terça-feira, 30 de novembro de 2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

charles swann

(para ronaldo, quem sabe)

longtemps, je me suis couché de bonne heure. parfois, à peine ma bougie éteinte, mes yeux se fermaient si vite que je n’avais pas le temps de me dire: «je m’endors». talvez o que eu procuro não seja um tempo, longíquo e disperso, mas apenas um rosto para prender no papel. quem sabe ainda o labirinto aberto na biblioteca seja como aquela simples fotografia de quem lê exposto ao tempo. ao cru da vida. que seja lógico, ainda. que seja apenas um borrão. o que sempre significa vem atrás da folha, sem legendas. ali. no lateral inquieto. na sombra pulsante do olho. e se tudo sempre estivesse nas mãos de albertine? o que você traz no bolso. você poderia ser abrir aqui, para além da cena que se desdobra em um espelho secreto. ou não. ou ainda. eu insisto em impossibilidade. um chá. não qualquer um. obviamente. você devera acertar, armando de leve o gosto, a cena, o aroma, o ambiente. todo abraço é mais que o quente do dia. cette idée de la mort s'installa définitivement en moi comme fait un amour. non que j'aimasse la mort, je la détestais. mas e que ainda. brasília tem os pontos em estrela, abertos como em rosa. minha voz futura é sobre e não poesia. na a grande. nem a tua. mas aquela. dos 70 que eu não vivi. eu só pediria uma letra mínima. uma letra em direito. uma letra de direito. uma letra por direito. correspondência incompleta. você entende esta biblioteca? armado de tesoura eu roubo e rasgo um livro para ti. quem sabe. é este o meu mínimo agora. sem esparsos. sem lacunas. sem espaços. há uma última palavra?
a última pincelada...
...s'ils ne peuvent pas prononcer certains mots, cela n'a rien à voir avec une attaque, une crise d'aphasie, mais vient d'une fatigue de la langue, d'un état nerveux analogue au bégaiement, de l'épuisement qui a suivi une indigestion.

d'um copo

em análise

sem labirintos:

quem deita no meu divã
não conhece minha cama.

kilt


é um desses que eu quero.
beijo.

um pouco de café

a tragédia em cena já não me basta. não é o suficiente escrevê-la, à artaud, mas irromper para além do palco, naquela coisa palpitante, meio vida, meio desconhecido. meio corpo que dança suspenso de madrugada. descobri um poeta chamado paulo augusto, cantando uma balada para madame satã. do alto da lapa não sei o que vejo. perdi meu brinco de brilhantes. um gole a mais de cachaça. café batizado. amigos, lado-a-lado, conversando pela internet. dor de enxaqueca. enxaqueca de ressaca. abrindo a mão dos matemas. da matemática. minha análise combinatória de hoje é apenas roupa, cor, peça. sem desejos. sem excessos. barulho demais. e isto. sempre isto. esta ânsia de escrever. de encontrar aquele poema, não meu, mas aquele, você sabe. perdido em algum lugar. o caldo negro da noite ainda demora. não deveria estar gastando estas palavras. mas nem são tão boas assim a ponto de, você entende, não? um ano depois. quase dois. e ainda. aqui. ainda assim. é isto. sempre. ah, engole em seco. engole quente. garoto. o café frio da vida gelada que ainda insiste.

de certas coisas

não gosto da certeza de um talvez, mas quem sabe de seu conforto. conforto ali, quinze minutos depois, atrasado, cabelo molhado e correndo, aquele do 'quem sabe'. silenciosamente criminoso, vai e vem com o relógio, bancando o esperto, num tempo suspenso entre o que já foi e o 'veja bem' ainda por vir. simples assim. ou não. tudo coladinho no paredão de fuzilamento. uma barra de chocolate a mais, uns gramas a mais e lá se foi toda a boa forma. como quem insistisse num texto sem vírgulas, soprado numa sopa de letrinhas espertas e esparsas. banho é sempre banho. na companhia de outra pessoa é, auxílio lava-costas. ou quem sabe. ou ainda. não. não. não. tenho direito: pausa dramática. luzes baixas. quem sabe gelo seco? ahn... néon profundo como teu coração envelhecido. uma rolha salta. grunhidos sonolentos. um lençol amarfanhado. dentes que rangem. ou não. mas e se na guinada o contrário fosse mais verdadeiro que a verdade do que dizes enquanto dormes? lavo minhas mãos. sem metáforas. ou você vem e diz. ou vem e diz. o não diz é tão mar aberto durante a madrugada, num barco sem vela, com apenas uma cumbuquinha de água... vazia. é preciso o mínimo de exatidão num mapa frouxo. no teu desejo há apenas uma imagem latente. o batente da porta que nunca é usado. campainhas? celulares... tens apenas direito àquela palavra. seleciona. irrompe. pinta logo o quadro como quem maquia um rosto. diz logo a tua excusa e pula a janela. os abismos sempre fazem os horizontes suícidas.

