segunda-feira, 31 de agosto de 2009

domingo, 30 de agosto de 2009

aniversário

aos 23 de Robb

chave lançada debaixo da porta. original quase cópia. aniversário com métodos de adolescente de 15 anos. na surdina. silencioso. ladino. nem mesmo os cães ladraram. é de estranhar que tudo esteja tão estranhamente estranho. o excesso não é redundante. quer aprimorar o sentido. gosto de gengibre na boca. tão superiores, forma & força, juntos nisso como em outros planos. tão detetivescos. um arma os alicerces. outro engendra a ficção. não nos restringimos ao roubo de copos (que nem roubamos neste hoje-ontem). com o garfo e a faca olhamos o bife. bifes não têm alma! aprendi a comer carnes. ele sempre comeu. as batidas descompassadas da espera. a música, a boa música, não veio, como não veio o belo sorriso. solitários em conjunto. duas velhas jogando truco e tomando dry martini. (nem isso). água. tanta água. tão saudáveis. tinhamos um ao outro. apenas. tinhamos os outros, aqueles dois no espelho duplicados. um sorriu e levou óculos. a troca de personagens. um nem sorriu e levou um puxão de cabelo. patológico. a noite feita jogo da velha. marque seu X que eu marco meu óh. a voz em sustenido dizia: fail. o abraço, os nossos, pelo menos eram sinceros e singelos (acredito). [...o estranho presente que eu não pude dar...]. mas se tudo era treva e mistério, entre a luzes coloridas dos holofotes, veio o sol. mas veio também greta e audrey. marilyn gemia ralo abaixo ou no olhar deitado na saída da escada. (onde está minha aspirina?). o mundo era incrivelmente feito de listras. dava até para pular amarelinha. o aniversário, todavia, ainda virá: 6h da tarde. em Paris? possivelmente. quando o sol sair, assim como saímos. andando ao som dos violinos e lembrando no acorde das dúvidas que dilaceram a carne, nas cicatrizes que o corpo não mostra, no peso lascerante das palavras. lembrando, com viço, de bem longe. um abraço apenas. um desejo em conjunto apenas. sem estrelas cadentes. a única estrela era o sol que insistia em brilhar. esperaremos a sorte no jogo de dados. com um sorriso matreiro de adolescente retirando a chave pôr debaixo da porta (a cópia no bolso). aniversário: nem houve, ainda. houve uma festa de nós dois por um amanhã: teu presente.

sábado, 29 de agosto de 2009

a dor que não dói mais. deixa as marcas. a cabeça oscila. a pressão que só há entre as têmporas. a tosse que devagar me deixa, que fraco me deixa, volta com força. a reclusão é lugar de ascese. sem orações ou lamentações. abro as cortinas, ainda de pijama, o céu (agora) entre o roxo e o laranja, de um azul meio verde, meio profundo. todas as poesias são profundas quando roçam a pele. como barba, respiração, outra pele. não há pressa quando se precisa de um lugar para estar. dobrar as luvas à meia luz. voz que resvala nos cabelos bagunçados, no fundo dos olhos inchados de dormir. e a tosse que vai e vem e mancha os lenços de seda (agora que me falta os de papel). meus amores... tão longe. intocáveis. o céu escurece rápido. o mar oleoso aparece como mancha borrada. tudo se abre tão personagem como coxas de fácil acesso, como curvas de morte. o escuro engole as certezas em três degraus. há a fixação mística pelos números e pelos nomes. pela voz do outro que se ausenta na noite. no vento da noite que chama seu nome. no gato que deitado aos meus pés me lembra do frio e da dor. do livro que despenca com o sono aberto em três poemas numa língua desconhecida. as janelas estralam: os vidros quase que quase quebram. a alma lateja cheia de marcas. o livro convida como ombro amigo. a lâmina das páginas convidam, lâminas amigas. os desenhos e rugas despem o avental dos degraus gastos como a escrita gasta e gasta. perde-se facilmente mais do que a mão num poema: perde-se a cabeça e os pés. os pequenos pés de número 37. de aberturas vastas em campo aberto de taças viradas. um gole de água. gole seco de água. pancada no estômago. as cobertas e o calor do meu para o meu corpo. só. suspenso de través no tempo. ao redor do espaço. aberto entre as tulipas vermelhas que tenho ao alcance da mão. escrevo um último bilhete. jogada mortal: não envio.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

