quinta-feira, 30 de setembro de 2010

romance chaveado

para luiza ribas
& renata gomes

(Mais um roman à clé?)

capa negra. negra e luzidia. ana c. na delicada caligrafia. as páginas amarelas, talvez laranjas, diziam de um rosa mortiço. praça de londres. (mas estou, ainda, em lisboa). do divã finjo seduzir meu psicanálista, em toda sua arrogância francófona, ofereço meu sintoma ao desejo supeito deste olhar, tão alheio. codinome: katherine m. (...a white dress, a string of jade beads, green shoes and stockings. it wasn't intentional.). não mostro mais o nu do antebraço, no frio de lâmina deste teu gesto tresloucado, alimento, mas não me ofereço no piccadilly circus. Je suis une travailleuse du sexe, une prostituée, une call-girl, une escorte. jogamos no teu delírio soberano, entre os cachimbos e os charutos, quem aqui se paga, não sou eu. darling... não pulo as janelas. nunca morei na rua pinto azevedo, não sou uma garotinha "das suas", não sou de vila mimosa. te retruco na tua língua (desgraçado!). je ne suis pas une victime, je ne suis pas criminelle! o quê você não entende? sou garota bronzeada, copacabana, cinco estrelas e treze andares. sem assaltos. no divã: não barganho, faço isso, você sabe, você gosta. até saliva um pouco mais em determinadas frases. ainda agora sou profissional. teu divã não é torre de marfim, vem e mostra o peito nu, como que oferecendo-se ao sacríficio tão desleal de quem sabe trocar uma pura indiscrição por uma história bem datada. sua covinha na buchecha é tão (in)significante. isto é apenas negócio, pra ti e pra mim. então vamos rápido com isso? dá pra ser ou tá difícil? não preciso nem casar, sou capaz de tirar tudo de ti. sobrecasaca, gravata, camisa, cuecas e sêmen. presto atenção nos nasais: teu semên, meu hímen. sem imagem de flor: pólen. acho que é mentira e não começa. what can you do if you are thirty and, turning the corner of your own street, you are overcome, suddenly by a feeling of bliss--absolute bliss!--as though you'd suddenly swallowed a bright piece of that late afternoon sun and it burned in your bosom, sending out a little shower of sparks into every particle, into every finger and toe? sorria pra minha máquina, abra os olhos. para quem você vendeu seu tempo? abra as pernas, use a língua. tão menos que isso, me faça mais que meu motorista (... ah... osmar de dramas rápidos e intensos...). sem marcas. tem coisas que um cachecol não esconde e que luvas de pelica não permitem. sob signo de escorpião: londres: 1980. (caio saberia o que isto quer dizer). vamos fazer o que devemos, sob a pressão do momento, das sedas e das carnes, para que amanhã eu possa chorar que nem uma desapiedade no melodrama penitenciário, sentada na escrivaninha do quarto, depois da toalete. esquecer de comer, para não engordar. é tudo questão de dedos no lugar certo. de línguas usadas como se deve. trés chic. talvez possa até ficar considerando se não te roubo demais. "Oh, what is going to happen now?". faço descobertas óbvias e me espanto. você começa devasso e de repente dá coração mole, uma tremedeira tímida, não abre direito a braguilha. menino virgem, você? se não vamos deitar, vamos levantar que eu tenho fome. disfarço meu espanto que nunca vi. quando de novo? hum. toma suas notas daí, que eu falo daqui. insisto aqui. maquiagem sempre retocada na hora certa e devida. fim de sessão... but the pear tree was as lovely as ever and as full of flower and as still.

Um lance

俳句

na mão, talvez um caminho
três passos, abismo
- um destino suspenso.

jenga

(vendendo mais que armas na abíssinia)

qual peça você irá tirar? a cabeça? os braços? faça sua escolha. o que no fundo dos olhos negros refletia era sempre um mau pensamento, bad trip, quem sabe. 54 peças de madeira. preciso procurar um poema.(conectividade limitada). aquele poema que você dizia gostar. eu tenho más notícias pra ti, mas não posso dizer. insistia a mão que me entregava um ramalhete de flores murchas. o que irá cair? o que irá restar? qual a peça que de mim que irá me fazer desmoronar de vez. não sou trezentos e cinquenta. nem de perto. não funciono assim. 3x4. o amor é isto. simples assim, não vamos inventar moda. eu não tenho nada pra te dar. (o post it secreto que não posso entregar). não páro pra respirar. não penso nas horas. as horas... tão dalloway que sou em minha penteadeira. quanto tempo faz que não recebo uma carta? eu te pedi apenas uma foto. não mais que isto, para meus pincéis. tenho uma surpresa pra ti. não para ti. tão complicado estes deslocamentos, rimbaud (leia meu telegrama!). patagônia, querido... é minha pequena aventura. ilhas malvinas. uma garrafa de vinho, frio, entre inglês e espanhol. sempre sobrevivo criando minhas ilhas. é meu olho direito que arde. ainda. não deveria. não me ponho no jogo, não mostro a cara e nem dou as cartas. o que você ainda tem na manga? talvez um último romance, para ler, bem à los hermanos...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

