terça-feira, 26 de janeiro de 2010

do que escorre

por Aline Natureza

sinal de ocupado. ela liga o chuveiro. sente a temperatura da água com a ponta do pé: fria. ela treme e chora. não devia ter dito aquelas palavras. mas precisava. e disse. “falados os segredos calam”. o cheiro dele. suor-saliva-porra. ela sente o gosto negro da pele dele e acredita que as marcas estão gravadas nela. rasgadas na carne. profundamente. ela gosta da profundidade dos corpos. da profundidade do pau dele. as veias pulsando dentro dela. e tudo mais fundo. ela não precisa fechar os olhos pra lembrar o corpo dele na cama. um meio-sorriso depois do gozo. ele goza bonito e era bom ver os olhos dele morrendo os dentes apertados e o meio-sorriso. ela lembra que foi assim na noite passada. forte. impossível não se apaixonar. impossível não se machucar. ela não devia ter dito aquelas palavras, mas precisava. e disse. ele não ouviu. saiu em silêncio. nele doía saber que não teria mais a carne branca e úmida dela. o calor latejante dos pêlos muito pretos e muitos. o cheiro doce da boceta dela. ele não queria que ela tivesse dito aquelas palavras. dói. mas precisava. e foi embora. ela telefona. quer voltar. quer que ele volte. sinal de ocupado. ela liga o chuveiro. sente temperatura da água com a ponta do pé: fria. ela treme e chora.

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