indifferance

quadro

a rôdy

descubro um personagem. falta-lhe uma história. nem precisa ser uma grande história. um romance em três atos, salto alto e pesada maquiagem. em que corpos desnudos se abrem e se descobrem. na prosa me sobra poesia. converso. o que afeta o corpo não afeta sua sombra intrinseca. aquilo que não o habita, habitando-o. ouço os violinos, arcos ferinos que ferem o pulso: navalha. sobra de nota. arroubo de tamborins. um grito suspenso. leio os poemas alheios. corpos alheios. imagens alheias. chamando atenção a todo custo. um curso de dúvidas. leito de rio enquanto leito de corpos conhecidos, aquecidos pelo sol da aurora. as rosas, no peitoril da janela, o solilóquio melancólico tão século XVIII. ensino, quadro negro. tabuada esquecida. a mão amiga me sustenta na distância. tenho presente na consciência o signo, cisne-sinal, que dedico. abro a mão. marco com o sinete, a cera, minha marca. sobre o corpo branco da página. o nu do corpo, como nu da escrita. confesso. as marcas da minha pele são as minhas dúvidas e certezas. possibilidade de uma história. à venir.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

N A T U R A

“Anima, quae peccaverit, ispsa morietur”

à Aline.

I
eu te descubro
vil criminoso
de sobrolho
escondida
nua
num quadrado
borrado
de adília
e sei que fizestes
suas mil
maldades

II
Poderia fazer um acróstico
enquanto arquitetura
do nome
mas te descubro
essência nua
musa má
sadiana
de unhas vermelhas
e ouvido
colado
à porta.

III
Temos com
tato
descobrimos
abstraímos as coisas
caímos tontos
no meio das letras
incendiamos o alfabeto
e fugimos.

IV
Tímida donzela
sei que te escondes
nestes clichês
calada
nas caladas da noite
invades o quarto
roubas o homem
alheio:
violentas Diderot!

V
e com que pernas
jogas
futebol
de saltos afiados
atravessas
as rosas artificiais
que lhe jogam no caminho
e te atravessas
e fazes o gol.

VI
E não nos falta a classe
e o requinte
das fofocas ocultas
no fundo de muitas bolsas.
Trocamos as mãos.
Escrevemos poemas.

VII
uso seus óculos
naturais
eles me caem
vejo o mundo
como você
e do seu lugar
sem saltos
ele me escapa.

VIII
Fauna e Flora
são feministas gordas
que não discutem o tamanho dos soutiens
tu
passas
une passante
arrematas o ar da graça.
E rindo,
e esbelta
abre a chemise
e lhes mostra
o que é
ter peito!

IX
E já escrevias
poemas eróticos
nas carteiras da classe
com a cara de anjo.
Tudo uma questão de requinte
de doce maldade

X
Conheci uma menina
muito caprichosa a comer
(e a beber)
quase que tinha tempo e vontade
ocupava
discretamente
os esparsos espaços
em branco
entre as letras
no resto das páginas
dos poemas.
Não passou despercebida,
Mas também não foi notada.

XII
e ela tirou a máscara
de mulher
e se declarou
o homem
perfeito.

XIII
Ouço o eco
da Natureza
inquieto
me aconselhando
nos primórdios
no fundo oculto
das perfídias da corte.
Fecho os olhos,
passo batom,
calço os saltos,
me armo:
-fight!
_____________
Nossa Sra. Do Desterro 27/28-IV-2008.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

esboço médico
verbo intransitório de três palavras largadas
dentro da garganta arranhada
você corre
sabe-se pra onde
nem todo mundo
mas sabe-se sabendo
retocas a maquiagem
resvala no olho fundo
põe-se entre o cadáver, o fantasma, o acidente
tem o bisturi na mão
a incisão
- disseca e crema -
as palavras que condena
o verso
fecha o livro
sem capa

