um pouco zonzo, talvez meio-bêbado (...mas não foi nada, qualquer coisa, com muitas pedras de gelo...), de cueca, rolando pela cama, sozinho. aqui. ele toca, a mão fria como são frios os desejos da madrugada, o relógio pensando em alguém [1h39].
acorda, precisa acordar. reorganiza os acentos e os papéis. fuma lentamente enternecido, a boca rósea e de delicada, arte feita lacuna, o pescoço esgui inclinado neste abandono solitário das 5h39.
precisa correr. cabelos ainda molhados por trás dos olhos sedutores. um belo corpo. algum dinheiro nos bolsos. a noite mal se aquece e mal se esquece ainda nos longos cílios de felino caçador [23h39].
boceja, devagar o alvo do corpo se deixa descobrir por um ombro que se despe de penumbra. tão vulnerável na companhia feroz de um relógio em que o luminoso insiste. [04h39].
sonolento. sono. lento. tudo lento demais. o corpo tem pressa, mas não vai. o frio emperra as pernas. o largo dos ombros. a pele oculta pelas peles nobres. o carro que espera. [7h39].
cansado. o apartamento vazio. o microondas zumbindo enquanto ele toma uma ducha fria. para relaxar o corpo. a mão ensaboando o corpo, tocando. as linhas bem marcadas de um corpo tornado desejo. o cansaço se agarra a pele. apesar de tudo, no rosto, insiste um jeito manhoso, meio de garoto, meio de mar [20h39].
o sol segue. meio alto. 1,90 m. a fome ainda aperta mais os olhos. os temperos já começam a chegar ao pequeno nariz. tão delicado... e de gestos largos. diante do computador só resta esperar. [1h39].
os pombos não voam. as estátuas de anjos velam os silêncios. todos os santos o protegem. o tempo virá. devagar. no fundo dos cabelos negros esconde alguns sonhos. dentro de si, como marteladas no cinzel, o silêncio dói devagar. [04h39].
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