chove

desejaria um ouvido a mais, um olvido a mais.... sem grandes notas. só este mínimo significado de eu-tu. sei que não entendes. sei que é o álcool. esse plus ultra. essa força que fala fala fal fala sem insistir, fazendo a deriva, engolindo palavras, soluçando em secas tristeza, rompendo as lembranças e desejando dormir. tenho a luva, mas não tenho a mão. minha amiga me diz, eu ouço. aconselho. sei fazer meu papel. desenvolver os personagens. tragicamente o palco está sempre armado. iluminado demais. gente demais. e eu nunca sei as falas. cansado, sim, estou de estar assim, meio só, meio abandonado. há a janela. estou na cozinha. as meninas dormem no quarto. outros tantos cômodos em suspenso. um casal dorme abraçado na sala. eu aqui. escrevo, escrevo, tardiamente, secretamente, como um judeu que gosta de jogar com sua vida. só queria que os mapas não tivessem tantos quilômetros e que os sentimentos não precisassem de te tantas palavras. gostaria de não explicar os olhares e os abraços. mas sou assim, garrafa vazia e chuva lá fora. simples assim. como quando desenho um croquis de um vestido novo para uma amiga, quando esqueço minha aquarela em um ponto de ônibus ou quando simplesmente me esqueço debaixo da chuva. talvez isso seja a vida... ou não;

domingo, 28 de novembro de 2010

de certa dor

eu tentei jogar seu jogo e perdi. simplesmente não desisto. derrubo o rei. é preciso saber perder algumas vezes. sem céus estrelados, sem pesadelos. simplesmente não te darei um retrato em sépia, ou em azuis de picasso. alguém disse que eu era um pouco musical, não, não sou. não nasci para a música. meus ouvidos escutam um pouco antes e um pouco depois, nunca agora. não sei de tua voz. mesmo a dança neste meu universo: o joelho não permite mais. não quero mais esta insensatez. eu só sei pensar e penso demais. eu te guardei algumas palavras. eu poderia te dizer outras tantas. mas não sei, no abismo desta dor que bate e caí, além de toda insegurança, de todo compromisso, de um suposto coração (que não sei se tenho). eu não sou assim. sou esta noite de insônia de pupilas modificadas pela valeriana, com algum chocolate ao alcance da mão, alguma fome no estômago, sem sonhos, sem pesadelos, apenas um sono que poderá vir ou não. minha gata, audrey, ao meu lado, agora me acorda todas as manhãs, no seu complexo de animal selvagem. gata que se descobre leoa. filhotinho que se esquece de seu tamanho. não sei insistir sem meus excessos. na minha cúpula de estrelas, na minha constelação, só cabe o silêncio dos meus livros e talvez, talvez, um resquício de esperança na minha impossibildade matemática. que sempre dói mais que teus sentimentos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Complexo de alemão


(para e a pedido de @alinenatureza)

esta é uma história densa, escura e com muito sangue frio. ele é um titã. um deus primitivo, com grito bárbaro e sangue quente nas veias. sem segredos. carioca, com um sotaque feito puro corpo. lindo, mas assustador na sua beleza selvagem e indômita. nada dizia. olhava através. não dizia muito. se sabia herdeiro de seres anteriores aos deuses civilizados de olhares melancólicos. ele não dizia, trovejava em desejos. "você será minha!". um dia ríspidamente ele disse. não se sabia bem o motivo, mas chamavam-no de alemão. dorso nu. um anjo impossível em suas nuances e pecados. um dia simplesmente desapareceu. todo o tipo de conjectura surgiu a partir disto. e tal como sumiu, voltou a aparecer. era praticamente impossível retirar o olhar daquele corpo que certamente não-existia, como uma miragem saída de algum sonho erótico. não obstante, ele vivia só. e só assim se via. e subia e descia morro. ninguém nunca cruzava com ele no samba. ninguém jamais o via na farra. ele era tão enigmático quanto sua beleza. e o povo não segurava a língua. ''...eu acho que...". um dia, chuvoso, não lembro direito, madrugadão, batidas fortes à porta. assustadoramente, abri. era ele, molhado, enxarcado, respirava mal. pediu-me para entrar. não sabia o que dizer, apenas dei alguns passos para trás. ele exalava calor, cheirava à crime e encrenca. olhava pra mim, não sabia o quê dizer, não tinha o que dizer. ele disse apenas vem. no dia seguinte: não existíamos mais.

