terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dois corações em tempo de tragédia

Prelúdio [1]

a Andréa

o salão está vazio, nem os quadros o habitam. na vitrola um dueto, talvez, ainda queira ensaiar uma valsa de Stolz. eu não posso fazer assim se abrir a última rosa do verão, eu gostaria, mas tenho o coração cansado como os pés descompassados. eu sequer posso te tirar para dançar. o tempo da dança já passou. está também passando o tempo da música. cabe-nos observar o salão vazio. meio-dia. as cadeiras ao inverso parecem estacas num amplo cemitério. eu ainda quero meu cavalete. não tenho mais voz para cantar, tu bem o sabes que reneguei esta voz rouca aos testamentos mais velhos, dissidentes e dissonantes. eu talvez ainda saiba pintar. segura este copo d'água. pintar diante de teus olhos esta última paisagem, última biografia, talvez retrato, não, sente-se, apenas olhe como os traços dançam no silêncio. esta é a maneira de te deitar, com tintas, meu abraço.

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