caso idiopático

chove. dormir: cada vez mais tem sido uma aventura. meus olhos ardem: cloridrato de nafazolina + sulfato de zinco. cabeça inclinada. três gotas. meu nariz insiste em escorrer: mentol, cânfora e óleo de eucalipto. infusão. já posso ser considerado adulto? uma breve insônia pode ser associada à ansiedade. não sou dado a essas coisas transitórias. (você recebeu meu sms? não? ok. admita). o uso em crianças representa risco. meu sono é elusivo. acho que é hora de brincar de hipnose. vamos, entra no jogo comigo? segure firme seu relógio de bolso, certamente você possui um, coloco-o diante dos meus olhos... vejamos, são 3h33 da madrugada, isto deve bastar, não? tente descobrir com sua magia onde fica, ahn, meu locus ceruleus.é tão pouco o que eu exijo. preciso de um compasso para terminar de desenhar minha casa. é, sabe, eu tenho pensado nisto. mas não que isto tenha me tirado o sono. desenhar, milimetricamente, imitando o real, fazendo efeitos do real impossível sobre o papel, me cansa, me desdobra, nunca vou a lugar nenhum. no fim. esgotado, quase nos primeiros raios, desfaleço. será sempre preciso forçar esta pequena morte? ocupada quase sempre por pesadelos. por magias obliquas, em que assassino alguém tendo como arma a gioconda, ou desço por escadas tortas, atravesso espelho, toco cadáveres que falam. é estranho. como o significante nunca descansa. não veja atos regressivos aqui. qual é o limite para minhas janelas sempre fechadas? eu nunca me aproximo dos parapeitos. sem boderline.sem piercings. sem mutilações. (o ballet conta como mutilação?). no tatoos. não se devem jamais deixar uma criança fazer de um biblioteca um parque de diversões, no futuro ela poderá ter medo do escorregador de 4 metros de altura, mas jamais se assustará com grandes e empoeirados compêndios. poderia dizer que é a lesão posta em minha língua, literalmente, que me faz assim. falando assim. ou ainda, escrevendo assim. estou descobrindo como brincar de adivinhação com os ossos. quem sabe? xamã em um deserto longínquo, não dormindo para se acostumar com fantasmas. obviamente, é devaneio. impossível para este pretensa civilização que finjo integrar. cabelos alinhados, postura, passos marcados, soberania e desenvoltura. fino trato. não obstante, nas tuas gargalhadas é mentalmente que evito a ruga lateral que insiste em latejas no canto esquerdo da boca. acabo por movimentar as sobrancelhas.o significante, algum, sempre escapa ao controle.não caço mais ovelhinhas ou cordeirinhos. para fazer diffèrance batizei o meu carneirinho de derrida. eu durmo com minhas referências. pois bem, então, qual é o meu fator de risco?

Magia dos Primitivos

(Êxodo, XXII, 18)

8-3-4
1-5-9
6-7-2
As improntas das mãos sobre as paredes da caverna da gruta de Castillo, na Espanha, fazem-me contornar o símbolo mágico e me colocar entre homens e animais. Isto que se faz primitivo, disparatadamente num tempo primevo, enchendo as mãos nesta confusão de partes, na procura de armas eficazes, burlando a própria face disto que se põe em movimento e irrompe em luz e calor, através do atrito das partes, do atrito dos corpos, do grito da mulher que se deixa possuir no desejo bruto, ainda sem sentido, talvez não consentido, sem palavras fatais. É Orfeu quem insiste civilizando a música, não Apolo. Com meu pequeno punhal abro a mandrágora ao meio, corto-lhe o pequeno corpo. É daqui, deste pequeno outro, que em seu lugar, descubro o sonho ou a morte. Há que se liberar das servidões do tempo e dos serviçais do espaço. Os espíritos rondam. O que canta ainda na floresta? Para um mago, dez mil magias. Esqueço Michelet, penso nas mulheres nuas e seus espelhos mágicos. Alguém me põe a elíptica no corpo, encontro estrelas pulverizadas. Na origem não há mais Alexandria com seus alquimistas, brincando no limite de sua própria criação de la foule des philosophes. Você tem a chave para atravessar este texto em sua receita mais secreta? Em que palavra se esconderá o filtro mágico. É preciso entrar sempre no reino do diabo. E todos nós já sabemos que Deus está morto. Este não era o sonho do Dr. Fausto. Roubamos a palavra central do talismã de Agrippa. O meu corpo encontra o seu corpo para junto desenharmos o Zohar. Meu tarot está guardado na gaveta, não quero jogá-lo. Enganei o destino uma vez com os meus dados, pode ser que não funcione novamente. Quando eu tinha 12 anos lavaram minhas mãos com absinto, não sinto nem frio nem calor. Uma grande não-visão. Na contra-face de Knorr de Rosenroth. Sem correspondências.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

il fiume

(metalheart)

não sei quem escreve. il vento: ecco torna dal mare. un amour dans la bouche. guardiamo. (l'amour agile se leva). il fiume fuggì taciturno. ti a vinto la Sorte. il cuore che ci amò di più! per l'amor dei poeti, fuor dal cervello enorme e prodigioso... un ultimo saluto! (grida al morrente sole). ti chiamo... ti chiamo... di volutta e di dolore. una sol goccia del vostro sudore. tenero e grandioso. l'amour choisit l'amour sans changer de visage. é tarde. há todo um império de morangos silvestres e guerreiros mortos. três noites é tua voz que tenho apenas presente em sonho. qual sua recusa? il fiume va via taciturno... comme il cuore che non ama più. (che dice all'oreccio?). più... più... ascolta! il cuorpo dell'uomo si tende e distende. je te donne ces vers afin que si mon nom... pallido amor degli erranti. De mon désespoir! Vediamo: há um cartão suspenso que te espera, como carta ainda presa no bico da pena.

