domingo, 4 de outubro de 2009

não tolero o ridículo desta imagem borrada. o lápis que escorre. o aberto da clareira não me situa nem dois passos adiante da catedral. um personagem escapa do romance. vivo. ainda vivo. a mulher de cinta-liga, tão sedutoramente construída, desfaz-se numa série de gemidos voluptuosos. e tão falsos. personagem coquete em meio a cidade grande. um corpo que rompe a linha do sono. não toleres os sermões, diz os sermão maior. a lápide da grande prostituta. tão bíblico e tão pecador. mas o pecado salva. aqui. nas curvas da escrita onde o dedo doce do Deus não pode tocar. roça o vento o rosto. um anjo roliço e rosa. pecado. a imagem que se desdobra nua diante do espelho. neste lugar de falta. anjo manco. l'ange est manqué. o que fazes acordado? a voz da tv engole roncos imaginários que soluçam nos corredores da casa sonambula. a luz da tela. desta tela em que me aprisiono imita o guia de uma iluminação maior. sem salvação. o cemitério futuro das palavras passadas se esquece. abro o albúm de fotografias. e tão lamuriente. chocolate. sorvete. doce. mastigar. morder. como o tempo faz com o nosso rosto e nossos ossos. a cabeça roda. a escrita inútil. tudo se torna inútil. lições de ética. regras de etiqueta. acentuação. sintaxe. sujeito. as coisas de puro lixo e resquício de um valor que é só meu. como passar com esta carruagem dourada sobre a infâmia. atropelando corpos e corpos. expurgando estes espíritos. num vislumbre último de cavaleiro do apocalipse que sabe que o único e legítimo crime de salvação é a própria morte. a certeza do vôo de pégaso. o suicidio. sem canto de cisne. sem gabriel e a anunciação. sem frutos. o puro e inútil corpo que despenca. devorado por um escolha. tão superflua quando as outras, mas fatal. e certa. derradeira. mas sem se fazer sacrifício na clareira. uma morte que não salva. que não significa. que apenas apresenta o corpo. a curva. o asfalto. os pedaços de pele e história descolados em 3 taças de champagne. um belo triângulo amoroso. prisma de uma incertitude. ainda insiste a pergunta sem resposta. o gesto óptico dos dedos que vêem. o eco supera o vazio e responde a sim. narciso subsiste. flor murcha. artificial. um desenho de parede de caverna. uma angústia de bolo de chocolate. um vômito arrependido. um abraço de porcelana e gesso no banheiro bem decorado. as lágrimas criminosas que não deveriam. as coisas que se intercalam nas páginas roubadas. o ponto não virá dessa vez. a escrita se mostra como força. a linguagem é um deus negro que monta dragões e devora-nos o fígado. pássaro nascido de nossas entranhas. sem passagens. as galerias rugem. os metros descarrilam. a alma cai. o corpo vazio. e olhos lânguidos. entre os cegos atreu e tiestes: tirésias é aquele que vê. roube esta fotografia. esqueça o corpo do crime. silencie a angústia. quebre uma pirâmide de taças. e deixe, ali, no fundo oblíquo do olho, a lasca de vidro que lhe fará não chorar. nem sangue, nem mar. ali, sapatinho de cristal congelando os sentidos.

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