segunda-feira, 30 de novembro de 2009

elevador

[1 andar] olá? câmbio? está lá o que vejo aqui no espelho fosco?
[2] ainda? como? talvez? pudera?
[3] fecha o zíper, tá aberto.
[4] corre... pega isso... olha a bolsa
[5] que pessoa feia!
[6] que pessoa linda!
[7].................................
[8] dentista!
[9] abre a boca aí... ain.. não responde. beija logo.
[10] deixa de ser mediocre. (pratos voando pelo corredor).
[11] silêncio sepulcral.
[12] terraço
[13] azar. o cabo de aço solta. o abismo.
[térreo] .

Por um contra-conto de fadas

meio shakespeare, meio kerouac... o conto de fadas é assim, quebra cabeças, pula janelas, roubando diários, cartas e incertezas. o canto suspenso de um castrato sereia lançado na noite. ulisse se abre como cadáver na escuridão. e apenas isso.
não abale a dança. não acabe como 2 adolescentes idiotas. assim, desejo aberto. segredo velado. um pouco além da história. as coisas mais complexas se resolvem, não apenas o simples desejo.
quem assina isso é a princesa que nem se importa com o que deveria ser relevante. faço meus calculos, dobro algoritmos e penso no espaço. os astros são o futuro.
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Comentário a: http://esquecodemim.blogspot.com/2009/11/conto-de-fada-pos-moderno.html

cinema em sépia

uma valsa abre a cena. em neve, seu rosto gélido se arma. eu aqui escorro, lentamente, com meus sonhos. água. uma torrente de água me atravessa. minha maquiagem sem selo de 24 horas, sem fadas e sem sinos da meia-noite se desfaz, manchando a página, o rosto. eu queria poder acreditar no que diz. eu queria saber que me entendes. sem mãos na testas, sem me pôr no limiar da espera, sem escutar com copos atrás das portas. sem carregar junto ao peito a chave para aquele baú que eu sei que tu não desejas. me desculpe, eu não o sei com certeza. tenho um último aviso. me traz um dose forte de uísque, conhaque, qualquer coisa que me tire este gosto azedo de champagne. eu não quero mais o fino das taças, as bolhas, as cortinas. eu quero o papel velho e úmido pregado as paredes deste submundo. uma cena em vermelho. acho que esta na hora de uma triste despedida. nossos relógios são díspares. eu sou tão francesa, nos saltos, nas rendas, nos leques, tão século XVI, feita em molière e ondulada por vivaldi. tu saís meio à byron, cacofônico, inglês... sem tanto refinamento, eu diria americano, com um sotaque obscuro, de gueto... bem vadio e cheirando à rua. minhas cenas são quadros armados e assinados por gênios tão grandes que teus salões não saberiam o valor. tu te constróis na cópia, na sedução alucinada que não difere uma conta de uma pérola. eu queria poder um pouco mais apenas sobreviver ao contágio, a este contato que fere minhas luvas brancas. eu quero minhas poltronas tão intocadas quanto minhas cortinas. tudo é essencial ao meu cenário, não apenas o alvo de um sorriso. não apenas uma palavra que tu não sabes o que significa. o que apresenta, o que representa este meu gesto tresloucado de lançar minhas porcelanas azuis de encontro as paredes... ora, eu que me empenho em estar à altura das minhas cortinas e de meus rodapés. meu sapatos doem... eles nunca doeram assim... minhas carruagem afrouxam as cordas, meus violinos arrependam como meu coração. as notas se perdem... não é possível salvar nada, nem mesmo meu busto para minha lápide que outros olhos jamais entenderão.

domingo, 29 de novembro de 2009

copo d'água com açucar

assim, me dizes o que eu quero ouvir. eu sei disso. eu não poderia. o batom redesenha os limites dos meus lábios, que assim, serão teus. como estas flores. estes gerânios na minha janela. me abraça assim devagar. eu preciso aumentar o volume, da música, dos cílios e dos cachos. eu sei que é impossível. eu deixei a carta que te escreveria em suspenso. eu irei assim, de longo, cetim e pérolas, buscar o que me prometes. arrumo os brilhantes nas orelhas, prendo os cachos com um grampo de ouro e com um pequeno rubi cor de desejo. meu peito arfa no corpete, apertado os seios sobem com o rubor das faces. o cabelo não resiste ao vento. é impossível manter os ares de estátua comportada. o salto machuca, fere, como a vida. eu espero que tudo dê certo. alguém derruba uma taça de vinho no meu vestido. um pouco de raiva, não há nada que eu possa fazer. assim, manchada, me entrego a ti. espero que veja para além do doce da minha pele, que sinta na ausência a devida presença. eu quero a ti, sonho, nuvem, distante estrela no meio do deserto. tudo tão lírico e tão marcado. tudo tão planejado nas páginas desse diário. meu pensamento se aprisiona e se entrega, sem medo, como meu corpo de pêlos eriçados no desejo deste largo abraço. armo o conto de fadas. fecho as cortinas para sonhar um pouco mais. bebo três goles dessa fábula, adoço os corações com as rosas murchas. sobrevivo. assim, diante do espelho, espelho meu.

proibido

"ela sabia o que dizia ao ler no rosto dele o impossível de mim. só restaria o crime, para o qual eu não tinha coragem."

