ora, sol? o sol queima na pele, como queima os contatos. a pele friccionada contra a pele. tu ainda acreditas que estes brilhantes são verdadeiros? não te enganes, menina freudiana, fazendo vezes de deusa e mortal, tuas asas não são para voar. assim, joga a echarpe, descobre as tuas pérolas. não esquece a sombrinha: mesmo num dia de sol pode chover. eu te digo, tu não me ouves, não me escutas. eu te aprisiono no meu quadro. o cinema é um lugar vazio. tua cadeira está lá, na amplitude, como num cemitério. eu não poderia te guiar na escuridão. não acredito em fantasmas. não posso deixar este lado mefistofélico sem tentar comprar tua alma. eu sei, o preço que valemos. ao mesmo tempo, sabemos o que não queremos. como sair da vitrine? como garantir o sorriso ao final do abraço? como saber que entre os braços, num mesmo abraço, não restará o silêncio apertado num frio mentiroso, num contato forçado, tenso de 110 e 220 w. o choque. não. recuso este espetáculo, prefiro minha cadeira de balanço, a loucura frenética das minhas páginas, o abraço branco do livro que é labirinto onde me perco. tu és aqui meu fantasma. não posso não dizer que sei o que queria te dizer, mas estabeleco a resposta como um abraço. é minha única possibilidade. responder aqui é abraçar o vazio, que se faz quente, assim como os saltos partilhados. não afrouxaremos nossos laços, assim, as marcas de batom na taça de champagne. isso somos nós. marcas deixadas como uma mordida na pele: a lembrança que ainda insiste e que nem mesmo o espelho entende. desliga as flautas e os sopros, apaga a vela, fica no escuro. de tua treva distante, nem mesmo eu posso te salvar. mas ainda assim, posso dizer qual salto podes usar e rasante irromper no horizonte do dia.
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resposta a: http://esquecodemim.blogspot.com/2009/12/um-abraco-partido.html
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