Queria ser um interventor, na realidade, não apenas alguém que faz um diário. Neste momento ouço Cher – If I could turn back time. Acho que não sei escrever sobre muita coisa assim. Breton escreveu em “Introduction au discours sur le peu de réalité”, em 1942, de que não adianta modificar as palavras, já que, tais como são, elas respondem ao nosso apelo. Não sei se minha experiência, de não-poeta, de não-escritor, mas nesta escrita intima, se sou eu quem chamo as palavras ou são elas que me chamam. É como se, neste espaço fundado, não pudesse apelar as palavras, mas elas me devolvem alguma sombra, esta linha que retorna e me possibilita o que nem mesmo sei. Talvez esteja mais perto do sonho provocado de Boiffard, Éluard e Vitrac (no prefácio de “La Révolution surrealiste”, n.1, dezembro/1924), do que de Breton, mas a resposta é complicada: não durmo, não lembro meus sonhos, bebo pouco, geralmente desperdiço minha bebida (como quando banhei alguém com um copo de caipirinha), nunca provei éter, cocaína ou morfina. Aragon (“Une vague de rêve”, 1924) valida meu argumento com a idéia de simulação (que ele contraria) e de jogo: posso dizer que “observo” em palavra aquilo que argumento e experiencio como uma possibilidade de alternativa não-lógica para a lógica, mas mesmo uma não-lógica tem um sistema lógico. Paradoxo de linguagem ou choque dos conjuntos? Não sou surrealista, isto é possivelmente um dado para além do fato, mas acho que acredito (ao meu modo) no primeiro parágrafo da “Declaração de 27 de janeiro de 1925”, de que nada tenho a ver com a literatura, mas sou bem capaz de me aproveitar dela quando necessito (uma mudança oportunista nas desinências implica em não-inocência).
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