quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Champollion e Rawlinson

Tenho dois potes de tinta e habito Alexandria. O espectro do sol brilha vermelho no horizonte. Estou indo. Meu mar não é sequer azul. Oriente misterioso. Minha biblioteca não foi queimada. Sei que tu não me entender, tu vens de Feldhofer, com suas lanças e suas flechas. Os ecos de tua gruta não me assustam. Tua cabeça é meu troféu. Sou verde, misturo azul e amarelo. Águas de rios. Águas de céus. Brincas de Princeps Augustus e corres entres menires e dolmens. Aprisionado no meu vaso de argila, sem escudo de plumas, perde o rosto numa máscara de barro. Nem sempre é dia de caçador, há dias em que não há caça, que as fogueiras não iluminam teus caminhos subterrâneos. Recolho-me a meu silêncio templário. Apago as velas e incensos, meu templo sem-deus. Teu Deus não me salva. Minha estrada é feita de estrelas, habitando no fundo do mar e no raso dos teus olhos. Minha missão é sobreviver entre estranhos espelhos quebrados. O reflexo marca apenas um rombo feito no meu corpo. Meus guizos e chocalhos não levantam mortos. Medéia, cavo meus infernos, faço-me em pedaços para no descenso descobrir teus jogos de enigmas. O sol não vai raiar amanhã, sabemos disso. Estou tendo alucinações, mãos fantasmagóricas tocam meu corpo, roubo cinzas, vejo um rosto de olhos vermelhos na porta. As gárgulas me abrem os portões pra me salvar. Eu vou vencer na ponta de meu florete teu sangue bárbaro.

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