Querer e poder
Nunca apenas querer, nunca apenas poder

Em duo eu começo: te amo
Em duo, finalizo: Evandro Brèal.

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Recife, 13 de janeiro de 2011.

Cláudio Fazio

aniversário

quinta-feira, dia 26 de janeiro, meu blog estará completando dois aninhos. minha idéia é obrigar pessoas que acredito muito especiais a postar algo nele...
será o que ela tem a oferecer...
o presente é sem escapatória...
já que faz parte da minha vida, vai fazer parte do blog.
...
é assim que tem sido, desde uma pretensa segunda-feira, até noites, tarde e/ou madrugadas subseqüentes, quase nunca pela manhã...
me coloco aqui, para escrever.... tentar algo. bom ou ruim, é o exercício, o estar aqui, ainda, insistindo... que acredito ser o que importa.

bom, aguardem intimação!

beijos.

ps. aceito presentes outros também.
a embreagem travou no meio do caminho. precisei andar, andei. o caminho era longo, joelhos doíam, mas que importa, se o real da vida é sempre o real da dor. não sabia mais. não conseguia pensar. sem palavras, a respiração era o que tinha e se escapava. o corpo falha. a noite vinha, a noite do dia, a noite na estrada, a noite do corpo. queria o frio, o frio da noite, mas era impossível. no quadrado mágico do sem nome, a vista turva, sem álcool, apenas mais degraus, sempre pra baixo. queria escrever como quem morre e se esquece. sem imagem, sem assinatura, sem rosto, sem esta necessidade de pontos e vírgulas. no sem-sentido do não-sentido. apenas liberando o corpo para os toques, teclas e cifras. poderia desenhar meu rosto? diga-me, o que lhe interessa aqui, em mim, nos corredores da minha biblioteca. eu sou mais mente que corpo. eu prezo pela mente, mais que pelo corpo. um corpo tem de ser leve para quem a mente possa pesar, pensar, pesar, pensar. todo o pensamento tem peso, para além das sinapses. há a dor no real. a dor que escapa ao desenho. eu que me escapo as palavras, como uma dor que fora do corpo do texto, não dói, mas insiste dolorosamente em se jogar às lâminas compostas de vírgulas e pontos. dilacerando a dor na dor que não preenche o corpo, mas a página da dor. a dor como um dado. como perfume e presença. a dor anônima de uma carta dentro de uma garrafa lançada ao mar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

s.f. pl.
conjunto de sensações físicas e ou psicológicas dolorosas,
geralmente intermitentes (ex: dores de cabeça).

sempre tenho os dias que são insuportaveis para dormir. a noite quente, insetos, o ruído insistente do ventilador, com música, sem música. piano, violino: dor. a cabeça dói, pesa, lateja. no canto da boca um corte. cloreto de sódio para estancar o sangue. solução à 0,9%. afogando o fantasma. na cartografia que alucino descubro uma estátua em são paulo, no centro de são paulo, busto romano em cobre. não sei se gosto de estátuas, mas na dor que pesa como pedra, precisa ser moldada. mais perto descubro outra, quase serena sereia em marfim. quase o mesmo peso de vida. nem meio século. longe, ao longe, no horizonte, num parque aberto à niemayer, outra. é bernini quem me seduz em e volutas. há a necessidade que o corpo se apague. o vento mecânico é que me abraça. você perdido na stazione di tor di quinto. a boca sangra, o gosto ocre na boca, a fronte lateja. quem me colocaria para dormir, no silêncio da aurora que se abre como crisálida para mais um dia quente. insuportavelmente quente, mas é uma segunda-feira. sempre insuportável, como o correr dos dias. em algum ponto há sempre alguém que vence, ou o corpo, ou a dor que se põe e se encaixa matemática e geometricamente disposta no corpo. me pergunto: qual a imagem do pensamento na dor?

