domingo, 30 de agosto de 2009

aniversário

aos 23 de Robb

chave lançada debaixo da porta. original quase cópia. aniversário com métodos de adolescente de 15 anos. na surdina. silencioso. ladino. nem mesmo os cães ladraram. é de estranhar que tudo esteja tão estranhamente estranho. o excesso não é redundante. quer aprimorar o sentido. gosto de gengibre na boca. tão superiores, forma & força, juntos nisso como em outros planos. tão detetivescos. um arma os alicerces. outro engendra a ficção. não nos restringimos ao roubo de copos (que nem roubamos neste hoje-ontem). com o garfo e a faca olhamos o bife. bifes não têm alma! aprendi a comer carnes. ele sempre comeu. as batidas descompassadas da espera. a música, a boa música, não veio, como não veio o belo sorriso. solitários em conjunto. duas velhas jogando truco e tomando dry martini. (nem isso). água. tanta água. tão saudáveis. tinhamos um ao outro. apenas. tinhamos os outros, aqueles dois no espelho duplicados. um sorriu e levou óculos. a troca de personagens. um nem sorriu e levou um puxão de cabelo. patológico. a noite feita jogo da velha. marque seu X que eu marco meu óh. a voz em sustenido dizia: fail. o abraço, os nossos, pelo menos eram sinceros e singelos (acredito). [...o estranho presente que eu não pude dar...]. mas se tudo era treva e mistério, entre a luzes coloridas dos holofotes, veio o sol. mas veio também greta e audrey. marilyn gemia ralo abaixo ou no olhar deitado na saída da escada. (onde está minha aspirina?). o mundo era incrivelmente feito de listras. dava até para pular amarelinha. o aniversário, todavia, ainda virá: 6h da tarde. em Paris? possivelmente. quando o sol sair, assim como saímos. andando ao som dos violinos e lembrando no acorde das dúvidas que dilaceram a carne, nas cicatrizes que o corpo não mostra, no peso lascerante das palavras. lembrando, com viço, de bem longe. um abraço apenas. um desejo em conjunto apenas. sem estrelas cadentes. a única estrela era o sol que insistia em brilhar. esperaremos a sorte no jogo de dados. com um sorriso matreiro de adolescente retirando a chave pôr debaixo da porta (a cópia no bolso). aniversário: nem houve, ainda. houve uma festa de nós dois por um amanhã: teu presente.

Um comentário:

  1. Aaahhhh, Ev!
    Só podia ser coisa tua, mesmo!
    Adorei, achei lindo!


    Resposta

    Após as 18h. Aos 23 de fato.

    Um resumo perfeito de tudo. E de uma maneira que só você sabe contar. E que talvez, só eu saiba entender. Propositalmente, até. Duas velhas jogando truco e tomando dry martini. Explorando "o outro". Ou "os outros". E vendo que nem sempre eles valem a pena. Que nem sempre pessoas de listrado valem a pena. E que óculos são insistentes. Pra caralho, diga-se de passagem. Que existem sim pessoas espaçosas. E que elas incomodam. Ao cubo.
    Porque toda a adrenalina do sair-de-casa-às-escuras é um revival da adolescência. Assim como as frases soltas pela rua. Ou o joguete de fim de noite. Onde todos buscam o prêmio. E saem perdendo porque não souberam jogar. Estratégia? #fail. Como sempre.
    E porque a vida acontece em fila indiana. Pra entrar. Comprar ingresso. Comprar pulseira na fila que não serviu pra nada. Na fila que finalmente funcionou. E depois, no bar. Isso sem contar todas as outras. Ou melhor, uma única. Mas de todos os outros dias. Lugar de interação, observação, jogação. Por que não? A vida é um eterno aprendizado... Narcisa nos rende momentos ótimos. E concordaria comigo quando eu digo que não tenho nada a falar sobre o bife. Sobre aquele pedaço de carne retorcido e nervoso. Temos outras opções. Basta olhar para o lado. Esquerdo, nesse caso.
    E quando olhar pro lado não é algo agradável pra se fazer? Esconde o rosto, vira de costas, esconde o perfil (mas sem deixar de fazer o requisito). Por que as pessoas tem tanta necessidade de se fazerem vistas? Mandar recado uma, duas vezes... "Espero te encontrar lá". Ah é? Pois eu não, gato. Desencanei. Não sei nem como deixei acontecer. Aquela foto não ornou. Listras brancas e pretas caem bem melhor. Ou então um sorriso lindo acompanhado daquela amiga do amigo no shopping, no domingo. E que eu só vejo no fim da festa. E que não me vê. E que não faz mal. Estamos aí. Continuamos aí. Como sempre.
    Uma festa de nós dois por um amanhã. E por ontem. E pra sempre. Naquele sobradinho, naquela fumaça, naquele amontoado de mesas, no quinto andar. Ou em qualquer outro lugar onde o mundo gire e tudo se acabe em copos vazios que depois enfeitarão a prateleira da nossa sala de estar. Porque precisamos da lembrança material. Palpável. Para mostrar aos que nos rodeiam. A prova inegável de que toda aquela alegoria realmente existiu. Porque as lembranças ficam guardadas. Mas no futuro, podem não acreditar naquelas duas velhas jogando truco e tomando dry martini.

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