tu foges aos abraços, escapas pelo vão dos dedos. armo a cena impossível, quero te inserir nesta biografia tão fingida, mas tão minha. neste roçar de peles que ainda está lá. longe, oculto nas dobras das pálpebras. assim te faço imagem e retoco nesta minha galeria de tentativas. ao lado, sempre ao lado, na série de tentativas. há um vaso, um quadro mal acabado, uma estátua quebrada, uma maquete e um projeto de vida. pensava na minha pequena criança, tão distante e tão selvagem.
ao mesmo tempo, na chuva que caia, nos olhos cegos bem-fazejos daquela cigana que proferiu minha sina. uma sina de monstro sem campanário, mal-fadado à luz do dia. entre-disse aqui e pediu meu coração imerso numa taça de vinho. não sei se teria coragem para oferecê-lo. mas gostaria, aos teus olhos morenos, lânguidos que eu almejo.
tocaria talvez um tempo a mais, um beijo a mais, uma certeza a mais.
eu não te devolveria esta verdade minha. tão fingida quanto um postal
no entanto, seu eu tornaria, este capítulo, agora rasgado. cansado, eu faço do impossível a minha ficção, que mergulho em café romano, entre os livros, numa companhia que ainda quero libertar.
e, assim, ensinando, à francesa, como se seguram os talheres, como se parte um sonho sobre uma refinada porcelana, abro diante da mesa a carta. esqueço o menú que se seguira. mas abriremos, orientais, nossas espadas de samurais esquecidas a um canto, te ensino a devorar. faremos deste peixe, uma posta, uma aposta última. escolheremos o perfume certo, a roupa certa, os astros certos. te ensino um pouco do meu crime de verdade, você sabe, é possível, mas para se proteger terá de sacrificar o outro, para estar assim do jogo. entrar no jogo é poder perder, sair ao controle, cavalos selvagens correndo rumo a desfiladeiro. ainda podes aprender. mas desfruta ainda destas sedas e destes aromas, não é o momento para um cadáver. é preciso, sobretudo, saber se entregar inteiramente, entregando apenas uma parte de si, conservando as outras intocáveis. algoritmos de desejo que não entram e não se enquadram na cena. eu queria te poder ensinar mais do que esta página murmurante num francês velho, sem gemidos, mas de palavras contidas neste cadeira de balanço. mas não quero que vires monstro, flor ou estrela. para além do naufrágio, deste lance de dados, quero entres na poesia e que a faças viva. é importante que notes, e só tu o sabes, a mudança das vozes que estão presas na minha caixinha de maquiagem. eu posso suspender as esferas, bancar o interprete supremo, apagar as luzes e reformar um espaço ordenando novos desenhos as constelações. mas sabes o preço, assim, gemido num agudo lascinante de não poder, de desejar sempre para além da forma perfeita, o efeito pérfido da força que tange rompendo os músculos, sem dor, mas ainda assim em brilhos que fazem surgir a imagem do fundo do espelho. eu simplesmente acredito, neste lugar outro, do qual só tu ainda tens esperança.

sábado, 28 de novembro de 2009

a balbúrdia feito lâmina fere. abre o pulso. revejo os calculos.
armo a viagem. sei de que, não sei porquê...
a cabeça dói aberta na estrada.
engole a fadinha.
recupera a fadiga.
abraça este corpo.
sustenta esse sonho apenas um pouco mais.
um pouco antes do pó...
da ruína
e do pesadelo

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

debaixo dos trilhos

" Pêsames. n.b. acidente aconteceu. volte logo. af. G. F. Handel".

a trilha se perde. bússola na mão. o desejo diante dos olhos. ele exclama as horas de um dia nublado. não sabe, nem se quer se daria ao luxo. o telegrama sobre a mesa. as notações do dia sobre o piano cerrado. debaixo da cauda, o diário oculto.

...um dia qualquer...
tenho raiva das cartas que escreves e não me permite ler, dos bilhetes perdidos que encontro e te diriges a outro, e a outro, mais um, entendo as coisas numa linha que não me agrada. eu ainda assim preciso partir para me encontrar mais uma vez.

incompreensível a escrita disso. irrecusável o desejo. mas ainda assim, se não me dizes claramente, como eu o saberei. nesta carta vendida. assim, aos trapos?
queria aquele verso que deixaste oculto num dos milhões de de livros da minha biblioteca. eu não o encontro. nunca o encontrarei. assim. como marcar a página certa, como virar a vida ao avesso?
há os pêsames, bem marcados. lembro de quando te encontrei carregado de papéis, aliás você sempre andou assim, na londres fria, em plena estação victoria ou era oxford circus. não consigo lembrar. agora aqui, num verão estranho, você sabe como é o verão continental, bem diferente das ilhas, dessa tua ilha para aquela nossa ilha feita de trópicos e sonhos. mas e se eu me recusar a ir para esta ilha? ilhado eu me sinto desterrado. agora, aqui no labirinto da gare de lyon, aprisionado na saída da pequena ilha, do zero de mim. eu recebo isso. assim, cheio de flores murchas, como meus sonhos. eu quero te abraçar, mas não como um puro cadáver. assim... o trem vem, lanço as flores. cansei. quero voltar pra dentro daquele quarto, apenas, entre as cortinas vermelhas o peso desta coisa feita eu. talvez pensar em deus, uma única vez ainda à espera de algum milagre, a saint-chapelle tem as portas travadas, como meus olhos. eu só queria uma única certeza.
é o que me resta, na pena, ter de escrever em tua memória, com o resto de mim, esta lápide.

Copélia


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

será agora

quando eu penso eu penso, e apenas penso, penso em ti. tranço as mãos nos teus cabelos querendo assim saber de teus segredos. há um resto de vento preso nos meus olhos forçando a fonte amarga que mancha o espelho d'água com cores de melancolia. retiro, uma a uma, as dores ocultas no fundo da gaveta, afrouxo o laço de cetim das cartas não-recebidas. o que falar para não perder este vislumbre tão desejado... eu te queria e isto apenas. provoco tantas cenas e subo três tons que me penduro nos acordes num desvio, ali onde falha a voz, justamente quando... eu queria poder dizer. não sei se gargalhas de mim quando apenas passa. eu posso cortar as recordações, me perdendo nas lembranças e ilusões. há um charuto, um vinho encorpado, um bilhete oculto no bolso do paletó. as minhas pérolas, acabo de as perder num lenço de seda. não acredito na eternidade, os séculos pesam na minha idade. aprisiono estes cisnes e os afogo entre papéis, cartas, postais, diários, tanto pedaço de mim, talvez mais importante que este velho e suado corpo que insiste em gritar tão somente quando o grito não sai. minha ópera é desenhada nos passos nômades de uma cigana dançando, e na dança, inebriada de mistério, luz e fogo, castanholas tirititantes, se descobre sozinha numa noite em que a lua foge ao cenário, sem magia, restanto desolada no meio de vultos bêbados, continua a dançar, como se este último gesto pudesse ainda salvar a música, impedir o silêncio, invocar uma nota a mais, uma nota a mais, e mais... o instante cai como chuva. um dia é preciso silenciar. por isso fecho os olhos para sonhar, ainda agora.