o denso da letra

aut perlege et recte intellige,
aut abstine a censura.
(w. wynn westcott)

a regata dele é calvin & klein. a invasão de um espaço. quanto tempo faz que te conheço? um semana, duas? quem sabe? há ainda no meu corpo suas impressões digitais. o tempo muda: chove. minha gata quer brincar no computador. ela cava o lençol como se procurasse, para mim, as provas de teu corpo. você não me conhece. por mais incrível que pareça ouço caetano. passos largos. tentei te ligar, ainda mais uma vez. you don't know me, donne. transando as notas. há uma certa fraude nestas palavras mais mal-e ndereçadas que mal escritas. preciso acabar com joão cabral de melo neto. o que decanta desta leitura seca, feita às pressas, na noite do pesadelo? os meus olhos fechados em novelo desejam um toque apenas. há os perfils de cristal, o estalar constante de dedos no fundo do peito. a enxaqueca talvez retorne. você talvez retorne com alguma verdade, talvez não, sem verdade, ou ainda, sem retorno. no quarto dia apolo e diana receberam suas flechas. o que você me dará hoje, no quarto do dia? um vai ao cinema e só apenas. um casal também. e outros tantos. eu vejo as forças em cena: gravidade. devo insistir ainda? devo escrever ainda aquele romance? odeio regatas, diz minha amiga. eu não digo nada. e se eu nao tivesse esta dor? tinha um convite para te fazer, mas eu não sei a quanto você pertence. minha gata é crítica e como se lesse o que escrevo tenta evitar que eu escreva andando sobre o teclado, querendo brincar com meus dedos. talvez não devesse. talvez reste o divã intacto. o seu mundo poderia desabar sobre minha cama, mas talvez eu não seja capaz de grandes amores loucos. na minha aventura épica apenas espero tecendo um mundo outro. eu tenho minha besta fera mítica de 20 cm e 2 meses me protegendo, guardando meus limites. talvez você seja a personagem inventada pelo meo tear, mais importante que eu que teço, que o tecer, que todas as técnicas nestas suas aventuras de não ser e sequer estar. aqui.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

lógica das partes

(brincando de astrofísica)

descobri que neste plano o impossível se desdobra: minhas pernas não sustentam um ângulo superior a 10°. estou prestes a viajar. queria te ver. queria te ouvir. há algo que insiste. fora do número. no pé da letra. ali, onde se encontra apenas este resto de mim que sem querer fazer, refaz e insiste nisso. te incomodando as duas da manhã. ou não. restando no álcool, como quem lava os vestígios em vodka fina. gosto de grandezas escalares e não vetoriais. as coisas são simples e explicáveis. inexplicável minha crença racional. eu escrevi algo que você não lerá. cifrado. está preso em meu bloco de notas. estou cansado, farto mesmo disto. não entenda um abraço. recolha as garras, recolha a fúria. não deseje. os astros giram e talvez isto apenas. brincaremos, um dia, ainda, à velocidade da luz? talvez... tudo depende de você querer, ou não. eu gosto de opções binárias. sem problemas de gênero: eu entro no banheiro feminino, uso o espelho, parto. a vida talvez seja isto. atrito. o amor feito em ondas incandescentes. é preciso, talvez, além do olhar, além da trajetória, essa insistencia feita toda mãos e dedos. toda cuidado. mas talvez você não entenda ou não saiba como fazer. se admitimos a quantização da energia, fato no mundo microscópico das partículas fundamentais, o que poderemos encontrar de nós ali. isto, me lembra, não sei goo motivo, um poema de machado de assis, sim, acredite, um poema. teus olhos são os meus livros. o que me resta talvez seja esta adoração quieta e calada. sem telefonemas e sem palavras. se tu me deixasse procuraria a constante de teu universo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

sábado 14 de abril

(Pequim)

Tempo coberto. Dormi mal, travesseiro muito alto e duro. Enxaqueca.
Noite de ontem: reunião com os guias. Pequeno salão do hotel. Cadeiras brutas, encosto em ganchos.
A "polidez" e as câmeras.
A austeridade: meias não repassadas.

Golpe de vista pela janela às 6 horas da manhã. Badmington. Um desempenha muito bem, eles trocam - justo alguns movimentos, como se fuma um cigarro.
Os corpos? torneados e elásticos. Uma bolsa lateral.
Sem diferença sexual.
Tudo num só golpe, um, onda elétrica erótica: é que ele tem olhos inteligentes. Inteligência vale por sexo.
Mas onde eles colocarão sua sexualidade?

Sinto que não poderei esclarecer nada - mas somente nos esclarecer a partir deles. Então, é isto que está escrito, isto não Então, a China? mas Então, a França?

Cortejos de escolares com bandeiras vermelhas. Brecht. Procurar a Cor. Cinzas azulados. Manchas vermelhas. Fer. Cáqui. Verde.

Praça Tian An Men: Grupos. Andando, Andando. Assobios.
Coro. Estereofonia.
Marselhesa.
Instrutoras, instrutores.
Mochilas, cantis. Crianças. Código militar.
Doze-catorze anos. De mãos dadas. garotas: bolsas, vestes curtas + calças curtas (clipes de bicicleta).
Às vezes sol, brisa. Tudo com algum charme.
Os velhos tem ainda mais maravilhas que as crianças.
Nenhuma bela pele.
Lenços, o veludo.
Mãos finas. Olhos vesgos. Rostos finos.
A categoria "instrutora chinesa".
Bumbuns grandes. Palhaço.

