estou cansado dos corredores da biblioteca. de suportar as minhas estranhas fantasias. escrevo ainda, não devo esperar mais ser lido. não sou um bom marinheiro. sei ligar as estrelas. sei as direções. eu não me importaria de não estar aqui. fecha logo a tua porta. vira a chave. te protege na atmosfera de tuas grandes avenidas. eu cansei destas sinapses tortas. leio rimbaud... atravesso com ele o inferno, sei dizer o nome das cores (de memória) de um quadro de picasso, mas você nem é capaz de desenhar a monalisa. ah, um sorriso que fosse um pouco menos que pintado. uma dor que fosse mais que a dor e não esta dor-dor: relâmpago amarelo num céu de caravaggio. o que se pode desvendar no movimento entre-quadros, num close fechado na janela sobreponho o juízo final de miquelangelo com algumas papoulas de monet e digo: les plus rares fleurs. mas tu não entendes que para além da referência há o acúmulo, a insistência, que só se completa na simultaneidade da sensação impossível que se apresenta. toque, qualquer tecla, à esmo, do seu piano a direita. qualquer uma, livre escolha. supenda o dedo e toque. o piano te dá o som do choque que desdobrado em agudo/grave melódico onde o espelho borrado diz apenas dos pêlos ouriçados que se escondem sobre a manga singela de tua camisa.
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