crime

quando penso na escala e na escolha do tempo, eu sinto apenas algo mais, vibrando abaixo da pele, fazendo amor ao rés do delírio. pegue as malas e vamos. antes que os vizinhos acordem. desce os degraus. depois de tudo restaremos nós na estrada. as papoulas não murcharão na minha janela, mas não me importo, não estarei aqui. guardei este resto de luar apenas para isso. os portões rangem, cães malucos atacam o lixo da madrugada. talvez seja um pouco perigoso e estranho. mas, querida, não precisamos disso antes que como nomes tenhamos perdido os rostos que deixamos aprisionar num rembrantd ou velásquez. mas esta noite há apenas o caminho dos muitos caminhos. talvez, só por agora, pulando os interditos. (não esconda a angústia neste rosto rubro de medo, nestes olhos ansiosos e sem sono). talvez possamos ser livres só por agora, enquanto nos acorrentamos à esta escolha. vem, corre, o táxi espera no dobrar da esquina.

cabaré

o bar gargalha. prostitutas aos seus postos!
hei você, não abandone seu copo... siga o corpo.
nós queremos você sempre, e é claro, seu dinheiro. ou ele sem você. a ordem aqui importa.
siga a risca minhas regras ou saberá o futuro as custas de uma marca de batom na gola.
eu não serei seu amor, querido. não me faça perguntas. não desabafe. talvez eu não as queira responder, talvez não queira te aconselhar.
não! tire as mãos daí!
sente o gosto da dose de uísque... vem beber lentamente o peso dos meus lábios, delire nas flores, mas não toque nas minhas romãs.
gargalhe à vontade, essa noite é apenas um acidente no percurso.
não precisas saber meu nome, não me importo com o seu.
tocas apenas a moldura que aos seus sentidos concerne entender. para além da maquiagem, não conseguirias seguir meus traços de manequim volúvel que se vende com as roupas que usa.
aceno e sorrio.
deixe... deixe estar... até o fim da noite o saxofone vai te engolir e, por mais que resista, ambos sabemos que como o amanhecer você vai cair.

Andreas

«deux ex machina»

abre esta caixa! libera a pandora de teus medos!
legionário bárbaro, roma se entrega à tuas mãos, assim, meio turca e sublunar, numa xícara com raspas de limão.
esquece teus mistérios nórdicos, teus fantasmas, brancos e distantes, perdidos na amplidão de uma noite para além da soturna treva.
acorrentamos teu épico no fundo do museu britânico.
escreve com teus signos secretos minha glória latina e gaulesa.
ouve a força do mar.
força teu coração à curva do rio...
se os céus não desabam sobre mim, pequeno atlas, é que os sustentas e sabes se rir num acordo diplomático (bem tácito) de apertar as mãos.
reconhecemos diante dos olhos o desejado inimigo. bem comum.
essa tragédia não tem um drama moral, mas um dilema estético.
o quê enunciar neste discurso de intermintências?
abre a janela, respira. torna a fechar. esc-quece.
toma tua roma, ordena aos teus escravos a última decapitação.
expulsaremos platão de nosso Império.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

costurando linhas

há coisas que são bonitas, e só. e aqui, à espera do ônibus, resta a rua vazia. ouço gargalhadas de desprezo ainda assim. eu sei que não deveria. prega este botão. há casas distantes como no fundo de uma pintura. estes lábios franceses têm mãos que sabem caligrafar solenemente n'outras línguas e espaços. não quero os anjos! dobro lentamente uma peça de seda japonesa com flores de cerejeira pintadas à mão. não há mais o corte. me abraça bem forte? um abraço e isto apenas. eu te dedicaria uma galeria toda feita em versos de dolorosas constelações. te contemplo no que resta de tua voz em meus ouvidos. a pele ressoando... tambores orientais. é um mistério isto aos teus olhos. abrir o clarão do verso, enquanto clareira na mata densa, rompendo os elos do aberto do meu pulso. duas peças unidas, aperta os olhos, afina o olhar, vê as marcas da união. outros ônibus passam. outros caminhos ultrapassam. esqueço meus passos. é preciso saber que algumas coisas são bonitas, mas não só. minha escrita se desmancha no ritmo turbulento do não ter compasso. te faço piano num abraço. preciso parar. é minha a hora. e, isto, também apenas. eu não preciso de um último suspiro quanto de um primeiro sorriso.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

between velvet curtains

i would give you more than just a blow rose in flaccid muscles. you fall asleep, just in your corner, abandoned to night perpetration. i draw your impossible face in letter and i know you are angry with my silly expression in the mirror. i feel your cold breath in my neck. slowly to devour my bloodness heart. gently incise in my affliction with your silverware. i touch my ankle and i offer in the kiss (impossible to give you) my venom. it is open in the walls marked with hieroglyphs pearls and enigmatic petals: with pleasure i delineate with my teeth-trait upon your skin. the real blazon printed in your dulcet surface. I do not want this rough policies. the chaser ermine surrenders to the guillotine. hangman’s hands. but, i break my torment, as print, still life.
I'm sitting, nude, front, with large open windows, with wind whispering secret and banned words. it profanes my flesh (and i still think about you, my shining star) and some dream butterflies and shooting star courtains draws me. i, among fading violets, declare, more, even, i want you.

