“reductio ad absurdum”
É, sou um garoto, destes que gosta de livros, ballet, música clássica, desenho, pintura, cozinha, costura e, ocasionalmente, de outros garotos. Deveria ser simples poder escrever deste meu ponto de vista, mas talvez o frio, o silêncio escuro lá fora me faça pensar um pouco demais. Talvez seja um garoto que pensa que pensa demais. Estou nos arredores de Lages, em exílio, alguém poderia perguntar o porquê disto… e para poder responder a esta pergunta, este alguém teria de me dar em troca a resposta de um função quártica derivando de cabeça. Rotule-me como “Magicada Septendecim”: vivo este meu longo tempo invisível, talvez esperando o momento certo. Apesar de estudar literatura, a matemática me fascina. Um dia quem sabe aprenda mais do que apenas olhar, ler e pensar. Já tive as minhas ideias simples e elas envolvem os números 220 & 264 (são números amistosos, ou seja, pares de números primos onde um deles é a soma dos divisores do outro). Um comigo, outro com… ainda espero… Não tenho nenhuma razão suficiente ou dúvida razoável, mas meu corpo está cansado e isto não é uma metáfora, é uma tentativa de confronto: se ainda escrevo é ou pela resistência do corpo ou para tentar vencê-lo. Não sei de qual lado estou. Não gostaria de ter que sorrir, aquiescer em silêncio, suspender meu livro… mas gostaria daquela mão aqui, do quente lateral… mas, nesta minha dimensão, meu cinema é mudo. Os meus cílios se trancam um no outro. Eu tenho algumas perguntas que procuro responder: como representar o impreciso? Como algo menor que o infinito também pode ser infinito? Espero assim no vazio…dividindo a esperança por zero… o que me faz ir ao infinito um infinito número de vezes. Por outro lado, talvez este seja meu problema, eu sei do meu limite finito, meus dias finitos, girando quadrados e em poucas cores como um cubo rubik. E nem posso me dar ao luxo da banheira: está frio… não tenho coragem para deixar o cobertor. Poderia talvez sonhar, mas quase nunca me lembro. Deveria comprar uma cadeira de balanço. Não sei quando devo voltar a minha pequena ilha… não sei também se devo. Não posso dizer nem mesmo se voltarei a escrever aqui. As vezes penso que deveria voltar para os cadernos e as gavetas, mas isto não é tão diferente, mas uma gaveta aberta, não impossível, mas improvável. Um terno bem cortado, acinturado, luvas, sapato elegantemente engraxado, colarinho italiano… esperando a criança depois da aula. Mas ela talvez não venha, como o futuro talvez não venha. Talvez tenha me perdido em alguma bifurcação e as variáveis tenha sido pisoteadas por salto-altos selvagens. Um crime de grife é ainda um crime. Na solidão sem estrelas lá fora ainda resta o escuro da noite. Na solidão da letra aqui, resta a solidão de quem escreve. Na solidão e vazio (divido por zero) este silêncio, a vontade de calar, de não poder… mas talvez um pequeno amor, seja amor, e por isto não possa ser pequeno. Mas não posso acreditar numa falácia de pés tortos. E se… eu não deveria escrever e se… ainda penso algumas vezes naquele nosso impossível
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