domingo, 13 de dezembro de 2009

[6] o copo

ressaca de não ter ressaca. o papel traz o saldo da noite. ele não deveria estar assim. é tão estranho quanto acordar num quarto estranho. o banho chama, as águas, como sirenes em alerta; o gosto de pele salgada. arranha, tira o mal das outras mãos. o coração escondido repartido entre dois livros. nada faz sentido. nem mesmo este muquifo cheio até as bordas e sem gelo. é preciso ver o quanto os ossos se esfacelaram. o destino fico sozinho, como as certezas. a lógica não dá mais conta do limite da dor. é preciso para além do desenho, o poema. a possibilidade de abrir o registro e deixar a casa se inundar. é essa a força que importa, a dor que lacera a carne sem arrancar nenhum pedaço. a dor feita sensação cerebral e fria, sem amor. requisito daquilo que a palavra não escreve. que a todo momento no movimento dele, ele persegue enquanto eu o persigo. núbio e dúbio. ambos. é o piano quebrando com os rostos vazios diante da janela, do vidro, do fundo do copo, ali onde o copo despenca.

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