sábado, 8 de janeiro de 2011

pequena não-aventura

raramente lembro dos meus sonhos, porém hoje ao acordar, não que tivesse sonhado e lembrasse disto, mas tive a sensação de um sonho. o ventilador fazia mais do que barulho, margeava o tempo, marcava o tempo, o tempo como tempo e o tempo do próprio clima. minha mão esquerda adormecia, a ponta dos dedos formigava. eu caído no fundo rosa, sobre o lençol negro, seminu. não sei o que encontrei. não era de todo um sonho. não poderia. mas estava ali tocando o delírio do jogo real que a vida compõe. talvez eu devesse ser mais objetivo quando escrevo. só talvez... você não entende e não atravessa minha floresta de signos e significantes, como um herói de cavalaria medieval, um cruzado pronto para o desconhecido em sua armadura de fé. diante do olhar clínico eu serei apenas um sintoma, mas de que? insetos me picaram. dom quixote contra o corredor escuro da biblioteca: o que ele vê? eu me prendendo nas letras, tão reais, ali, sombra negra e fundo branco. esta imagem tomada por carne. esta imagem sem pecado. é preciso talvez inverter um pouco de lógica, se você acreditar, se deus é capaz de milagres, o diabo também o é. sem grandes limites de onisciência. ninguém pode saber quem ganha no final. reminiscência: todo deus é um deus que falha e fala e fala e fala e delira. estou cansado. não como das outras vezes, não apenas cansado, mas exausto, vazio. saco plástico ao vento. o que eu olho e não vejo? gostaria de te desejar boa viagem, mas os teus quilômetros. você não admite. não sou livro, além disto: "bom estado, bastante amarelado devido o tempo, com o nome dos antigos donos carimbados, mas nada que impessa a leitura, algumas marcas na capa e folha de rosto, alguns desenhos em espaços em branco, ilustrações riscadas, mas com alguma história nas outras páginas". mas eu queria aqueles olhos distantes, o rosto armado em fibonacci. produzindo este efeito aúreo na proporção de meu tato, sensível à enésima potência. mas você está longe... também olha o mar. eu olho o mar. olha o teu céu. redesenho minhas constelações. desenho quando as palavras escapam. eu queria dizer do que gosto escrevendo isto na superfície da tua pele numa língua intelegível. a mão esquerda coça, o suor desce pelas espáduas. estou só, entre os lençóis, não sonhei. por algumas horas me esqueci. o corpo de olhos abertos nada via, era o silêncio posto no vento varrendo pra longe todo e qualquer pensamento.


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

(para Andrea)

com uma gérbera sobre a mesa.

a mão ao longe, quer tocar a lembrança. dois por dois. sem 3x4. você valsando na vida, eu saltando os percalços. salto, pés, pontas. um corpo lânguido que cai ao abraço. esta era a nossa dança: a dança em que não eram os corpos que se tocavam, mas os olhos que de longe, insistiam em longos beijos cíliados. e no fundo dos olhos, onde habita o desejo, um colorido de flor, um colorido de flor sem perfume se abrindo e beijando, com os olhos, não a imagem, mas os olhos do outro corpo. como quem sabe o que busca, sem almas gêmeas, apenas um olhar insistente, que não fala, não grita, sussurra em intermitantes piscadelas quase que código morse. eu ainda sei o que dizias. só posso dizer que "eu também"... é... eu também... é isto que as batidas no peito insistem e que você só pode reconhecer aqui, na espera do abraço em tempos aberto, num compasso sincopado, dois por quatro, leve e síncopado desta escrita frágil e trêmula que sabes que é só tua.

no fio da navalha

hoje me entreguei ao barbeiro. rosto posto à prova. rosto posto à lamina. descola isto de mim. limpa meu rosto, na superfície dos pêlos. na fuga da pele. nisto que apenas dói e que irrita e irrita. me abraça? preciso de ti ainda. não foge. você e seus mapas. o barbeiro descobre o mapa do meu rosto, mas erra o sexo e a idade. o fluxo se perde. não há rio. sequei as lágrimas. a pele arde. meu peito arde por ti. não por ti que deve estar pensando nisto, mas justamente por ti que não pensa. em trinta segundos escrevi ti por it. não admito você como uma coisa. eu preciso amar com meu cérebro. você contentaria com isso? ele lava meu rosto. não me encontro no espelho. vou para rua. ainda chove. corro e apenas isto. sem relógios. você no meu horizonte distante.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

no fundo da noite escura

sinto que você se afasta, descendo as escadas silenciosamente. sem nenhum cartão. nenhum post-it explicando. nada. silêncio de quem foge. silêncio de quem esconde o rosto.
onde encontrar este retrato...
você não entende....
eu aqui.
giro. apoio. os pés doem.
eu tive um sonho e você estava nele.
mas a noite continuava assim.
sépia, sempre, seda...
nos sentidos aguçados
sempre que tentava te beijar você fugia,
quando cedeu ao desejo.
não acordei.
cai no turbilhão do desespero.
sonhei que sonhava o teu sonho desesperado.
desenho, linhas abertas...
onde te encontro.
em que curva aberta?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Coda de Odile

