terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Eu - Satã

A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles. Olá, Satan!
Macário.



- Não te endoudeça o vinho a formosura. Esse vinho que lhe queima a boca não te traz juízo. Não é de hoje que o vinho leva ao longe a sanidade do homem.
- Sanidade? Há muito já não a tenho.
Creio nessa, como a experiência de simples convicção. Já que em sua forma o exílio eleva meus pensamentos, e como creio: há muito o que se aprender com a solidão, contudo de forma alguma me faço esperar de bom grado que daqui eu me saia com total felicidade. Simplesmente creio em meio às minhas conjecturas que não serei o mesmo ao ir embora.
Já percebi meu estado de catárse, pois constantemente ébrio vejo o mundo com outros olhares e com outros pesares, volto então a crer no consolo da solidão e penso no meu simples mundo facilmente criado e retoricamente confortável. Em anos vagando não me via tão próximo a mim mesmo.
Meu corpo submerso na banheira: então acendo um cigarro, vejo a fumaça indo vagarosamente de encontro ao fim, minha taça de vinho cheia, novamente ébrio à realidade. Sempre foi assim, de encontro ao âmago ébrio e solitário da minh’alma, como se defronte ao espelho eu estivesse, vejo por meus olhos cada vulto da libertina vida. Eu sei que é o fim, o mesmo fim da fumaça, agora a mim pertence.
Minha última saudade, é a daqueles amores que eu tinha com ela, aquele perfume enebriante, aquela boca fresca, sua alva pela, seu doce caminhar...
- É hora.
- Vamos. Aqui me despeço do vinho, no inferno não vou precisar dele.
Aqui jaz minha última lembrança: esse coração cravejando o sangue, que a ela pertence.




Frederico Fagundes
26/01/2010

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