[...]

Obs. tradução de parte do 3º dia do Carnets du voyage en Chine. De Roland Barthes.

bailarino

topografia prévia

(sem retorno, nem mesmo o eterno)

só. desenho a viagem. o céu escuro: o meteoro de mármore, o corpo exposto ao frio. meus sapatos azuis caminham sobre o salão vermelho, sem síndromes de astronautas. de que mirante posso ler a história? o silêncio me irrita. a música corta o para-além dos pulsos. a vida lateja. e quente brilha no fundo dos olhos. preciso encontrar o rio dos ritmos de maria martins. odeio me deixar iludir. impossível ver a fachada da capela fechada. a loba romana, em bronze, suspende o gesto nobre. toda uma geração de prostituídos. eu gosto de dias nublados. hoje acoredei pela manhã, isto é tão incomum. os satélites giram. já morei num pequeno asteróide: B612. atravesso o vitral, na palma da mão um segredo. o mapa, o tempo, se aprisionando na pele, em torno de mim, fazendo o que sou para ser apenas isto. há a poeira das ruas desertas. o pó em mim. a estante com meus livros, cedendo ao peso das letras. uma última verdade impossível posta numa réplica da pietá. sem renascimentos.

questão de nuvens

domingo, 21 de novembro de 2010

12 de abril

Ao os ver mais de perto (do ônibus na posta), os seminaristas tem roupas de um azul muito diferente: uniformidade de regimento ao longe, diferenças individuais de perto - as golas oficiais são muito pequenas.
Um avião todo de europeus (italianos, alemães, franceses) para Pequim. Que decepção! Se crê estar só para poder ir.

Retorno do eco do Cotidiano de Paris, mostrar a ética apodrece a quem ela revela.
Que chato! Ter os incovenientes da notoriedade (eco acerca uma viagem privada) e alguma vantagem (financiadores).

Se eu devesse ser executado, pediria que não expor minha coragem. Eu gostaria de poder me embebedar um pouco diante disto (com champanhe e algum tira-gosto).

Eles estão cobertos no fundo do avião, os olhos fechados, como - diria eu, com alguma afeição? - porquinhos, como uma roda de pequenos animais ; estacionados, em certo sentido.

Eu amaria dizer, a J.L, a R., cinicamente (mas eles não me compreendem): tornam-se, no escrito, qualquer um.

Em abstrato: a China tem mil sentidos possíveis: histórico, ético, etc. nossos grandes discursistas podem falar à sua maenira (L.S., Granet, etc). Mas para os franceses, a China não tem somente um sentido, posto de uma maneira fortemente crível em seus papéis. Mas este plural mesmo é de nossa costa. Salta do intelecto: do plural ao um.

Quatro centavos vistos vem a ser refutados (por causa do filme de Jean Yanne). A recepcionista se espanta com nossa viagem; ela diz: " vocês estão amarrados?"

Chegada à Pequim.

"Então, a China ?..."
Jovens soldados: a impressão de que não há nada debaixo de suas tunicas. Sorrisos.
Salão do aeroporto: sóbrio, austero. Couro. Suíça há cinquenta anos.
Um grande retângulo vermelho (com dois arbustos defronte).Superfície de apoio.
Caminho do aeroporto, rota direita bordade de salas. Crê-se um cão, um jovem europeu competindo de shorts.
O intérprete: ele faz "frio".
Objeto fetiche: a grande garrafa térmica de água quente para o chá, florida de decalcomania, que jovens garotas e rapazes fazem à mão.
___

Tradução, segundo dia de Carnets du voyage en Chine (Roland Barthes).

Vanilia

(para @gomex10)

experience this rich and
indulging flavor blended with
vodka destilled from...


decide. entre tédio e conformismo. entre esta angústia que se abre em janelas largas numa casa vazia. 1879: início de uma tradição. não sei. 50 ml de lágrima. o gosto, presente, assim, ao largo, de lado, talvez cognac, talvez baunilha, queimando na boca, aquecendo o corpo no vazio dos corpos. assim, a luz, a garrafa, assim, bem assim. tocando de leve no ar, queimando as pequenas feridas. devorando a noite. você sabia talvez desta página, adivinhando-a, sem dormir, às 6h da manhã enquanto os mosquitos devoram o que resta da minha pele. a agonia ainda insiste. ao longe há um pássaro que canta mais não deveria. há a fúria latente, esperando, sempre esperando. no silêncio de "esta chamada está sendo enviada para a caixa de mensagens". não ligo mais. não ligo mais pra isso. nem nisto. resta a garrafa vazia para guardar. hora para o derradeiro golpe de fome, apenas por hoje. meio depois de brincar de virgem suícida à la coppola. sofia, não francis. é preciso aquiescer algumas vezes, mas cansei de concordar com isso. preciso dormir. ainda restam outras quatro garrafas. talvez com elas a sorte mude.

