sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

D’isto que me escreves

um pouco de fôlego para aplacar o aR

Eu sei de teu rosto moreno na ausência, das coisas que me dizia, mas me sei louco por desejar algo que não há possibilidade. Isso não é nem mesmo possível depois. Hoje eu sinto uma dorzinha tão verdadeira. Estou cansado das possibilidades sonhadas, sequer sei sonhar direito. Tentei escrever um roteiro, mas as tristezas se acumulam nos frisos e entre as páginas dos livros. Tentei fazer alguma música ou uma gracinha, mas nem mesmo as rosas são capazes de durar tanto tempo. Eu soube apenas os bilhetes esparsos que me enviavas, prometias tanto. Tanto que é disto que eu escrevo, lentamente como as torneiras se abrem nas madrugadas. Esta dor dói nos canos metálicos e escoa para longe. Não poderia mais depois. Um jogo de alfinetes dobra os meus sinos, que não são grande coisa, mas ninguém saberia dizer isto que, então, antevejo deste lugar escuro. Ver de um último andar pode ser como o miado de gatos numa noite sem lua. As feridas não contam como uma vida. Das minhas sete, prefiro não contar as quedas. Só sei cair no texto. As minhas cartas nunca voltam. Eu não sei o que recebo. Eu tenho uns fios de cabelo cortados amarrados com uma fitinha vermelha. A língua presa se sabe enganada. Mas não, não posso mais nada. Eu apenas sei do teu rosto moreno e das coisas que não retornam. O igual dos dias, não voltarei mais ao impossível de teus braços. É preciso esquecer. Amarro meus cadarços para ir te esperar na saída da escola. Usando meus óculos sérios, de rapaz mau. Os livros que sabes chatos pensam nas minhas costas, mas eu peço a ti, sob o dorso do teu corpo, um beijo e apenas. Não é preciso que os poetas saibam amar, mas apenas que amem, sem preço. É preciso dizer que depois disto todo o impossível lirismo será afogado numa voz rouca e cachaça. Eu não peço mais nada. Eu sei das tuas verdades. queimaremos os violões. Mas eu preciso sacrificar meus olhos, uma vez que basta eles te vislumbrarem, eu nem preciso abrir os olhos para te ver. Eu preciso escutar. Os passos na escada. Eu te disse tantas coisas. Tu me disseste as piores. Meus olhos cegos não tem luz, mas eu desenho bem delineado meus lábios para este último beijo. Não digas mais nada. Eu te quero também, mas apenas beije. E esqueça.

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