terça-feira, 3 de novembro de 2009

roman à clef

no key's novel.


meu rosto coça. os animais não falam. sinto o calor roçando a pele. queima. arde. confessa. é doloroso. meu rosto como plástico, enruga. deforma. queria pular. de um prédio a outro. isso é uma resposta? o cheiro de canela me invade. sempre forço e erro a mão, mas perco o pé. gosto de sorrisos abertos como asas de anjos. volta aqui. sei que não deveria sentir falta. seu silêncio. sei que precisava te dizer. alongo os sonhos e os cílios num desejo incolor que retiro de um frasco caro de rímel. deus proíbe que se diga tudo o que pensa. o elevador chegou. faço você ejacular, mas não dentro de mim, diz a puta loira dos cabelos desgrenhados. há um telegrama silêncioso. rock. empresa falida. pó. há alguém mais longe ainda. isso é estranho. ainda. e se você conseguisse pegá-lo? meu peito, é do lado direito que dói. esse é meu lenço preferido, é seda, sabe. a banheira, creio, é de estanho. a puta ainda grita e geme dentro de um carro roubado. estou começando a... e... eu sei que meus pincéis estão trocados. a máquina de costura une lábios. tu falas sério, formal demais, com palavras negras como este seu terno barato. luto prête-à-porter. as pessoas de meu país não entendem meus erres. roubei minha língua num roubo bem inocente. quase que angelical. sutil. de leve. como uma mão que roça um rosto que dorme sem sonhar. o dedilhado do piano diz que queria que todos nós fôssemos felizes. não quero chorar, não quero ficar feia. um torrão de açucar a mais, uma lágrima de menos. preciso de minha caixinha de música com minha bailarina. morde a maçã, minha princesa, e dorme. nem todos os roubos são ruins. a gente rouba beijos e copos. esquece o corpo perfumado no fundo da gaveta. no fundo do banheiro, no escuro do cômodo, no raso da banheira os olhos se fecham num poema. não insiste no grande segredo. apenas se esquece e dorme.
the novel with a key.

Nenhum comentário:

Postar um comentário