ma statue

Largo da Alfândega

quem me carrega no ar, feito abutre, feio asas impossíveis. eu já estive no parque do ibirapuera, não a noite, piva ou mário, não sei o que se passa. não sei fazer compras ginsberg. sempre esqueço minhas listas. não me deito à relva com estranhos, nem mesmo contigo whitman. nunca sei o preço de nada. não sei o que vejo. logo ali. é preciso pagar o preço para entrar. é preciso gritar na medida certa, para que a respiração se acalme. não há gramados regulares. apenas o jogo de ladrilhos, pedrinhas... não me associo com os artistas e com os transeuntes. não páro o trânsito. a noite me traz apenas o vagar dos passos suspensos na noite perigosa. meu poema não é rendilhado e nem traz quadrinhas. não ofereço pão-por-deus. siempre a las cinco de la tarde garcia lorca. amar-te-ei então alguma vez? famílias inteiras nas compras. corredores. vendedores. gritos. como me perturbam os gritos. os homens de dorso nu, as mulheres de pernas nuas. talvez seja o verão. talvez seja os trópicos. a minha noite é interminável. és meu anjo? és minha flor de girassol? não acredito em anjos. (sem rasgar veias).nem mesmo nestes que grasnam em minha janela. há garotos que engolem a flor. não acredito no amor que lava as estrelas cadentes e se esfria numa ducha. o que resta são apenas as pedras, os meteoros no chão. no meu silêncio eu não sei se te sofri. há no entre-dedos palavras que não querem ser escritas. não quero estar ligado a este Desterro. sei pagar o devido preço. eu, a solidão & os gatos selvagens. para depois abandonar tudo ainda mais uma vez. não gosto das praias. é o relógio oblíquo e nublado da morte que faz se ouvir a cada passo, no fundo da cena, entre as águas do chafariz e o grito estridentes de espectros que não deveriam estar ali.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Interdito

o café frio a um canto da mesa, aqui o livro aberto. lês? o bloco de anotações. o espaço branco da mente. como dizer disso ainda. não consigo escrever a cara. sem tempo para belos e grandes poemas. não consigo ler racine. sem grandes volteios e para além de uma boa sintaxe. o que tenho é este texto: outdoor. fora de si, fora da dor. abra a porta. look in thy glass, and tell the face thou viewest. ainda tenho pulso. não quero escrever, mas sempre há algo que se desenrola num eterno como se. now is the time that face should form another. é preciso sempre cortar um pouco mais profundo o pulso, esquecendo as mãos na banheira. lavando no sangue, uma pequena verdade. whose fresh repair if now thou not renewest. eu fiz um soneto. tão emoldurado como as frases que me dizias bêbado. thou dost beguile the world, unbless some mother. não fumo. nem agora. nem mais. for where is she so fair whose unear'd womb. este meu inglês que não sabe o que diz e como diz. e insiste. não pergunte, não mais. disdains the tillage of thy husbandry? como responder. como dizer disso. chega. há ruído. impossível ver apenas a letra. gosto de pensar caligraficamente. or who is he so fond will be the tomb. olhe ainda o vidro. reconheça para além do espelho o teu rosto como impossível. of his self-love, to stop posterity? que hora é agora. que frescor é este que escapa? é esta tua criação, na lápide do túmulo. brincas de ser poeta e de ser inglês. thou art thy mother's glass, and she in thee. cada alínea é uma insistência: como perdurar a imagem? calls back the lovely April of her prime. eu pontuo. muito. so thou through windows of thine age shall see. além do meu nome a imagem é que não sobrevive. despite of wrinkles this thy golden time. não bebo mais. não posso. não quero. há algo em mim que sempre se afoga. but if thou live, remember'd not to be. ou não, ou talvez, ou ainda. que importa? die single, and thine image dies with thee. algumas coisas são tão simples. e por isso doem tanto.

Nas pernas de Ginsberg

jazz e sexo
a noite quente queima
as faíscas
os corpos ardentes
uma estrela cadentes
talvez um pedaço de céu
(no fundo é apenas uma pedra, sabemos...)
brilham juntos
conseguiria destrançar estas pernas
e os poemas
na escuridão?
uma boca aperta em O
talvez espanto
gosto mais do talvez
do que do sim e do não
a mão se move
não para escrever
mas pra violar um segredo
para o centro
ali onde se perdemos
na carne ,
respiramos no mesmo tambor
euvocê convulsos de nós
a pele treme
os astros param ainda
é Vênus que se deixa obliterar pelo seu sorriso
jogue os dados
onde?
na felicidade
- não acredito no céu -
os lençois amarfanhados
de suor e desejo
é preciso parar
é preciso partir

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

votre corps

votre sourire
les yeux comme petits cailloux
ma douleur est un ange blessé
je vole les mots
& double la syntaxe
avez-vous me lire? roberto piva?
je sale ton français!
(...je ne parle pas français...)
mon ange est mortellement blessé
la morte est la loi du joir
rest un petit sanglot
são paulo est un désir fou
je vous laisse petit enfant
je suis une mitrailleuse
dans un état de grace

à la force d'un corps
ro co co
mais j'ai t'aimé
(pas possible ça?)
moi aussi
mon navire n'a pas d'ancrage
même dans les rêves
demain à 7
oui, je te veux
l'ange dans le feu
- luxurange -
(...nascosto fra orizzonti perduti...)
je t'ennuie de la scène.

poème sans sel

Je vais couper votre cerveau. Je vais manger vos cuisses blanches. Il s'agit d'un désir automatique. Je vais voler son adolescence. Simple. Je ferai de tes vingt ans, mon temps. Je vais brûler tes yeux avec le fer chaud. effaçant ton nom. cela peut-être la poésie? Je viole la grammaire dans le pur effet de l'erreur.Je vais cramer ton coeur de viande tendre. & dans vos cendres... change la folle substance des lettres d'amour.

trânsitos astrológicos

chove. o corpo cansado. o joelho dói. os ombros doem. eu não me interesso por isso. que me importam os livros mais vendidos durante as últimas semanas. que me importa a peça mestra ou o sapato alto de determinada atriz. não me importo em ver o vídeo mais visto da cena atual. chove. é o silêncio. queria apenas não ter de ouvir. tenho sono. cansaço. é o corpo quem falha. o que é este real de que tanto falas? não entendo. não compreendo. não exigas mais nada. eu também não quero mais nada. talvez nem isto apenas. acordo: reorganizo as tabelas. cansei de procurar sentido onde não há. sem efemérides.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

à procura

(Moscou)

eu sei destes limites, abro o mapa. quero algo de familiar neste território. que não seja a voz. o cheiro. o mais do esquecer. a carta. palavras abduzidas. entre neste jogo. esconda seu ás. ao acaso: máquina de escrever. horas solitárias. eu estou aqui entregue ao seu delírio. sonho. ainda. bebo. ainda. eu mantenho sua foto. desesperadamente. devo acabar com a dor. não posso escrever um poema.