meus leitores

Como é sempre interessante saber onde e como se está sendo lido e muitas vezes quem passa por aqui não deixa um recadinho, dá-se sempre um jeitinho de saber o perfil de quem está lendo isto aqui, as coisinhas que posto por aqui. estatísticas sempre são algo interessante... dá pra pensar... afinal, números, números... gráficos... são tão bonitinhos, não? por exemplo: quem será o visitante misterioso do Irã? do Paquistão? Como chegaram aqui? algumas questões... por enquanto deixo apenas o gráfico... caso você se encontre por aqui, grite! Beijos.Um pouco disto no mundo...


Um pouco de Brasil...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

11 de abril de 1974

11 de abril. Partida, limpo da cabeça aos pés. Esqueci de lavar as orelhas.

Avião: pode-se dizer: por aí, ser imóvel, não viajar.

Eco em O quotidiano em Paris. Eles atendem um “retorno da China” e “retoques ao meu retorno da China”. E se eles tem sobretudo: Retoques ao meu retorno à França?

Orly. Atraso. Phillipe Sollers compra uma lingüiça e um pão fora da alfândega e nós comemos na sala de espera. Jantar de avião. O empírico desejo que será muito apertado, limitado em mil próteses, se servir das coisas muito simples; mas naturalmente o empirismo é combatido pelo vício francês (título de uma peça de Labiche): a podridão aos olhos : mexilhões em salada, molho de vitela, arroz cinza e oleoso – em que dois grãos caem inevitavelmente sobre minha calça nova.

Como eu segurava-lhe a mão furtivamente em um lugar público, ele me disse: tu não tens medo que nos vejam? – E eu respondi: eu não tenho medo que nos vejam, temo que se veja o fora de moda do gesto e que isto não te agrade.

Partida de Orly: massas à parte, uma dúzia de chineses vestidos de negro com colarinho montante, no entanto, o guia está com roupas normais. Se diria um convento que se desfaz.

_

Tradução de Roland Barthes, em Carnets du Voyage en Chine.

um manuscrito, ainda

retrato

do desejo

oriental

um corpo

bailarina

a musa

à Caillois


Bom, andando na rua estes dias, acabei comprando uma fotografia tirada por Diego Janatã, motivo: o louva-deus. Depois de enfrentar a missão de ler Roger Caillois, fiquei com a imagem do animal na mente para algumas reflexões. Nada pronto, nada sustentável ainda... não obstante, fica a imagem capturada.
les restes du
marécage
à l’interieur de l’
appartement
a poussé un
moderne ingrédient

la peau des
crapaudes

dans la bouche du
crapaude mûr
jaune ou
jaunâtre sans le savoir
pas de voir
un pétard

pas toujour
il est à cettes listes
arbres animaux en voie de disparition

doute genre avoir envie de
faire pipi?, on pense

ah, le
crapaude mâche ensemble
une mouche qui est aussi dans
la liste et
faire une reclamation de
aigreurs d'estomac de
la femme de
l’ONG et de
raffut du
appartement du
dessus que ne permetre pas
que il se concentre
:
un petit pois de ping-
pong auto-
sufissant

il me semble que –
saute
saute
saute
saute
saute
et
martele les minuits
un à l’un, cette distance de
l’autre

____
Obs.
Tradução ao francês de um poema de Demétrio Panarotto, no livro 15'39'', publicado pela Editora da Casa, série Alpendre (2010).

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

nota mental

o que fazer sozinho perdido no bosque da histeria? leio, leio, leio, leio. canso este corpo velho. o motorista de táxi me pergunta onde quero ir. digo apenas para manter-se à frente e apenas ir, entre orla, céu, mar e adiante. nos olhos o lápis azul, delineador, lancôme. rímel. curvex. misteriosos olhos noturnos numa noite sem destino como sem estrelas. o cabelo despencando. afogando no desejo o silêncio do vento frio na janela entreaberta. corre um pouco mais por favor, preciso do vento. beira-mar. a ponte iluminada. o resquício de sombra. o livro entreaberto no canto. a vida taxiando sem ponto certo. os olhos presos num ponto cego do futuro. ora, quem saberia?