entre cortinas de veludo

eu te daria mais que uma rosa distendida em músculos flácidos. tu dormes, aí, abandonado aos crimes da noite. desenho teu rosto impossível no papel e te sei zangado com um gesto idiota que fiz ao espelho. sinto uma baforada fria na nuca. devora devagar meu coração imerso em sangue. corta de leve minha dor com teus talheres de prata. toco o tornozelo e sacrifico meus venenos no beijo que queria se dar, mas não pode. abre-se assim as paredes em suas pétalas feitas de hieróglifos de desejo que desenharei com os dentes sobre sua carne macia. te deixarei minha marca. o brasão estampado no doce da tua pele. eu não quero estas políticas estreitas feitas de pouco senso e direção. o arminho caçador se entrega ao matadouro. as mãos do carrasco. mas agora eu resto, como marca, último vislumbre, sentado nu diante das largas janelas abertas, com o vento violando minha pele (e penso em ti, minha estrela) e uma cortina de borboletas de sonho e estrelas cadentes me desenha. entre as violetas que fenecem, declaro, na respiração entrecortada, que te desejo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

TOUCHanging flowers

“the moment I wake up...”


crash the vase. the storm water needs to be cleaned and I solve things slowly as someone who methodically takes off his clothes against the mirror. hands desiring to touch even bones. there’s words that can not be spoken, others, however, are more than needed. three, two, n-one. these flowers of evil hidden in your eyes. the lonely counter-attraction of hours. as a shadow you dwell in my bed’s corner. remains to be-lieve in the embrace. the kiss, at last, always wakes (me). flesh raises bristly. I feel your face’s brush in this deadly dream. must release the butterflies in these roses in these artificial roses

A menina de Budapeste / Henri Michaux

Na fumaça morna de uma baforada, tomei meu lugar
Eu sai, não renunciei ao meu lugar.
Seus braços não pesam nada. Encontro-os como água.
Isto que é fenece disaparece diante dela. Só resta seus olhos.
Longas belas ervas, longas belas flores cresceram no nosso campo.
Obstáculo tão ligeiro sobre meu tronco, como tu te apóias agora.
Tu te apóias tanto, agora que tu não és mais.


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La jeune fille de Budapeste

Dans la brume tiède d'une haleine de jeune fille, j'ai pris place
Je me suis retiré, je n'ai pas quitté ma place.
Ses bras ne pèsent rien. On les rencontre comme l'eau.
Ce qui est fané disparaît devant elle. Il ne reste que ses yeux.
Longues belles herbes, longues belles fleurs croissaient dans notre champ.
Obstacle si léger sur ma poitrine, comme tu t'appuies maintenant.
Tu t'appuies tellement, maintenant que tu n'es plus.

t(r)ocando as flores

«ao acordar...»

quebro o vaso. é preciso limpar as águas da tempestade e resolvo as coisas tão devagar como quem se despe metodicamente diante do espelho. as mãos desejando tocar até mesmo os ossos. há coisas que não podem ser ditas, outras, no entanto, são mais que necessárias. três, dois, nenh-um. essas flores do mal ocultas nos teus olhos. o solitário empuxo das horas. como sombra ocupas o canto de minha cama. me resta ser e acreditar no abraço. o beijo, ao fim, sempre (me) desperta. o corpo acorda, eriçado. sinto o roçar de teu rosto neste sonho fatal. é preciso liberar as borboletas destas rosas destas rosas de plástico

domingo, 22 de novembro de 2009

comentário ao coração esquecido

bem à Mme. B-Ovary

acho dolorido o espaço aberto no rompante do bisturi, assim, submerso na imensidão disso. imagine: médico vedado, um acaso. assim, coração na mão, palpitando e não mais. essa dor gelada que desce a lateral do peito e tange para as mãos vazias. algo resta para além do seco vazio. do murmúrio inventado do último segundo? nada importa, apenas isso, como post it que se cola como um sorriso parasita. e ainda assim deseja.

acordes

habitas o fundo espelhado das águas e não és sereia. como tocar a imagem desejada, assim separada, ao revés pelas correias. faço um brinde e esqueço o salut-ar. e soluço. te vejo assim, em meu sonho, nu de braços abertos e sem aperto. achado em preto-e-branco: um corpo feito linhas que saltam na escuridão do quarto. o sonho não poderá vir se o sono não vier, mas talvez o sonho tenha vindo antes do sono. mas, sim, só talvez. alguém ainda hoje ressaltou a cicatriz que se abre na pele pelos travesseiros. ah, o anjo travesso da marquesa de santos. sim, eu sei. mas não o toquei. eis aqui teu nome oculto neste sorriso lateral e explícito que me quer mal, muito mal. eu sei disso. impossível escolher quando nada se põe à mesa. quando no jogo as cartas são todas desconhecidas e presas no envelope se dão às combinações impossíveis do silêncio. como se as velas não soubessem armar traições. insisto em não escrever isso, mas lembrar do peito largo, da tez solar, três signos boreais de sedução postos para além da pele. poderias tencionar os meus fáceis e frágeis rastros. sei que não é isso que queres. nem mesmo d'um bilhete último cheio de sóis sois capaz. e te fazes nesta jaula de miragens ressonância consoante de minhas vogais coloridas. e isso é dizer tão pouco, tampouco és isto que insiste nisto que seus dentes escondem. eu que nem poderia dizer nada de minha noite passada. eu que não gostaria de narrar minha manhã (mal)passada. me faço em manhas e dengos para talvez resistir ao desvelo e desvio da palavra que eu sei que não faz eco. o eco se dirige, estas se prendem assim, no vão dos dedos. amorosamente. eu ainda reescreverei aquele grande poema que te dediquei no sonho, mas que é impossível de palavra, que se faz apenas no roçar das peles, no eriçar dos pêlos selvagens, assim, sem champagnes e sem requintes, sem monstros e sem grandes navegações. a bússola sempre sabe o caminho da deriva. apenas espero que estejas lá, na hora marcada, assim que os dados caírem.