Ищу

в знакомой территории
голос
пахнуть
забыл, что письмо
свинец, пушки, боль
Похищенных слова
наугад
пишущая машинка
одиночество часов
Я здесь доставлены на Ваш бред
Я держу Вашу фотографию
в отчаянии
Я не могу написать стихотворение

um pouco menos de silêncio

talvez houvesse um grito. talvez apenas o leve respirar. você não responde. é sequestro. o que abre a pele. há a fissura. eu escovando os cabelos diante da cena. alguém me diz um poema em sussurro. é o desejo. no vazio o que ecoa é sempre a angústia. as trevas tem peso. não te disse que gostava de valéry, você não entenderia. traduzo sempre os mesmos versos. escrevo eternamente a mesma linha. são nos meus passos que encontro as tuas pegadas. as crianças de meu silêncio se põem no vazio do balanço do parque. há o leito e o sonho da minha vigilância. as palavras são mudas e gélidas. não há pessoa pura ou mãos divinas que lhe velem o sono. seus sonhos são doces, mas teus passos retidos. sem deus! eu sou... isto. meu corpo não acompanha tuas sombras. és silfo e habitas o ar. nem visto, nem conhecido, és perfumo vivo e defundo da minha memória. há um vento que sempre sompra e vem. ouço um patético beethoven. será que narciso era belo? queria poder gritar. no escuro da sala de cinema onde se confundem catedral e castelo. os cavaleiros que não existem, mas insistem na final tela. me darias tua luva. me darias tua mão. quantos exércitos se perderiam para entrar em teus portões? eu apenas pincelo um desenho ainda. não sei do teu rosto. e não sei de mim. chove nas clareiras da mente. afogo um pensamento nu. eu canso. fecho as cortinas. o escuro. a chuva. a dor. a água. o quente. o corpo. a queda. ainda isto. são sempre palavras demais que sobram dentro de uma caneta depois do fim.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pulando a moldura

“Voglio scapare via. Si ancora”.

Sabe quando o dentista lhe dá uma anestesia para um tratamento de canal e lhe avisa para não dirigir, não fazer nada que exija atenção em, pelo menos, vinte e quatro horas? Pois bem, algumas coisas da vida deveriam ser encaradas assim. Talvez sem anestesia. Talvez com o tempo limite de tolerância. Tenho minhas dúvidas, mas não é questão de cara ou coroa. Tentei escrever sua carta hoje. Várias vezes. Já tenho o envelope com o endereço. (Mas você que me lê deveria saber que esta carta não é para você). Abro meu caderno verde, eu detesto verde, deveria ter escolhido o azul, não sei o porquê de ter ficado com o verde. “De uma carta quase escrita”, é o que se lê na capa. Gosto do dístico que você criou: “Eu sinto o passado mais longe. Eu sinto a saudade mais perto”. Oito sílabas. Contraste. E ainda te achas muito triste para a poesia. Tenho medo das minhas escolhas. Tudo o que vejo são os livros se empilhando no chão do quarto que já não queria que fosse ainda meu quarto. Tenho sedo como também tenho uma bela caixa de lápis de cor. Os lápis… sei usar, mas e a sede? Há a angústia que cresce. Sei que você não sabe procurar pelos indícios que te deixo. Meu erro? Tudo aqui é um discurso fundamentado sobre um grande abandono e solidão. Não acredite que talvez estas palavras sejam melancólicas. Nada foi perdido. Nada há para ser procurado. Pleurez, mes yeux. Angústia, ainda canta Callas. Piangerò la mia sorte. Eu-te-amo não é uma frase. Na situação limite você conhece apenas os incidentes. Qual seu plano de vôo? Quais suas escalas? Lembre-se, não posso fazer as escolhas por você. Meu passaporte está na gaveta, mas eu perdi minha identidade. Não sei grafar mais meu nome. Num texto comum, a sintaxe se torce e balança. Eu remontei as cenas, fiz minha leitura, anos 20 e século XVI – e que eu sei? Tudo o que sei é disto que me diz não ainda. Faço uma pergunta, se por ventura algum psicanalista me lê, como situar a castração no real? Como ler o real da castração? “Eu sou um castrato e na minha corte minha voz é que reina soberana”, insiste Caffarelli. Quell’usignolo che innamorato. Não sei cantar a minha ária e ainda tenho pesadelos. O fundo negro. Fotografias. Paris. Versailles? Não, é o Louvre. Corredor oeste. Um vulto corre e corre. Escadarias. Olho no espelho: tenho os olhos esquerdo vermelho como sangue. A luz do dia que o irrita. Saco o bisturi. Escrevo no cerne do osso a senha. Espirituoso como sou, arrumo as luvas de pelica, volto até a parede, as sirenes tocam no mesmo tempo em que saco o quadro. É mortal. O vulto, não sei dizer dos traços, dizer quem é este outro absoluto, aparece diante de mim: uso o quadro como arma. Uma, duas, três vezes. Rasgando o tecido, quebrando-lhe as estruturas. Eu o matei usando a Mona Lisa. Pode-se dizer que este é um uso limite para uma obra de arte. Corpo caído diante de mim, assalto-lhe a carteira, abatendo sua identidade: descubro-lhe o nome… Leonardo, como o autor do quadro. Assino o canto direito da cena. esqueço.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