de quando só se tem palavras

são 3h47 e preciso escrever. as palavras que embebi em gim tônica, com uma rodela de limão. sobrevivendo na moda, na passarela hostil. eu disse não. minha gola cinderela. minha classe à givenchy. há esta angústia dolorosa feita silêncio. não me faz me cansar. não me faz cansar. precusi suspender a escrita. não insistir. só responder. sou frio. como as pedras de gelo da bebidas. lágrimas nunca choradas não evaporam. o lenço escondido do drama. tão novela mexicana. tão isso. minha charlote é carlota joaquina. queria poder o mais de silêncio, este além da palavra, na superfície da pele. disto que é impossível de dizer. eu sou lógico. meus sistemas, minhas ordens, unitariamente.... suspendendo a dialética. sem juízos. sem bem/mal. apenas isso. força de escrita de um dedo que toca a tecla, que toca outra tecla, que volta e apaga, e reescreve. não durmo. não sonho. não faço. queria. mas tenho apenas isso e nem isso posso te oferecer pois isto me atravessa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

È il mio cuore
il paese più straziato.
(Giuseppe Ungaretti)

diz não. nunca digo nada. também este agora passará. uma ilha depende do mar. não nos termos que você pensaria, mas nestes que desenham e devoram um contorno. os ônibus azuis passam seguidamente. não é domingo. com a janela entreaberta não se poderia estar mais só. a cidade é mais que uma miragem entre os montes, menos do que um grito doente na madrugada. os prédios são como lápides gigantes sob um fundo falso. não me chamo marcel, já não sou francês, mas fico aqui, contando os pontos, brincando de refazer laços e desatar nós tentado pelo inesgotável segredo das palavras. há na página não-vista (tu nunca percebes isto como um branco quadrado mágico de página) esta tentativa recorrente e criminosa de me seqüestrar de mim mesmo. sem pedido de resgate. sem tempo para grandes viagens.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Narcissus Cyclamineus

: ei, onde e como atravessar o caminho? há uma latência eterna que cansa nas palavras. estou só. estou cansado. você não entende a voz que ecoa pelos corredores deste hospício em timbres quentes e cores agudas. a vida é o mínimo da vida que ainda escorre pelo corpo. o banho ainda. talvez pele. talvez através de si. a mínimo gota de suor com a máxima dor de existência. há aquele copo sobre a mesa. a fome. a fome que infecta as palavras como uma mão segurando um espelho. o nariz coça e coça e coça. a alergia: o que se expulsa do ar, vivendo no ar, no leve de si. hora de ir. hora de não mais ficar. eu queria aquela voz. aquele quadro. aquele desenho. o labirinto fechado do diário que você não saberá ler. brincamos de tempo-espaço: sou zenão de eléia, és einstein. o movimento parado, as pálpebras que se abrem. como gerar mais que energia no atrito dos corpos? na parada e na ausência. a vida se abre em queda livre estrelas afora. nesta repugnância que não distingue uma obra de arte sempre secreta, sempre em exílio. a música sempre me cansa demais. é preciso não murchar na página. sem respirar, eu ainda repito, você não saberia traçar aqueles pontinhos. não brinque com os aindas, o tempo é o que resta e insiste sempre, ali, no corpo, como se dissesse daquelas cores. porém,

domingo, 14 de novembro de 2010

de uma festa

talvez seja preciso agradecer. tantas velas, tantos anos, tantos abraços. o amor é aquilo que se escolhe, acolhendo em si aquele desejo quente de ter apenas abraços e estar assim, sempre à espera. amigos são aqueles que a gente escolhe, que abraça no calor de uma piscadela, que esconde e aconchega no fundo do olho. a menina com o menino de laço. aqueles, com acento diferente, a moça beat, a moça marginal, a moça sem correspondências. e os dados. as velas. a mesa de sinuca, a gente encaçapando o tempo, escondendo a vida nos buracos, no desejo da bolaa 8. impossível não querer ainda. impossível fugir a este abraço. talvez apenas um aniversário. talvez apenas esta certeza.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

"Pasos" ou presente de Buenos Aires

Então, nada mais fofo que ganhar um belo presente, não? A aquarela aqui abaixo foi presente de Renatinha Gomex10, Luiza Ribas e George França. São uns fofos, não? Lá vou eu aumentar minha coleção de coisas lindas e raras.. hohoho
de quebra ainda achei o artista, Federico Arcangeli, no facebook...

beijos meninës

Arrenothelus

(A epopéia do amor começa na cama com os lençóis
desarrumados feito um campo de batalha) – Roberto Piva.


Precisava apenas correr, correr, correr, como um cavalo selvagem numa turba de sonhos. Tinha o corpo cindido nos desejos desesperados de estar e não poder, poder e não estar. Sumia sempre quando deveria ficar. Não ficava quando não devia, raramente estava lá. Os pensamentos circulares de uma alma esférica. Havia nos olhos aquela vontade de lágrima, tão cênico nesta sombra de saltos altos. A mão estendida tocava os olhos rasgados, suspendendo a vontade de dizer sempre que “gostaria ainda de estar contigo”… Não devesse talvez ter fugido ou silenciado. É preciso parar de fazer este retrato morto. Um verso alinhado sempre para além da biografia. Apenas aquele abraço ou aquele beijo. Numa caligrafia difusa escreveu o convite. Tu virias a minha festa, ao meu corpo, a mim? Simples: nada é simples assim. Não te serviria a ambrosia dos beijos quando são apenas amargas palavras. Dói. Mas o corpo da imagem é sempre mais sensível as dores, ao toque, ao olhar. Tudo se atravessa como se as dúvidas se acumulassem. O desejo é sempre uma dívida não paga. Os cães ladram. É preciso afogar isto ainda. eine Dummheit. O jazz, o vinho, o sono sempre adiado. (…Don’t know why…). Há este vazio que pesa e rompe as fibras do ser. Não evito ser clichê...

