domingo, 31 de janeiro de 2010

quatro quadras

sei como tentei. devagar remoendo a pintura e descascando lentamente. esperando a ajuda do tempo. querendo se libertar da moldura e da maquiagem à óleo. simetricamente comedido. as linhas e perspectivas 77 x 53 cm. um borrão feito sorriso. eu te vi quando não devia. recebias flores fenecentes. as minhas claras dúvidas e opacas certezas. é preciso parar de fazer diário. função de jornaleiro sem bicicleta. eu esperei a mensagem rápida. e tu foges. sempre foges. eu não entendo as metáforas. falta o elemento lá. figuras de linguagem não funcionam pra mim. não as procure jamais aqui. não há motivos. as mesmas palavras são sombra. aguadas e lacrimais. eu me canso de estar assim. deitado, no escuro, uma lagartixa adotada devora lentamente uma mariposa. vida. as teias de aranhas sem aranha agora. não vamos romantizar o anel de polícrates, tu não sabes o que significa. no entanto há ainda o quadro. quarto repleto de velas. desacredito. dúvido e muito. é preciso. de resto, de dentro do quadro vou forçando as unhas. é preciso ceder e não voltar. sem anéis. mil esquadros. fazendo pó da tinta. um dia o buraco se abre, acidentalmente, por um vulto estranho que cai na pintura, para me tirar dela.

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