quebrando o gelo

na falta de gim tônica sempre o improviso: uísque, gelo, limão & tônica. a maneira como a coisa desce, como os olhos piscam. uma gota de colírio. três goles. assim, amaciando o corpo, caindo de leve pela lateral do pensamento. ouço elvis costello. não faço a barra das conversas. o que você fez a noite passada? irrisório pode ser um bom adjetivo. dei a descarga na vida. não sei dizer foda-se (oops!). eu te pergunto algo e você não responde. não quero te dizer das duas vias, do que tenho planejado em sépia para o meu retorno. são paulo: batman, realoaded. não sei se deveria brincar com isso aqui. devo te esperar ainda? na vida? nas 4h45? da manhã? não risca assim. não me faz desgostar assim deste borrão. contabilidade: 3 doses, 2 tônicas. não contei os gelos nem os limões. precisava? eu uso preto. quase sempre. almocei à francesa: café (com) cultura. qual o acompanhamento? quem o acompanhante? você me disse dos teus planos. e se eu dissesse não? não quero, não posso... creio que você não me ouviria. eu to ficando chato. não quero te odiar por favor. simples assim. talvez isto seja a bebida, ou a lua, ah... carlos... sem sete faces. deitado, de cueca somente, espero o sono chegar. ou você chegará primeiro?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

um retrato

linhas são palavras. palavras dispostas em quadro. o quadrado de um céu abacinado por uma boquilha disposta em forma e elegância. o tropeçar de um gole de tarde num final de café. bem ali, logo ali, no futuro. o olhar que me escondes na esquina que dobras. uma linha curva tangente ao largo dum sorriso de uma boca toda leve e luz. as palavras delineam a possibilidade do limite da linha. a quebra da linha. o fim da trilha. é por puro capricho que te afastas e enquanto falas tento capturar em desejo as linhas do teu rosto, o lápis afiado, mas na linha a forma se dissolve em sons. em letras mudas. há uma voz que fala comigo no silêncio das horas. califo[r]nia. belos sons ou bela praia? antevejo a ária que lhe dedico, sem ser o verso virtuoso dum victor hugo. antes, bradifasia, resta o timbre rouco destas linhas e palavras costuradas de burato, brim e bragal. rede tecida para um camafeu que se oculta nas luzes e sombras. sem geometria. o que resta de alguma (boa) retórica? apenas a linha lida numa mordida. linha ousada. linha usada. enquanto insisto no teu rosto, mais vivo e em cores me aparece. perco no tom a linha que te amarraria aqui. poesia feita corda-mestre, neste círculo tenso. mas não te deixas ser pura palavra e nem te queixas nalguma linha. e envolves o corpo. ao estilo e jeito. e todos os meus maneirismos são reles brocatel diante dos (teus) cetins e sedas com que tramas ao tear que se faz lira. cítara. linha que sempre retorna. cabograma. carbograma. mensagem feita linha. cardiograma. (do quê fala o coração?). a tipografia tem o colarinho aberto em clâmide. linha de junção. sutura. abertura. fenda. não cruzes a perna na latência do desejo. coreografia. o corpo em desatino persegue a linha como destino. agora: as palavras estão puídas, mas as linhas sempre continuam. pitágoras. e sempre intactas.

Um retrato da morte

(Não li Fidelino de Figueiredo.)

Este crime não é meu. Esta não é minha letra. Aquelas não são as minhas pegadas. Os poemas são meus narcóticos. Há um gato azul que sorri na minha mente. Eu vejo sua tatuagem em meus sonhos, mas ela é apenas um pássaro livre de sua gaiola, livre de sua própria legenda, ela não esta presa ao seu corpo. Você não esta na cena. Das, was etwas ist, wie es ist, nennen wir sein Wesen. Deixarias a cidade que tanto amas por mim? Entrarias deliberadamente no meu labirinto para matar o Minotauro. Não sou Ariadne, mas as palavras são como correntes que me prendem. Costumo beber o que café que preparo. Não tive uma valsa romântica aos meus quinze anos. Não gosto de poetas sórdidos, daqueles em que a poesia se suja com a vida. Que é este desespero? Faz tempo que não abro minha caixa de fotografias. É meia-noite, preciso de lembranças. Não me matarei, meus amigos, estou preso a um verso de Manuel Bandeira. Este carton-postal es una vista en Cuzco, son lugares muy bonitos… a imagem era um templo de Sacsayhumán. De Roma, o foro com dois gatos pensativos. De San Francisco, duas imagens dos cable cars. Believe it or not. Não quero pegar o bonde. Onde estará seu pensamento? Onde irei me encontrar contigo? Ou comigo? Eu não rezei na Praça do Papa, não fui a Mariana e não encontrei o rapaz da fotografia quando estive em Belo Horizonte. Apenas os corvos para nunca mais me encontraram. A Tower Bridge me veio sem nome e sem texto. Uma máquina de costura, de Curitiba. Un eté avec qui? Tantas letras esparsas e perdidas. Le désir te rend vulnérable. O que encontro no acumulo dos papéis é o meu tempo perdido. Isto poderia ser uma pergunta. Hyvää kesää! Eu não consigo mais dançar ballet. Greetings from Maryland! Eu me perdi. Não sei a direção. O que tomar… oh, céus. Nunca visitarei Helsinki, como talvez nunca consiga ler o “Kolme miestä veneessä”. Não consigo sair da minha ilha. Os cavalos não galopam nem mais em sonho. Te perdi no meio do meu texto. Groeten uit Holland. Meus brincos me incomodam, retiro-os. É quase uma da manhã. Tenho uma pérola cafona e uma caixa de fósforos com um palito sem usar roubada do hotel Renaissance, em Moscou, quando do seu 15º aniversário. É estranho comparar seu pé agora com seu pé na carteirinha de saúde. Tantas vacinas. E os registros? 24-03-88: 4 meses, gripe. 21-04-88: 5 meses, gripe. 11-11-88: 12 meses, um dia antes de meu aniversário e pneumonia. 20-07: 8 anos, não sei o que tive, impossível compreender o escrito. Em 28-05-05, vi o filme “A Cruzada”. Estava em São Paulo. Jogo de boliche. 14-01-06: Lages, diz o bilhete da passagem. Nunca tentei fazer música. Queria poder tocar mais notas, mas tudo o que faço me leva para onde eu não queria, não poderia estar. Se há alguma verdade, esqueça-a. São as letras como música em mim. Todas as luzes que me abriram o caminho estouraram e deixaram minhas lágrimas, minha sombra, um eu sozinho. Sei que fui idiota quando abri a porta, mas é por isso que agora caminho para o abismo, sem você. Ne m’écris plus. A embalagem de um chocolate. Não sei o que quero encontrar. Fecho a caixa. É preciso parar de escrever, esta tarde. É preciso, ao menos hoje, dormir sem ser esmagado pela sensação do nada.