raphaël sanzio

"visão de um cavaleiro"

sei que te ocultas entre uma ou duas cúpulas, entre as asas de um anjo sorrateiro, entre o cinzel que lhe escapa das mãos. sei que esta forma apenas ofende. sei que não te serás capaz de reconhecer aqui. mas ainda assim, a tentativa. um punha que risca o fundo do olho. eu tento não dizer eu, para dizer de ti. mas sou apenas este eu que diz de ti enquanto dormes em teus séculos santos. tuas madonnas são outras de desejos domados. dizes azul onde eu vejo em preto o gesto que se faz em mil e quinhentos sonhos. o preço da água sobre 15% em Paris hoje e é quase meio-dia. eu não sei de tua tristeza. abriga-te em teu manto sem segredos e sem códigos. eis o meu pequeno quadro, o retrato do meu estado. deixas me no estrado, assim em uma cena siena e sem idealismo. sem luzes. desenho aos poucos teu presente que não me saí, nem mesmo com as notas de um violino amigo. o arco preso a mão não me abraça em um tom, mas faz sutenido de meus temores. e aqui, nada resta daquele que fez temer a natureza dos degraus latinos e que de um ladino em pedra ausente se transpôs e que fez de cor apenas uma mesclado de sorriso e nada mas tem de mim, contigo.

inter(re)ferências

"em o tempo e o vento, encontrei um certo capitão rodrigo"

eu preciso achar um jeito meio de lado de te chamar. escondendo assim o teu nome num sinal. numa senha de roçar a pele. eu queria ver teu rosto, aqui, tão próximo. hálito rente a pele. esfriando aos poucos o desejo que se aparece em quadro. realidade. as coisas não se encaixam. eu poderia ler pra ti as minhas fichas, os meus encartes de obras raras. descobrir no sexto livro, o rodapé do abraço que se desfaz nos meus cubos de açucar. o lábio pode ser doce, mas ainda o será também o coração? ora, não te faças assim meio de godzilla na casinha da barbie. eu li num lugar amigo sobre os corações... não gosto das necroses. mesmo das que se abrem em flor. eu sei que gostas do verde que não suporto. não direi o teu nome agora. o nome que te dou entre as minhas constelações. espere, saiba do grito o momento certo. assim, me abraça, querido, dorme comigo... me pega no colo, caso eu adormeça entre os livros.

coxas nuas

a cabeça abre um rombo no travesseiro. difícil manter os olhos fechados diante do escuro tenebroso. fácil crispar os lábios e segurar um grito de dor. e essa mancha rósea que dispara de um fundo branco? o vislumbre do desejo se faz na pele. no desejo da pele. minha ciência sem príncipios não põe meias e não se traveste de príncipe. tem assim, nas linhas, o abandono solene e sonolento na cama, após as devidas vírgulas, pontos e travessões. a exclamação ficou ali, sus-pendida como um pêndulo. homem na forca. homem sem forç a. judas sem dono. sei que me engano entre estas penas de ganso. ou cisne. renuncio à alergia para toda a classe. o sortilégio não me afeta à distância. sabes onde encontrar o corpo? o avesso que talvez queiras do corpo? a armação está pronta nas rendas. unhas longas e dentes afiados. segura mais esta, querido. te protege, mas vem assim. de lado, do meu lado. dúvido da tua força. não creio no teu tempo. abro as torneiras e saio correndo. um traço azul marca na perna um longo descaminho. bem no meio. ao redondo. tranversal. como os pulos de hidroginástica marcados por canetinha hidrocor. hidro. nas águas resiste a hidra. corte psicótico de carnificina, mas cheio de porcelanas azuis. pede logo o bife! não resiste. não insiste, mata a fome com os dobrões roubados. a galé fica no meio da galeria. a vênus amputada abre no mármore, fácil, as pernas. perscruta-lhe as coxas, descobre a senha. o sinal... tatuada nas costas há a origem (em plástico) e as palavras de agradecimento.

sábado, 21 de novembro de 2009

xícara de café

"com muitos erres. todos os erres. para todos os erres."

abro a porta. a porrrta. se te ligo insisto. no teu r. voz lânguida deixada embaixo do travesseiro. docemente sem travessuras, toma o doce. este doce. um beijo de bom dia e um pirulito roubado. sem duplos sentidos. encontre o terceiro fechado na palma da mão. e agora? um cruzamento com um plus a mais. uma freada brusca de menos. liga os faróis e corre. fala comigo ou falo com tua mãe. bem simples, quase funcional. assim, com jeito. sabes que sei ter o jeito sem jeito de não ter jeito, mas com o qual sempre me ajeito. ruim, mas altamente sugestivo. ainda. quem falou que estou brincando? queria você aqui. entre meus papéis, imerso no café quente, de gosto quase lascivo. na ascese o café só poderá ser o primeiro e único prazer intelectual, platônico, senão homérico. imagético sorrindo e dizendo vem. o café entre-cigarros. nem sinto teu gosto perfumado. como te esquecer? comporta-te. aquieta-te num gosto forte de vodka. café russo. me encontra depois do último capítulo. depois do fim e antes dos créditos finais. eu ainda (só) quero o (meu) beijo (que me deves).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