"estou aqui no escuro, ouvindo a chuva infinita.
como seria bom se você estivesse do meu lado..."
(para além de Salinger)

talvez não devesse, mas preciso ser preciso. assim: bisturi na mão. tocando o corpo. o meu corpo. dizendo disto que vive em mim. dentro de mim. preciso ir a lavanderia, mas ainda estou de cueca sobre a cama. abandonando ao sem desejo dos lençóis. abandonado a esta sombra que palpita. é meu pensamento que gira fazendo voltas, tempestuosamente, atravessando o limite de trinta e dois fouettés. você passa na minha vida num eterno glissé. talvez como karpakova deixe sempre à desejar. mas queria, assim, o teu beijo da manhã. largo e maestoso, antes do café. onde estaria você? tenho apenas 30 horas presas no mapa. o deslocamento é algo que se expressa sempre fisicamente. como posso pensar? não sou um cisne. sem tutu, não banco o nobre fantasiando-se de goethe mascarado de camponês. eu li "gautier, théophile" com meu corpo. estou doente agora. há a tosse, tosse, tosse. e o silêncio. meu pequeno príncipe não está ao alcance da mão. ainda terei o adiante da torre de marfim... iniciais gravadas na seda do robe-de-chambre na altura do peito. sempre há mais escadas para descer, mas só aprendi a subi-las com cortázar. eu não sei fazer promessas. eu apenas sigo logicamente estes signos abertos na minha cartografia. eu entrego, apenas isto. sem rosas ou laços ou taças ou exigências. um livro que se folheia como um corpo que se entrega ao abraço. o que eu encontraria no teu beijo? a catedral é ampla, os sinos é que ecoam ao longe. sempre mais, sempre ainda. eu aqui, à beira-mar do desespero, tentando te encontrar neste último raio de sol, talvez levando meu recado ao parque sarah kubitscheck, como num verso de piva. indo, como sombra na direção ulterior do sonho. eu insisto: me dá sua mão?

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

abrindo o mapa

"Each of his phrases was rather like a little ancient island,
inundated by a miniature sea of whiskey."
— J.D. Salinger (Nine Stories).

a taça de champagne rebrilha. onde você está? desejo o pôr-do-sol que desenhei. não me desdenhe. não exijo nada. apenas esta calma que bate como onda. me empenho em descobrir clarissa no divã, batendo à máquina. descubro-lhe a história que chega com nomes trocados e corpos roubados. ela é um espelho convexo, a sombra num ponto cego. um exercício de anti-lógica lógica. então: entre solteiros, casados, viúvos e divorciados, pais de trezentos filhos... o muro. no silêncio que arrebenta nas pedras, a espuma doce das palavras. o sonho que eu não sonho, talvez eu possa viver. é assim que os pincéis pintam uma face. camada à camada. primeiro o entorno dos olhos, desenhando o horizonte finito de um ponto de vista. o pó como nuvem que tinge a face das cores que ela possui. sem deleites. o desejo posto num lábio opaco. eis o quê o espelho devolve. sou solteiro não porque eu quero, mas porque os diamantes se quebram em menos de três dias. o cérebro revira e revolta sem o porquê. continua desenhando este horizonte. sem leis. ali onde você ainda se suspende e reencontra outras bocas. aqui onde eu apenas mastigo mais uma barra de chocolate e abro um quebra-cabeças de mil peças que nunca irei montar, mas que abro para perder: à mim e às peças. sem graves crases. você não entende. te escrevo em breve. sem partidas. sem cristais quebrados. não faço nunca promessas. nunca faço projetos. a vida é. a minha matemática finge uma narrativa. abraça de leve na distância o que te envio, lacrado nas letras deste envelope que não vejo e sem pétalas de flores, mas um silêncio perfumado de quem sabe apenas olhar e esperar.