sábado, 11 de setembro de 2010

corpo limpo

sem marcas. nenhum arranhão. entre a poeira o olho esquerdo é que lacrimeja. a pele fria. a cama abandonada. sem lençóis. o vinco aberto a escuridão não dá um raio de luz. tenho de desenhar um rosto. mil tecidos. sem costura. as coisas não se unem. como eu posso encontrar ainda o quente da tua pele? sem dores. você não diz nada. nunca diz. te serve do meu corpo. te serve o meu corpo? qual o perfume ainda está gritando na minha nunca. que é isto que rasga ainda. na angústia de uma coisa que se prende. depois disso, cada minuto é meu. sou eu, mulheres, que abro meu caminho. amo em silêncio obedecido. sem registros. talvez uma leitura escondida de Verlaine, de versos que você certamente não conhece. não sei o motivo de gostar destes versos. sem reis de paus. é a água que ainda escoa pelo ralo. a maquiagem largada sobre a pentedeira, aberta. para quem posso dedicar isto? não sei como constituir essa imagem. o espelho suspenso, sem estruturas. é ainda do meu silêncio. sem rumores. sem velórios e nostalgias. há apenas a ausência do primeiro traço. do primeiro toque. o que caí, não é um cadáver. é um resto palpitante de pele. silenciado. o celular não toca. não há um misero abraço. a ardência que se expressa. é preciso um pouco mais de grego e escultura. sem renda. eu não perdi meu texto. eu perdi a sensação na ponta dos dedos. aquele gosto azul da tua boca. é isto que as navalhas desta sintaxe cortam, pouco à pouco, fatiando em sons mínimos o máximo daquele espectro. ainda há o banho. e preciso lavar atrás das orelhas.

duas garrafas de vinho depois

para @c0dy_

é o que resta: ficar como relógio na madrugada disléxica. trocando as letras como quem diz disso que resta no istmo de si. não tira o gel do cabelo, no nosso confessionário, você é quem ouve e dá as notas sanguinárias, sou viúva, uso véu e choro meu rosário. sem tantas lágrimas, mas muitas pérolas. você nunca responde as minhas perguntas. não falo francês contigo. não ainda. é questão de tempo, não? moça grávida e compromissada que és. faz notícia. sem milagres terceiros. como assim? bêbados a caminho da cama. trocando boas noites. amigos, sem brinde, apenas, boa noite. a minha noite na minha ilha terá mais estrelas que tua noite no centro deste mapa de terceiro mundo? tão radical... tão menos europa. não sei o motivo destas palavras. talvez seja sua presença aí, a minha aqui. tão ''migs'' e isto apenas. eu encho o saco. apenas. você ri sempre. isto deveria ser bom? não? rir... é.... então companhia. algumas vezes, na realidade todas elas, o vinho sempre vence, o confessionário fica vazio. não sou psicanalista de meias palavras. sou criminoso, mas não assalto terrenos já ocupados. não sou sem terra ou sem teto. meus significantes insignificantes insistem. é... nestas horas é que se diz boa noite para que a bebida não fale. o psicanalista precisa suportar o seu lugar limite. você entende?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Um último escrito

Insisto em escrever para uma última impressão. É uma tentativa de ver o que consigo ainda fazer com as palavras. Todo o significado me foi tirado. Preciso não pensar mais. Deveria ter ficado com as linhas, a tesoura e as agulhas. Pessoas e palavras podem ser cruéis. Eu não sei nenhuma verdade, sei apenas o que meu corpo diz que sabe e isto não é em pensamentos. Apenas acontece na superfície fria ou quente da pele. Não quero saber quantos livros cabem na minha estante ou que posso fazer com eles: não me dizem mais nada. É sempre meu corpo que cai. Sinto-me vazio. Pó. Pó como o que se acumula nos livros. Fiel depositário de ácaros e traças. Nunca um livro. Não sou cristão, não tenho direito de perguntar qual o meu pecado. Deveria partir, tão somente partir. Sem despedidas. Sem insistir ainda. Não sei se sou capaz de terminar o castelo começado. Tudo me assusta. Não deveria ter medo. Comi minha última maçã, no escuro do quarto. My museum of fine arts. Algumas coisas devem ser apenas encerradas, sem ressentimentos. Não deveria gastar tanto as palavras, mas silenciá-las. Nem escrita, nem fala. Isto apenas aberto no branco afã da minha página. Tão retórico e mentiroso este texto: a escrita sempre torna. Um dia talvez se canse. Poderia ser hoje. Escrevo para não-escrever. Escrevo: corrente-elétrica. O fantasma rói as unhas para inutilizar as mãos, devorando os dedos, de…va…gar…

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pare o barulho. Por favor, durma!