recorte

há uma linda mulher sem seus saltos lacerantes, sem os cílios longos e negros, sem um bom corte ou um bom penteado. há a mulher com seus jeans e seu batom tímido. o perfume diário, quase que imperceptível. amadeirado. os cabelos armados por um coque travado por um lápis ali esquecido. decidiu não ter mais esperanças na superfície esguia dos dedos finos de unhas roídas. claramente sem nenhum esmalte. tentativa de não se esquecer aos desejos, mas sub-traí-los. o corpo quente queima sob o sol. camiseta branca. sem estampa. sem manchas. talvez nova, mas não de todo. o sol acentua-lhe as rugas ao maquiar a pele. gostaria, por vezes, algumas vezes, nos saltos, atravessar o salão no horizonte dos olhares. renuncia. ou antes disso, fora do tempo, atravessa o salão com outro rosto, feito origami. feito trama de papel. cheia de si quanto merteuil. cheia de medos quanto bovary. mas cheia de modos neste seu aspecto único. intransitivo, direto. todas as noites quando se esquece nua na banheira e no frio escuro dos violinos de seu gramofone, atravessa as manchas de tinta dos dedos, as linhas das palma da mão se apagam, os papéis esparsos, os pés mal-cuidados, cerrando os dentes vê apenas isso. não quer os efeitos para além da dor nas costas, a angústia que lhe infla os pulmões de ais silenciosos em agonia, o calo no dedo mínimo do pé esquerdo. o efeito é, ao máximo, a água quente a torcer-lhe a sintaxe das idéias, ao mínimo, o vento frio do ventilador que lhe arrepia a pele depois do banho. sem nenhuma história. sem nenhuma grande história. o mote de vida empilhado entre os milhões de livros de sua mesa de trabalho. as outras dores ocultas nas páginas rasgadas que jazem no lixo. o manuscrito não escapa impossível aos olhos que renegam todas as lentes. espera o correio. postal. mas o carteiro não vem às 4 horas da manhã, vem? não, creio que mesmo que venha, ou possa, ou poderia vir, aqui não virá. aqui não. assim, resta nua, sem os jeans, cabelos úmidos na temperatura abafada, ouvidos surdos pelo ventilador, no ermo de uma cama de solteiro, de lençóis amarfanhados, abandonada à luz indireta e fria entre o cigarro e o café.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

eu e o poço.
no fundo do poço.
no poço não poço.
não mais, talvez ainda.
me abraça?
a velocidade do pensamento não é a velocidade da iluminação.
Mas sim a de quando fala, falta e falha a mão.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

recuso a escritura. o corpo dói preso num aquário. ainda tenho que escrever sobre ele. o lindo aquário de fitas e cetins. perco a cabeça, erro as linhas que se contorcem no torto das minhas retinas. retinto os cílios. um gole amargo. deixa o pulso se esquecer. a máquina. a dor. o fundo dos olhos se perde no mínimo da escuridão.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ode ao Pianço

dueto com Aline Natureza

corpo suado
mão trêmula
não é amor, meu amor
passa com uma dose
de aerolin

terça-feira, 10 de novembro de 2009

cacofônia. o tropeçar das palavras empoeiradas. o francês saí arrastado. levemente atado, de olhos fechados. não saí: voz muda. não muda o tom, mas a altura. assim. do jeito que observas não vai. dê uma chance. não toca minha mão. não se pode. não dá. eu tenho rente a pele, atada a coxa, uma adaga fina e afiada que perfura lentamente as dúvidas. abre isso e escreve seu primeiro bilhete. larga a caneta depois do testamento. o codicilo inesperado numa lágrima que não veio. assim reprodutivel e facilmente imitável. cheio de clichês e maquiagem vagabunda. assim. meias rasgadas, saia curta: pernas saltando aos olhos.um fio de sangue na gengiva. raiva e fúria. deverias entender, mas não sabes ler, não como eu te ensino, não como te faço crer e ver que não há nada aí a não ser o muro. não salte o muro, depois dele há outro, e outro, e outro, e outro. assim, tantos e impossíveis como estes assim. resta uma caligrafia. calígrafo calma que se abafa na noite, com uma lua recoberta de burca, olhos misteriosos, calando fundo na escrita. um nome em sangue. dragão aberto, insígnia dos teus desejos platinados. os rostos que passam. as coisas que não acontecem. tudo arrancado e pegando fogo com os jornais e diários. tudo. até mesmo isso. sim. não reclames. tu já sabias. era assim que tudo deveria restar. restando no eco o fantasma enquanto desenho animado. caricatura com dor de cabeça. maquiagem borrada. não me importo com os desenhos nas capas. abandona teu missal. a água lustral banha o corpo com outro corpo de pecado. resta assim. só. a palavra e o eu. nenhum e sem direções. vontade de. e não mais.
eu esvazio a minha garrafinha d'água. lentamente como quem respira um pouco mais do que deveria. a torção e a tortura: água. tudo que molha o corpo, molha nas marcas. vem aqui eu te mostro o que tu não deverias. eu sei. pinta o quadro e sorri. é monalisa.o quadro: um dos leonardo. ele preso. atento. que e olha e geme devagar. preso na capa de mil revistas. um olho mecânico me mira. devagar e me despe. nus corremos. presos em números e sistemas. assim, não esbarra neste zero que eu sou teu um. vamos?
não me aperta. não me toca. não abraça.
mergulha em alcóol os teus segredos preservados...
uma pedra de gelo é sempre segurança latente. o bolso cheio
de fotos 3x4 velhas
como as rugas
que carregas
lentamente
e se descolam
e se apagam
frisando em gesso e mármore a sombra, o teu súdario último em pedra.

domingo, 8 de novembro de 2009

panfleto político AA

difamando o poeta:
não discursas
às portas da cidade
quando te restam as pedras
que fazes e refazes
nos passos
da paixão
não evite os acidentes
mesmo os em ão
mas não reduntas no gesto
nada
entende a metáfora
não queiras apenas o código
destas letras grandes
garrafais
o amor que é o amor
não rima com as gerais

entre o estilo e o espaço
sempre resta o estilete
para os pulso

repuxos ao gosto C.D.A.

há gestos que se abrem como um ramo de flor
assim, meio mina
meio selva
meio gruta secreta
o poeta observa calado
suas cálidas pernas
não pensas, Antônio,
e te fazes santo
o poeta precisa de um copo a mais
para um verso a mais
uma poesia a mais
não tropeça na esquina, menino,
vira logo
o copo
e as certezas
antes que te descubras,
na orgia,
posto entre uma sepultura e o aslfato
que lateja
o coração é sombra e sobra do relógio
grite e corra
leve os brilhantes roubados
os jornais não lembrarão teu nome
e não contaremos
a ninguém.

um chá

ele sabe ser indiscreto, diz o coelho pensante.


