quinta-feira, 31 de março de 2011

QUANTAS e quantas vezes tentei sistematizar e domesticar a escrita como quem tenta amansar um pensamento selvagem e fugidio. Da primeira vez que comecei estas notas, com um pequeno clipe colorido ajuntei-lhe um pequeno recorte em que as colocava sob o signo “Do que se escreve na pele”. Não obstante, esta pele, talvez por rugosa e incerta demais, assustou-me. Não tive como continuar. Assim, dedos tocando nas teclas, mais do que queria começou a se combinar, como um jogo de imagens ao acaso que por outro acaso nos possibilitam ver uma imagem maior, mais nítida, mais ilusória. Nesta segunda tentativa, abaixo da pele, gravei “Do fundo dos olhos” (de cor azul, azul Wallis). Mas não era nem o fundo nem a superfície que eu visava bem como já não me é mais possível simplesmente escrever que são quatro horas da manhã e acabo de tomar duas aspirinas. Que sei que isto não fará efeito, mas que é o único remédio que tenho por hora. Ou mais ainda: que tenho pensado tanta coisa em meio a esta crise, mas, ora, eu talvez sempre pense demais. A fronte esquerda lateja com força, como se fúrias devorassem minha sanidade mental. Escrevo para me manter ainda aqui. Neste aqui tão ilusório que não me dá nenhuma garantia de existência. Este aqui, espaço que se abre ao singrar da letra, palavra por palavra, tomado por terror indescritível. O que estará lá, vinte e três páginas adiante, na décima linha, em que o relógio pára e olhamos em torno e não vemos nada. Os rostos engolidos pela escuridão.

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