sábado, 29 de agosto de 2009

a dor que não dói mais. deixa as marcas. a cabeça oscila. a pressão que só há entre as têmporas. a tosse que devagar me deixa, que fraco me deixa, volta com força. a reclusão é lugar de ascese. sem orações ou lamentações. abro as cortinas, ainda de pijama, o céu (agora) entre o roxo e o laranja, de um azul meio verde, meio profundo. todas as poesias são profundas quando roçam a pele. como barba, respiração, outra pele. não há pressa quando se precisa de um lugar para estar. dobrar as luvas à meia luz. voz que resvala nos cabelos bagunçados, no fundo dos olhos inchados de dormir. e a tosse que vai e vem e mancha os lenços de seda (agora que me falta os de papel). meus amores... tão longe. intocáveis. o céu escurece rápido. o mar oleoso aparece como mancha borrada. tudo se abre tão personagem como coxas de fácil acesso, como curvas de morte. o escuro engole as certezas em três degraus. há a fixação mística pelos números e pelos nomes. pela voz do outro que se ausenta na noite. no vento da noite que chama seu nome. no gato que deitado aos meus pés me lembra do frio e da dor. do livro que despenca com o sono aberto em três poemas numa língua desconhecida. as janelas estralam: os vidros quase que quase quebram. a alma lateja cheia de marcas. o livro convida como ombro amigo. a lâmina das páginas convidam, lâminas amigas. os desenhos e rugas despem o avental dos degraus gastos como a escrita gasta e gasta. perde-se facilmente mais do que a mão num poema: perde-se a cabeça e os pés. os pequenos pés de número 37. de aberturas vastas em campo aberto de taças viradas. um gole de água. gole seco de água. pancada no estômago. as cobertas e o calor do meu para o meu corpo. só. suspenso de través no tempo. ao redor do espaço. aberto entre as tulipas vermelhas que tenho ao alcance da mão. escrevo um último bilhete. jogada mortal: não envio.

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