(Pulp fiction).

A mais bela coisa deste mundo
Para alguns são soldados a marchar
-Safo, em Para Anactória.

Meu olho esquerdo coça. Acabo de copiar sadicamente uma ilustração de Cocteau. Garoto, não assuste os unicórnios. Bem vindo a Rue de la Miséricordie. A cocotte Léonie é quem me ensina onde pôr as mãos para um mais de prazer. É preciso dizer que muita gente não me toma por homem de verdade. Se é que há problema, ele não está em Diadorim, mas em Riobaldo, então, Frederico, paciência… Garoto, você é gay, porque insiste em ir à missa nos domingos? Tira os fones, deixa minha voz falar mais alto que as batidas de um Cazuza ou de um Renato Russo. Sempre tem alguém nesta esquina tirando fotos, juro, palavra de mulher! É preciso virar o seu diário do avesso. Não entendo essas colagens que você tira da revista Veja. Não consigo ver nada. Tenho vagas notícias daquele rapaz, o do Cine Curitiba, você lembra dele? É, estamos entendidos. Preciso de minhas luvas de pelica e de uma máscara veneziana. (…Eu bem poderia morrer em Veneza, com Gustav…). O Hotel Atlântico ainda continua repleto de bofes e bichas, a administração finge que não vê essa de negócio de michê. Acho que não entendo e já estou cansado demais pra rezar antes de dormir. (…Ó Deus serpentecostal..). Não tenho medo do inferno, tenho medo de ficar assim, sozinho. Nunca gostei de Robinson Crusoé. Já me basta viver também em uma ilha. Quando é que alguns desses aí vão entender que um sonho de amor não precisa ser pago. Ambos sabemos que ainda ouço Roberto Carlos e Maria Bethânia. Como se chama aquela atriz, sua vizinha? Odette… sempre lembro do Lago dos Cisnes… ah, sim Odette de Crécy, mas ela é tão menos chic, é só mais uma drag queen que decresce na vida e se assumiu, enfim, como travesti Timóteo. Que nome, não? Soube que ela andou saindo com um cara espalhafatoso, embora carismático, meio dândi, mas casado, com dois filhos, bem à Freyre em Londres. Parece que de vampiro de corações solitários virou poeta em New York. Saudades de Manhattan, Keith Jarret no Blue Note sempre gritando com um espanhol fajuta “Bandoleeeeeeeeeiro”… Puta bicha! Preciso de um cigarro… ahn? não, é só nicotina mesmo, maconha era só quando eu ainda lia e acreditava em Kerouac, mas a gente envelhece. Você hoje está bem Maria Quitéria! Sem buquê de rosas nem flores do mal murchas. Nunca gostei de rosas. Estes tempos encontrei Giovanni, continua um fofo, mas parece que agora arranjou tempo per studiare la lingua portoghese. (…Hai d’accendere per favore?…). Paris, nunca mais, não costuro mais pra fora. Fico eu e meus gatos, felinos mesmo, em casa. Nunca mais usei meus 21 cm. Velhas estrelas também choram, sabia? Deve ser por isso que meu olho coça. Essa de sexualidades pós-modernas não cola pra mim. Sem salto-alto. Insuportável a madrugada. E como corolário os vizinhos do apartamento de cima estão fazendo sexo: e como ela grita! Se a coisa piorar ligo pra polícia e ativo uma Maria da Penha terceirizada. E eu que jurava que a loira do andar de cima era uma Luiza Homem… errei bonito. Tão naïve! Mulher à toa… meu closet está fechado para reformas. Close-t, idiota isto. Deixa de fazer estas propostas com tanta extravagância, controle sua imaginação. Sei que no fundo dos seus jogos não é a beleza que conta, mas a vitória. Isso é tão 12 anos. Prefiro certa sofisticação intelectual, não viajo em pé nos ônibus, vou ao cinema sozinho e não tenho encontros furtivos em campos de futebol. Não entendo pelo quê lutas, nós não vimos a ditadura militar passar e eu nunca estive nas forças armadas. (…Talvez devesse adotar uma criança…) Você apenas fala e repete as mesmas coisas. Toma seu chá, isto é um Earl Gray, a versão aristocrática de uma xícara de café. Se você prometer não fazer nada, nós podemos dormir assim… abraçados. E tão somente isto. E nada mais.

Ritrato


Sobrou até pro @dudumorato...
(L)
o topete fez o desenho quase mangá..

:*

Ritrato


Minha versão do @francageorge
dá pra ser mais galã?

:*

Ritrato


só pra dizer que gosto muito...
@oliviapasouza
:*

domingo, 5 de setembro de 2010

Nota mental

Quilibet unius cujusque individui affectus ab
affectu alterius tantum discrepat, quantum
essentia unius ab essentia alterius differt.
Spinoza – Ethique, III, prop. LVII.


