segunda-feira, 28 de março de 2011

billboard

(outra peça do quebra-cabeças)

esta necessidade de dizer eu e inventar o dia. não tenho humor. pouca pornografia. minha primeira pessoa se deita apenas com a sua primeira pessoa, não gosta de segundas ou terceiras. nem é descoberta no escuro, não se deixa flagrar lendo nietzsche ou parecendo inteligente. sequer escreve pareceres de literatura. é desempregado e lê livros. quando nasceu walk like an egyptian, bangles se não sabes, estava nas paradas. minha mãe fumando com os olhos em traço firmes de delineador e sobrancelhas finas. não procuro mais crocodilos ou peixinhos dourados. aqui: jesus não tem dentes no país dos banguelas. é burro, não transgressor em termos de ortografia. senta o olhar fetichista do acento no assento, bem ali no pé da letra. era tudo uma cartada musical: papai imitando george michel e implorando: i want your sex. jogando os cabelos pra traz, debbie gibson emitindo sinais, mamãe lançava o primeiro freud: only in my dreams, e invertia toda a direção do desejo pra essa primeira pessoa: vício de café sem nicotina. reflexos de quem poderia ter cantado, no lugar das primeiras palavras, um i knew you were wainting (for me), mas entre je e moi, minha primeira pessoa, ainda no vazio, arranha o inglês (se ele for alto e bonito, apenas). e num reflexo adolescente (aos doze anos perderia tempo cantando para bancar sweet child o’ mine, deixando as pistolas de plástico e odiando as rosas como sempre) pra só pedir, em voz baixa, ao tio: pour some sugar on me. primeira pessoa: uma criança gorda. mais tarde no ballet ao torcer o tornozelo, fugiria do yoga-castigo, para no banho cantarolar i will come to you... e não pensar nem em meninos, nem em meninas, mas na dor de suportar o mundo para dançar. (talvez, ainda que fosse porsh demais, não poderia dizer se isaac me parecia bonito). mas não estamos (agora) para violinos. e algum lugar desde sempre, nas notas, tocava believe, na voz -máquina de cher. uma sapatilha de ponta vale um sapato-alto? enquanto isso nos corredores do colégio, em mil firulas, um menino avançava sobre uma menina (e a primeira pessoa fora do discurso) e insistia num "vou te lambuzar de água de coco". e eu que nem era tão adulto não me importava, mas odiava brincadeira de criança. e teve madonna em nice. billie jean: no bullying! mas isto é mais agora do que antes. tão primeira pessoa, oblíqua, tangente e com pelo menos um ângulo reto e careta. aos finais do dia, antes de dormir só poderia dizer stop! (e descer do espaço para não sonhar) e esquecer de tirar a agulha do vinil antes do último help!



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