vênus assombra, tão perto. tão ali ao alcance da mão com o o pomo dourado. o enigma. que desejar? o que escolher. a luz pisca designando o impossível do desejo. um sempre menos na presença. um sempre ali, tão distante. um sempre não estar. mas não faz diferença. as verdades que não existes estão proscritas. alice quer escrever o seu romance. alice já tem 18 ancos. alice... tão em nada ingles com seus livros debaixo do braço. e sabe, afirma, são 7 horas em paris. e o que mais importa se não for o correr para encontrar páris em paris. tomando um café e fumando. tão francês... e tão bárbaro com sua barba malfeita. assim, homem, feito homem. nem mais nem menos. homem num terno que é à sua medida. homem recortado à imagem clássica. impossível de representar. toque esta pele. meu corpo vibra com notre dame. eu te levo comigo nesta fumaça...
o corpo quente, sereno, dobrado. três esquinas no largo de mim. escondido à nuca teu perfume. o brinco de pérola. o anel de noivado. como? alice deixa cair as cartas roubadas. seu baralho é feito de postais não enviados. fraca. mulher fraca e assassina de uma amor que não veio, nem virá, não pode vir.
resigna-se a este lugar no canto esquero da biblioteca, no banco do carona. janela aberta, vento afogando as vozes, explodindo nos ouvidos. anda. apenas. aqui cavalgando a escrita deste sonho enquanto não dormes, mas deveria. corre e percorre o teu corpo, simplesmente é teu corpo e nada mais. esqueça de rezar à cabeceira da cama, uma noite ou duas, para manter a sanidade. saiba que é preciso.
aos 18 anos, alice, muita menina já sabe maquiar os olhos com devidos segredos e mantendo a malicia bem longe da ponta dos cílios. é sempre necessário uma nota de malícia a menos. assim, desejo, as meias. todo o requinte esta num depois. corre alice, não esquece os diários.
me telefona.
cuidado com os círculos de paris. a cidade é a devora. guarda bem o broche que tua vó lhe deu. ele é único e só teu, como os sonhos. sente o perfume. deixa-te prender no livro que te leva. e vai. toma o chá e acorda. mas sempre tão tarde. e voltas a dormir.
eis o segredo. ali. três alíneas pra cima, naquele par de parenteses que só teus olhos serão capazes de ver. não morde a boca assim. não esqueça, criança, você já cresceu.

sábado, 7 de novembro de 2009

há um gosto estranho no ar. abro as cortinas, a luz beija o corpo nu deitado ao largo da cama. recluso nas palavras perfumadas de sonho, eis o que resta. o corpo e a luz. conto um segredo, assim de leve, como quem não sabe o que diz, mas diz a verdade última. preciso correr, o trem. aberto nas páginas que não sabes. não entende o múrmurio de minha língua impossível de jornais. te peço, não tentes. aquilo que sabes, que pensas desvendar, só tu tens a chave. agora saibas o porquê na última alínea de certeza. preciso correr, escolher terra e mar. a lápide gravada com apenas um desenho estranho. o aberto de mim para o nada. aqui resta, no fechar das cortinas, no corpo vestido de trevas.
o corpo evapora. devagar. com certo vagar as vagas constituem o vazio dos reflexos. abre as coxas vadias. voas nestas setas japonezas. abre as cerdas deste coração seco. das folhas secas, das páginas do diário, resta fazer o chá. alucinando assim, escrita abaixo. esquece as fachadas, abre o átrio amplo e largo das incertezas. que rompa os laços a gôndola do desespero. as correias de uma sintaxe impossível aprisionam a possibilidade deste perfume. esta imagem que aparece diante dos teus olhos nada mais é que sua própria miragem. este corpo que te toca o rosto e lhe dá conselhos vagos com ares de superior inteligência um dia se desvaenecerá. não altere o ritmo das coisas. não force as correntes. a ferrugem ataca máquinas e que será deste fantasmas nestas engrenagens?
o que você quer? pronto, diz-me. grita esta tua verdade. finge que sabes algo de retórica. este silêncio absurdo. estas dores sem razão. escondes, sombra, escondes este teu enigma que não há. nunca caístes no abismo. nunca te levantastes. eu sei que tu não há.

Mehr Licht!

chove através dos livros. abraça-os, menino, n'uma magreza filosófica de não-poder. no fundo dos óculos embaçados habita a dor revirada dos olhos sem fim. quê fazer quando nada resta. quê fazer quando a rua vira água. a dor no centro deste eu é puro vazio significante. tudo se constrói numa paisagem sincopada. o francês escapa por dois dedos. a chuva nem molha mais que a melancolia na qual imerge o corpo. a dor é de uma apagar das cores. a dor colada no fundo torto da retina descolada. a mão desenha no papel algumas letras. a gota fugidia escapa na fronte. a vida (a)posta num tabuleiro de xadrez. ele mira lentamente atira a pedra certeira. os gritos. o corpo calado à espera dos cães. a morte se ausenta da cena na soleira da porta. podes dizer? os fantasmas é que gritam. o pensamento é fino e escoa por um bueiro da avenida. não há motivo nenhum para salvá-lo. para prende-lo aqui. biscoito fino dedicado ao bolor dessas paredes. que sobrevenha a meia-noite. o inferno. tudo como um borrão de acaso se desfaz diante dessa realidade. chove através dos livros. o sangue que escorre do peito é tão barato que pinta uma linha última de destino.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

relevância zero. a dor na garganta. o ar condicionado. três abertos no pulsos. ela olha a tv. a tv engole o corpo alheio e se fecha em luzes. condicionadas. a sintaxe condicionante. o condicionador que não destrói. o hidratante e o hidrante imersos em água. nenhuma palavra. afundando nas almofadas, a morte.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