vernissage

não te demores, não demores tua partida.
carrega a mala, os medos, esta angústia.
rape me. rape me. rape me.
eu não fiquei sequer com um retrato.
nem mesmo os últimos toques
& caracteres refrescaram a página.
o que tenho de ti?
o que insiste ainda aqui
como mancha de tinta
como gota de limão na pele num dia de sol.
sem cicatrizes.

Ichneumonidae

Meu corpo esta irritado. A mente tem fome. O que os teus olhos vêem? Eu não ouço tua voz. Eu repetiria para ti, baudelaireanamente, o último verso da passante. Eu passei. Eu sei. o relógio girou. Minha boca, imagem de que dizes gostar, não tem duas pontas, nem faz flor. Nem fala. A mão direita sempre diz mais do que devia em pequenas manchinhas. Acho que doeu. Acho que, sinceramente, eu digo não. Uso muito o talvez para não dizer sim. Tu poderias ter sido a vespa a vencer o escorpião. Não conhecerei seu novo labirinto. Eu fugi para não ter de encarar o real da imagem. Meus quadros não suportam a moldura. Ouço Nirvana, como se tivesse ainda 15 anos. Só por agora. Eu nunca tive esta idade. Degraus. Degraus. Dez graus de temperatura acima do normal. Meu corpo teve febre ao lado do seu. Google brincando de Deus devorando as bibliotecas.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

delírio

"Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto de sua prisão"
Apocalipse, 20, 7.


falo, tu não ouves. não sabemos como compor este jogo. poderia escrever "naquele tempo", mas não houve sequer este tempo. quem se joga ainda uma vez mais ao abismo? talvez uma carta selada, talvez aquilo que se escreve no tempo, no sangue que corre o corpo, no calor humano do pecado. quem escreve não é um anjo alado. quem olha de lado? sem delírios de grandeza. não acredito em um super-ser com grandes poderes. talvez seja hora de desistir. de parar de escrever nas paredes da cela este nome. escrever um nome para se libertar da cela da linguagem. paradoxo impossível. isto cansa. e cansa ainda. há uma dor crescente, como lágrima que jamais será lágrima, nesta angústia de não poder chorar. talvez devesse em insistir em escrever esta história, mas não acredito em histórias. toda história sempre serve para alguma coisa para além do que conta. mas o que se conta afinal? eu dizia que falo e que tu não ouves. isto é que houve. as grades da cela são como pilhas de livros inteligíveis. quando virás ter comigo? impossível dizer que não tento. eu simplesmente desisto. não pintarei mais os quadros de minha angústia. o voou último é sempre uma queda. talvez um vigésimo andar. devo pensar apenas nos ossos, na maneira como rangem contando disto que faz o tempo, que acaba com um corpo, sucedendo o nome, acumulando o pó e lembranças. um sopro. hora de começar a rasgar as fotografias, ocultar a possibilidade de resgate. sem asas para dar a imaginação. ora, o presente dos anjos são inaproveitáveis. acho que isto passou. talvez mais de mil anos tenham se passado neste pequeno espaço de horas suspensas. a marca na pele se apagou. o calor que deveria vir e não veio. há a sombra, como um quadro de mondrian, que me persegue. não creio nos anjos, nem bons, nem maus. quem sabe apenas neste mil anos que doem, como pedras circulares em que a sombra apenas conta, conta, conta. sim, nem mesmo este delírio se sustenta como ponto em que o espelho reflete uma imagem possível. a linguagem disponível talvez já tenha sido combinada ao extremo. quem sabe nesta outra língua que invento, nas entrelinhas, ainda possa dizer de algo, desta dor que faz apenas este corpo ainda persistir.

