terça-feira, 22 de dezembro de 2009

exílio [3]

me diz o que tu queres de mim, me diz o que esperar de mim. estou aqui, nu, passando frios. as estações não se alternam neste inferno escuro. o inferno é assim, roendo os ossos, em abismo. sozinho, no escuro, passos da loucura. todos fazemos uma escolha lenta. cueca branca ou preta? assim decido meu jogo de xadrez. me comporto até o adágio final. sei que este romance não terá um final feliz ou trágico. c'est toi? c'est moi? não há sequer um romance ligado no aleatório. minhas janelas não abrem, não tenho terraços. há apenas a banheira, assim, devagar se enchendo, devagar esvaziando. o corpo murchando no excesso. abandonando o próprio do abandono. queria um cigarro apenas. uma baforada mística para ler na fumaça aquilo que as cartas não dizem. não sei dizer se me enviou notícias. fugi do torreão do castelo do qual me fazia dragão. um contínuo suspiro se pendura e como pêndulo agita as dores. around the world, corres e voltas o rosto pra mim, assim, como quem sabe o que disse e roga as pragas. não consigo mais predizer o futuro. All I ask of you. não sei cantar, não me dê notas assim. eu apenas ouço. estas notas são falsas, não valem nada.sempre. não sei o porquê de falar com este reflexo estranho no fundo mágico da bacia de estanho. prata, bem pudera. será que minha vela já queimou até o fim? hoje ainda é o começo da terça-feira. algumas flores não são nem felizes nem tristes, apenas solitárias. não precisam de nada, nem mesmo d'água para serem flor, sem serem abertas ou belas ou perfumadas. não fazem botão. nem se despetalam devagar. nem se dobram às janelas. mas uma flor feita em gran finale. assim molto vivace, andantino con grazia, meno presto. maquiando-se de olhos fechados, na própria dissonância cantabile fazendo muxoxo e pouco caso. rasga a fotografia e o fino dos textos! oculta o beijo... esta história não requer uma princesa. há um certo sorriso feito allegro, mas non tanto, ma non troppo, ma non molto. largo, sangrando o sangue vienense no mais leve do dia. procura o toreador, aquele que não tem touro, mas nem sabe que se já perdeu, se já morreu. manda-lhe vir. vá pensiero. tudo isto se desenha num scherzo noturno, com as estrelas do anoitecer na montanha. eu espero soar a valsa para este vazio, para este brilho cigano. it's my way. abro todos os botões da camisa, estou nu, peito limpo, esperando o franco atirador.
[22 de dezembro]

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