O sol bate em minha janela e é tarde, literalmente. Meu corpo absorve aos poucos o cloridrato de amitriptilina, como se preparasse as malas para alguma fuga, espero que o sono venha. Insuportável o dia. Ouço John Legend no acaso que eu mesmo preparei (depois de um Kyrie Eleison). O mundo é uma confusão sonora. Hoje ao menos meu estômago está calmo, mas você não sabe o que isto significa. Quase à Tirésias eu poderia escrever: o que tem de acontecer, acontecerá, embora eu insista em continuar escrevendo e, ainda que o que esteja dito esteja ali ainda, não conheço verdades poderosas. Eu acho que tu não virás comigo. Não sairei de casa. Não posso. Não sei o que fazer neste sentido. Nada faz sentido. Talvez haja luz demais, por isso o sono não vem. A mais sólida razão não resiste aos golpes da adversidade. Com isto talvez pudesse tu descobrir meu nome. Meus olhos se fecham para a rua que passa. A falta de poesia deste momento seca meu corpo. Com Deus morto é impossível realizar as orações ao pé do altar. Não desejo o domingo. Só eu não brigo. Só eu não namoro. “-Carlos, talvez o amor sempre possa esperar…” Aqui não é o soldado deitado que espera a morte, tão 1930. O telefone nunca grita. “Ah, isto ainda Carlos, sossegue, o amor é isto que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija…” Não há tiroteiro que alcance meu corpo. Talvez você sequer se lembre do meu rosto, nem consiga descrevê-lo, mas também eu não posso descrever o toque de sua pele como me lembro. Repuxo um livro de debaixo do travesseiro, última opção antes de mais comprimido, eu não tenho um coração de metal. Há algo atravessado na minha aorta que se pergunta sobre qual caminho seguir: voltar as velhas veias, continuar aqui, tentar outras? Meu corpo pensa enquanto minha mente quer esquecer a si. Não irei ao parque, não sairei amanhã, não farei mais rastros. Aos poucos irei apagá-los. A coragem maior não é deixar o rastro para ser seguido, mas apagá-lo para enfrentar a vida abandonado. De qualquer maneira, isto não é um sonho.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

guilhotina

a bateria acabou. talvez forçada pela mão que insinua o vazio da resposta e das condições de resposta. não tenho as opções que deveria ter. não sei o que fazer diante da liberação do crime. o telefone está morto e você não me olha. o deserto se abre numa flor seca. numa flor tornada glacê, mas sem desejo. você abraça árvores e nunca está aqui. não se põe na cena nunca aqui. eu psicanaliso ainda mais, embaçando os óculos, águando o uísque com muitas pedras de gelo. escondendo os hematomas.nem tudo é simples assim. não tenho corpos no meu porta-malas. não rasgo os pulsos como se eles tivessem zíper apenas. abrindo e fechando. o que verte as dúvidas. será possível um texto que não diga eu? que não diga você? um texto realmente feito com as palavras no nível da palavra... sem arranjos e sem combinações. não estou bêbado, há sempre limão e primeiros socorros. mas deveria saber talvez, os laudos psiquiátricos que terei de preencher ainda hoje. quem irá morrer? no limite do meu discurso sempre tenho de decidir entre eu e você. se estamos vivos é que ainda não fiz a minha escolha.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Código de Barras

Acho que estou vencido. O scanner lê meu rosto e para além das rugas esquadrinha minhas preocupações. Não sei qual é a carta suspensa. Uma dose extra de uísque sempre vem carregada de pensamentos demais. Finjo que tu acreditas que eu não sei o que eu sei. O décimo arcano do tarô não guarda os segredos que lhe despeçam do bolso. A cabeça gira, talvez por dormir mal, os pensamentos não tenham se acalmado e guilhotinem um pouco a razão. O que será que faz o menor sentido? Tenho minhas dúvidas agora. A gente pensa que entende, costura três diálogos. Não desenho meu maior medo. Quantas barras tenho te transpor? Como realizar ainda este gráfico? Um pequeno anjo barroco dobrado ao espelho se finge ao espelho. Não deixarei a maçã no escuro. Como organizar a estante ainda com os livros que sobram. A sombra que paira no quarto é apenas a minha sombra. Sem Claricismos.

Pele Marcada

o riacho abre para o nada
de uma história nunca antes contada
a maquiagem se abre para um rosto
sempre novo
baby-face
de uma noite sempre sonhada.

Anos-luz

ヤクザ

Roça devagar no meu pescoço, mordendo, beijando de leve. São 3 horas da manhã e meus pêlos ser eriçam ao desejo deste toque. Minhas costas nuas se entregam ao teu punhal traiçoeiro. A mão sobe, as pálpebras descem. Quantas estrelas eu posso contar? Quantas constelações você pode desenhar? Há sempre o gemido que escapa, um toque a mais e uma marca que fica. Calço as sapatilhas de ponta, amarro a fita apertada em torno do tornozelo. É preciso sempre apontar para o longe. Uma perna sobe, outra perna sustenta o corpo. Pode ser que haja equilíbrio. Piso macio e não sei pular muros. Não gosto de muros. A língua é fria, mas as palavras são quentes. É preciso dançar um pouco mais e sobreviver na corda bamba. Meu tornozelo esquerdo tem a memória marcada de Belo Horizonte. O raio-x serve como uma fotografia. Vejo a marca no osso. É preciso confessar que eu pulei e sapateei sobre o túmulo de Mário? A testemunha não pode falar, mas talvez possa tirar fotos escondidas. Never more. O vento bate na minha janela. O que significa esta frase. O que significam os nós dos dedos do vento batendo nos nós da madeira que emoldura minha janela. Sem romantismos. Na madrugada há sempre um galo que canta e outro que repete o canto. Talvez seja a hora de abandonar a escrita ao sua própria mancha. Esquecer o nome. Esquecer o texto. Preciso do silêncio da madrugada. A lua ocupa o lugar do sol. Talvez eu devesse voltar a outubro/2005 com sua Yakuza e meu coquetel de diazepínicos e Black Label. Três dias de suspensão. Três dias longe da minha própria companhia. Quem é você agora? O espelho está coberto. Soletra seu nome para mim. Vou te ensinar meu próprio sinal e ele é feito apenas com o polegar e o indicador dispostos diante da boca. Desta maneira. Vê? Não danço mais. Amanhã não lerei mais os romances de adolescência. Conte dois meses e doze dias exatos. Ultimamente tenho esquecido de como se escrevem algumas palavras. Você não entende o que te escrevo. Qual o porquê de ainda escrever as mesmas coisas? Talvez eu precisasse que você suspendesse sua torre e esquecesse de dar o cheque-mate.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010