autos efa

ele disse, assim começa o crime, eram eles miguel, gabriel e rafael. cada um tinha um pequeno pecadinho na sua sombra. aqueles olhos. aquela verdade tangente que não pode ser dita. o medo. talvez pudesse, num bilhete rápido. mas a quadrilha estava armada. o círculo aberto. o desejo impossível era o labirinto feito cena em vermelho. mais que um alerta. era preciso certeza. talvez não houve nada além do sorriso, do abraço, da companhia. o que tinham em comum? como resolver este limite em que o corpo se debruça num corpo. era de horizontes que se fazia o desejo. era em três que se desdobrava a harmonia. a música que tocava era medida diapasão, diapente e diatesaaron. uma vênus macabra talvez apenas observasse lânguida em seus jardins os corpos florescendo e se entorneando e vibrando num grave tom de melancolia. talvez apenas o olhar passass o estige para chegar ao tártaro. impossível consumir a possibilidade: eles tinham medo do inferno. do inferno no corpo em si. do inferno no desconhecimento do inferno do outro. no príncipio existia o caos. um caos feito dos olhos que descobrem que a imagem borrada cede sempre ao desígno e foge. duplicada. era o silêncio a possibilidade dessa certeza.
A night of memories and sighs
I consecrate to thee
Walter Savage Landor

o olhar atrás do olhar
era o que perseguias
no furo da alma
isto, a dor
o lampejo de razão
que ardia mais que a mão
que em flamas
apagavas as linhas
que o destino
te inflingia

abriamos o sulco
no medo
atravessando as trevas
para quem sabe
nunca ver a luz

il piccolo principe

(un fascista)

disegnami una pecora.
ma che cosa fai qui?
non importa. disegnami una pecora...
no, no, no!
non voglio l'elefante dentro il boa.
ho bisogno di una pecora:
disegnami una pecora.
no! questa pecora è malaticcia. fammene un'altra.
lo puoi vedere da te che questa non è una pecora. è un ariete. ha le corna.
questa è tropo vecchia. voglio una pecora che possa vivere a lungo.
questo è proprio quelo che volevo.

la prova che il piccolo principe è esistito, sta nel fatto che era bellissimo, che rideva e che voleva una pecora. quando uno vuole una pecora è la prova che esiste.
como a pitonisa num espelho mântico
só se dá o que não tem
a certeza da profecia
era tanto quando a certeza deste amor
feito desejo
na superfície
nefasta da pele

bate-se numa criança

há o mito
de leve, no torto do espelho
no dorso do cavalo
é de leonardo
a sombra feira com crayon
no reverso do espelho
era bem antes da guerra de 1914...
o dublê traz as mãos cheias de pérolas
imitando assim uma amazona que traz nas costas
não os arcos mortazes
mas o filho
como se atravessasse calmamente o jardim
das hespérides

aphanisis

último fôlego
antes de ser engolido
pelo traço
sem arrependimento
marcado
pelo desaparecimento
dessa dor
que é a mão direita
ritmando a voz
o impossível da imagem
de não-ser

da Biblioteca de Jorge Lacerda

teu desterro te traz
no acúmulo do tempo
no desvio das páginas
para as minhas
quem sabe
sentado
numa poltrona
leia os livros que
esqueceu
assim de leve
sussurrando ao vento
eu vire também
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

pequeno príncipe

dirty lady

de como escrever um fim

não há tempo, ele pensa, preciso fazer as malas. o que levar? como? o bastante pode ser o suficiente. que livro escolher para uma última viagem de fuga... o taxista é quente, lembra baptiste giabiconi, ele não apenas carrega as malas, ele faz a cena. ele fuma, mas não apenas fuma, o movimento se encaixa no corpo, o corpo é o pleno movimento. talvez não devesse deixar este post-it com um recado de adeus, às duas da madrugada, a janela aberta, o vento frio entrando, eu saindo. mas quando tudo pesa, será que o céu ainda permite que se entrevejam algumas estrelas?

Anima mundana

diálogos
(observando as plêiades)

bias
(em gizé):
a maior parte dos homens é má.
chilon
(na babilônia):
considerai o fim.
cleóbulo
(em halicarnasso):
evitai os extremos.
periandro
(em éfeso):
nada é impossível à perseverança.
pitaco
(em rodes):
conhece a tua oportunidade.
sólon
(em atenas):
conhece-te a ti mesmo.
tales
(em alexandria):
o incontestado é a ruína.

fête des tréspassés

o berachoth talmúdico, 14.1, diz que aquele que passa 7 noites sem dormir merece ser chamado de mau. talvez, nestas minhas insônias merece ser chamado de mau. talvez até saiba o porquê de ser mau. não importa. há algo que vai esvaziando lentamente as palavras. já não sei mais o que escrever ou como, como dizer ainda. talvez eu espere ainda. talvez não. o telefone suspende a voz distante. a ruga ali, no canto do olho, se acumula como uma lágrima. as minhas veias desenham um mapa no pulso, um mapa do limite azul da vida. eu cifrei um texto, quem sabe no futuro. a cinderella anda descalça, num biquíni minúsculo, bronzeando o fundo dos desejos masculino. o príncipe, garoto lindo, gay... talvez o parasempre não dure tanto neste pseudo-conto de fadas post-moderno. talvez o que nos atropele seja a necessidade, a isto, que corrompe a ponta dos dedos. talvez você não saiba o que quero... chaveio o significante.