sábado, 16 de abril de 2011

Outdoor

(uma dor em alta)

Rosto rubro, respiração ofegante, na sombra as mãos se tocam de leve, no pensamento as coxas se roçam. Mas eles não deveriam. O sorriso oculto pela sombra do olhar. A angústia demonstrada nas unhas roídas. Entre eles o silêncio. Qual deles foi o primeiro a desistir? Todas as noites um passa as noites em claro, pensando nos caminhos bifurcados destas páginas, enquanto o outro dorme. Todas as manhãs, enquanto um vai então dormir, cansaço vencendo a insônia, o outro toma um banho rápido para acordar. Será que isto seria apenas um cenário? Poderiam os dois garotos atravessar as páginas deste romance simplesmente de mãos dadas? Um pensa tanto naquele impossível não-dito, descobriu certezas nas suas dúvidas, mas uma dor azul ainda toca como um sopro a nuca. O outro percorre a cidade, distribui sorrisos, quem sabe com quem se esbarra, com quem almoça, mas esta lá, no centro do mundo, correndo. Aqui, de longe, coando na tinta o que poderia ter sido dos garotos, um quase escritor não sabe como decidir. Quem poderia romper o silêncio? Como decidir? Por isto desiste, abre um vinho, são quatro horas da manhã, o corpo sempre vence a mente. Opta: no frio, a banheira de chumbo batido, tão mais antiga que as fotografias sobre a escrivaninha (…ele tinha mais ou menos 5 anos e um coração…). Hora de deixar as idéias cozinharem num banho-maria de sais, na dormência do vinho. O que espera é apenas o espaço silencioso da casa, a cama vazia, a orquestra regida pelos relógios de corda, os degraus do sonho.

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