segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A janela para o horizonte

Tudo o que eu sinto na sua face é que faz meu problema, eu sei que gostas de mim, querido, eu sei. Isto que faz comigo, abrindo minhas rugas, zombando do desespero. Eu sei disto. Mostre as lágrimas de teus olhos. Ame-me, diga que me ama. Diga-me daquele que me ama. Minha mãe me mostrou um velho quadro meu, os astros em quadrantes mágicos sabiam. A minha velha foto num balanço. A fotografia tinha cheiro das tristezas guardadas, não se fazia doce. O quadro me diz, preencha-me. Encha-me das cores impossíveis de teu pensamento. Eu poderia dizer que isto é o que não pode acontecer. Há maneiras mais simples para respirar e mostrar um passo maior de vida diante do espelho. Não quero este rasgo, essa agonia enquanto as páginas de meu diário são engolidas pelo fogo. É preciso se livrar de algumas coisas. Acredito nisso. Talvez este seja meu crime. Faça-me parar. Parado eu, eu mesmo, apenas escrevo disto que pretendo dizer e fazer, sem voltar os olhos para o espelho. Sem fazer absolutamente nada, a não ser tirar o pó que se acumula nas janelas. Não gosto de vermelho, o calor dói na pele. O piano empoeirado quer as mãos como o corpo quer um beijo. Fazendo-se donzela de priscas eras com uma lata de spray colorido fazendo mechas nos cabelos, a maquiagem pesada, o coturno. Não preciso mais do vestido longo ou das tranças. O cavalo branco foi envenenado. Eu sei, agora, que não precisas de mim. eu apenas preciso dos meu saltos selvagens, do batom como espada, dos segredos agarrados aos cílios: vítima mordaz que caça quieta. O predador de passos leves e macios que não tem vítima. Meu pulso me segura embaixo d’água uns minutos a mais, é preciso afogar o raciocínio. Mais um. Eu acredito que para além da água salgada, olhos e boca sobrevivem. Devorando um pedaço maior de dia, sem sonho, sem açúcar, apenas isto. Um giro maior do ponteiro, contando os ângulos. Mais quatros segundos apenas para a inconsciência.

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