sexta-feira, 27 de novembro de 2009

debaixo dos trilhos

" Pêsames. n.b. acidente aconteceu. volte logo. af. G. F. Handel".

a trilha se perde. bússola na mão. o desejo diante dos olhos. ele exclama as horas de um dia nublado. não sabe, nem se quer se daria ao luxo. o telegrama sobre a mesa. as notações do dia sobre o piano cerrado. debaixo da cauda, o diário oculto.

...um dia qualquer...
tenho raiva das cartas que escreves e não me permite ler, dos bilhetes perdidos que encontro e te diriges a outro, e a outro, mais um, entendo as coisas numa linha que não me agrada. eu ainda assim preciso partir para me encontrar mais uma vez.

incompreensível a escrita disso. irrecusável o desejo. mas ainda assim, se não me dizes claramente, como eu o saberei. nesta carta vendida. assim, aos trapos?
queria aquele verso que deixaste oculto num dos milhões de de livros da minha biblioteca. eu não o encontro. nunca o encontrarei. assim. como marcar a página certa, como virar a vida ao avesso?
há os pêsames, bem marcados. lembro de quando te encontrei carregado de papéis, aliás você sempre andou assim, na londres fria, em plena estação victoria ou era oxford circus. não consigo lembrar. agora aqui, num verão estranho, você sabe como é o verão continental, bem diferente das ilhas, dessa tua ilha para aquela nossa ilha feita de trópicos e sonhos. mas e se eu me recusar a ir para esta ilha? ilhado eu me sinto desterrado. agora, aqui no labirinto da gare de lyon, aprisionado na saída da pequena ilha, do zero de mim. eu recebo isso. assim, cheio de flores murchas, como meus sonhos. eu quero te abraçar, mas não como um puro cadáver. assim... o trem vem, lanço as flores. cansei. quero voltar pra dentro daquele quarto, apenas, entre as cortinas vermelhas o peso desta coisa feita eu. talvez pensar em deus, uma única vez ainda à espera de algum milagre, a saint-chapelle tem as portas travadas, como meus olhos. eu só queria uma única certeza.
é o que me resta, na pena, ter de escrever em tua memória, com o resto de mim, esta lápide.

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