o homem dos livros

há um retrato de freud ao revés do homem dos ratos. a biblioteca define. papéis amarelos. livros abertos na profusão de pensamentos que se entre-chocam. ele choca de leve uma idéia preciosa. capas de muitas peles. n'um canto um crânio ritual. n'outro a caneca de café e o cigarro. ritual. uma dor que cresce devagar. do edíficio antigo mergulhado estranhamente entre os prédios. ambos solidários. solitários. tão humanos e deslocados. não sabe se sente saudade. aqui está seguro. entre uma vênus de milo, máscaras incas, ídolos celtas, budas, tapeçarias persas. o mundo que cabe n'um cômodo. ali. submundo da cidade. 3 andares entre milhoes de andares. degraus para o inferno. um quadrado dentro de outro. malinovski. olha timidamente o stradivarius, queria tocá-lo. não deve. as grossas lentes, já não tão grossas. talvez derivadas de um novo polímero, não sabe, não s'importa realmente. funcionais. não vai ao museu das novidades. o amplo templo de corpos expostos ao sacríficio do tempo. de perfumarias apenas, de fato, os perfumes de sua requintada toilette. sem entrar no mérito da questão. um dia, meio sem querer, leva o dedo à boca, à saliva, vira a página. torna a repetir o movimento nunca antes feito. risco. arisco. arrisco. um gosto de estrela lhe atinge o paladar. sedução de um coração-corpo-mente assim esquecida. lentamente, como quem prepara um filho para a devora, rasga o canto de uma página e leva a boca. o canto das sereias. ulisses e o cometa. cometa o crime. come-esse-caminho. viciosamente começa a correr nos círculos secretos da biblioteca, como se tivesse muitas línguas e bocas, páginas são destrinchadas e cruamente engolidas. de gourmet á gourmand. a língua passeia como lesma pelo salão. viscosa a mucosa se abre em flor. até que... cólicas. obsesidade. ânsias e vômitos convertidos num mesmo caminho. fuga. que fazer? o medo se apodera daquele corpo-caractere. um corpo folhado no silêncio abismado do caixote século xvii entre os prédios tão modernos. and clean. em meio a dor só consegue um resmungo de pergunta, assim com os olhos ansiando por um apoio celeste na cúpula repleta de anjinhos: senhor, ajudai-me, não importa o que restará de mim, mas apenas o que sairá através de mim. o quê? céus...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

a fuga da caixinha de música

j'oublié ma recherche.

sentada de pernas nuas ela observa. deseja desvendar o que se passa ali. no crânio do outro. a cabeça encovada dele se faz com cenáculo sagrado. cinematograficamente não diz. ela abre um botão do vestido nacarado. a pérola salta sobre o busto tímido. os cabelos curtos. os pés alvos. a mão na braguilha. os olhos disparam as setas. o corpo se faz todo em desejo. há um frio que sobe devagar a nuca e que como punhado de areia desliza sob as ondas de perfume deste corpo. sem nome. um assassinato. sem número. 37, diz a cinderela. tem jeito de querer um cigarro. bebe no puro cristal dos pés. o ventre palpita. o pezinho sangra em vermelho nada ponderado. extravagantemente real na cena em sépia. é preciso terminar o espetáculo diante desses olhos desejosos de meu fim. o perfil anguloso dele, à sombra oculta, finge que não observa. nem lamente. finge que não sabe que ela abrirá todos os botões do vestido e se descobrirá nua e sem amarras por debaixo dele. obviamente ela não fará isso. faz parte do sincero personagem que desempenha. deixe meu dinheiro aí, ao lado das flores que eu mesma comprei. o ventilador faz um barulho seco. sozinha. um jato frio no corpo. água com a temperatura cadáver do dia. encontro, enfim um cigarro. queria um charuto. gostarias, talvez? quebra uma unha por pura raiva, sem histerismos. sabe gostar dos tons de azul que despontam tão verdes dos braços. as poltronas vazias em torno. a passagem comprada. where will you go? de olhos fechados. to hell, of course. de olhos ainda fechados, nem sequer sonha, não se pode deixar cair neste luxo, em pé, fumando solenemente, nua, insiste em lembrar que os diamantes lhe machucaram as orelhas. o roxo de uma mordida anônima no seio esquerdo faz sinal. um suspiro fundo. o cigarro acaba. na última baforada como o real mais tangível desse 15º andar.

terça-feira, 3 de novembro de 2009


roman à clef

no key's novel.


meu rosto coça. os animais não falam. sinto o calor roçando a pele. queima. arde. confessa. é doloroso. meu rosto como plástico, enruga. deforma. queria pular. de um prédio a outro. isso é uma resposta? o cheiro de canela me invade. sempre forço e erro a mão, mas perco o pé. gosto de sorrisos abertos como asas de anjos. volta aqui. sei que não deveria sentir falta. seu silêncio. sei que precisava te dizer. alongo os sonhos e os cílios num desejo incolor que retiro de um frasco caro de rímel. deus proíbe que se diga tudo o que pensa. o elevador chegou. faço você ejacular, mas não dentro de mim, diz a puta loira dos cabelos desgrenhados. há um telegrama silêncioso. rock. empresa falida. pó. há alguém mais longe ainda. isso é estranho. ainda. e se você conseguisse pegá-lo? meu peito, é do lado direito que dói. esse é meu lenço preferido, é seda, sabe. a banheira, creio, é de estanho. a puta ainda grita e geme dentro de um carro roubado. estou começando a... e... eu sei que meus pincéis estão trocados. a máquina de costura une lábios. tu falas sério, formal demais, com palavras negras como este seu terno barato. luto prête-à-porter. as pessoas de meu país não entendem meus erres. roubei minha língua num roubo bem inocente. quase que angelical. sutil. de leve. como uma mão que roça um rosto que dorme sem sonhar. o dedilhado do piano diz que queria que todos nós fôssemos felizes. não quero chorar, não quero ficar feia. um torrão de açucar a mais, uma lágrima de menos. preciso de minha caixinha de música com minha bailarina. morde a maçã, minha princesa, e dorme. nem todos os roubos são ruins. a gente rouba beijos e copos. esquece o corpo perfumado no fundo da gaveta. no fundo do banheiro, no escuro do cômodo, no raso da banheira os olhos se fecham num poema. não insiste no grande segredo. apenas se esquece e dorme.
the novel with a key.