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A volta

com sério resquício de Caio
ao som de Sílvia Machete


Último banco do ônibus apressado que anseia dar voltas ao mundo e parece não se contenta em ser um Carvoeira Sul. Ele, de all-star, jeans justos, olhos esquálidos e rasgados, ressecados da noite, do gelo seco, lê. Abraça Caio, partilha uma mesma dor: a dúvida silenciosa de não saber se procura o caminho para além da curva, da beira-mar. Ouve nos fones os címbalos metálicos de Sílvia. Fuma com ela (com ela!) as palavras de tom azul do final da tarde. Nem Londres, nem Paris, apenas o celular. O livro balança, na lembrança a tentativa bizarra de assalto ("ei, você vai me dar um dinheiro!"), o sorriso volta bem idiota. O ônibus ainda balança, a alma se segura no corpo que se segura travando os joelhos no banco da frente. De Valentino, em lentes dum chiaro óscuro de falar besteiras. Bem mimimi. No reflexo reflexivo da lente a pergunta lateja com referentes: só quer saber onde andará? Não bem ela, mãs... O celular brilha, sem tirar os fones, recebe uma notícia feliz: a permissão para a possibilidade de morrer um pouco, um pouco mais, assim, dedo à dedo, de cada vez. "My favorite demon", murmura. A resposta que queria não vem. O ardido do Bloody Mary ainda está preso na garganta. Tosse para espantar as dúvidas. Os pulmões querer fugir. Enche de ar o vazio do peito do ar. Nem uma 3x4 relevante. O ônibus ainda corre no ritmo dos pensamentos jazzados. A voz rouca não sai. Espera a nota final da música que retorna. O ponto final: do caminho, da dúvida, da dor, do chiado lamuriante que incita a tosse, da vida. Do último folêgo.

Clarissa

a Mrs. Dalloway

assim me apareceu
com seus imensos olhos amarelos
dois faróis de pisca-e(m)-alerta
e à espreita
subornando os bordéis
o ombro criminoso
o dedo em riste
desejando uma mão oculta sob a mão
um toque
que lhe desarmasse as garras
destravasse os dentes
a história feita em curvas

domingo, 23 de agosto de 2009

dor no peito

ela. ele. tosse. tosse. tosse. contorce. o peso no peito. chiados. encilhamentos de em-si-mesmo.  mil faces postas num pincel. maquiagem vendida à francesa. de um glamour único. a coxa que se toca e uma coxa intocada. não deve. dama solteira e  mãos largas de diller. unhas róidas e o peito que insistemente insiste convulso. tísica de terceiro andar. à deriva entre os gelos do sangue de maria. da margarida sem campo. de contorno e negros olhos. o rímel esquiva e irrita o olho. dor de fumaça de cigarro. dói. aqui. entre o espaço de coração ausente.  nenhum beijo. escadas e tantas.  nenhum texto. só a ausência reclusa da respiração que dói em saltos-altos e num copo de morte ganha. nenhum desconto. espera-se o sangue. dói as cores das cores e no espaço de si. caveira estreita. dói a poesia de uma ausência. à espreita dos pares: 1 com 2. 2 com 3. 3 com4. geometricamente. linearmente, a sintaxe foge. o porquê insiste. tosse. sem trinta e três. eu dou bandeira. descaradamente. nas bolinhas da minie. mato a disney. danço. jogo as cartas. desligo o telefone.

sábado, 22 de agosto de 2009

my favorite devil

eu penso em você. e odeio aquela ali. uma lição secreta: não roube os cabelos da boneca, meu bem. ain. preciso comprar uma aliança. as crianças correm. dançam secretamente. tu é minha elis. eu sou tua bethânia. marginais. eu preciso sambar ali na beira-mar. evocar os desejos e sirenes da água. caio me abraça. ana cochicha no meu ouvido. odeio pessoas estúpidas. peça desculpas ou pague o preço. ouço a MINHA música. sem rosas. sem dia pra velório. chatoboy.  adoro os autismos.  e nem estraguei o estômago como estraguei os  pulmões. litros de chá.  não aceitamos chantagem.  eu tenho minha maleta e vou pegar o trem. tenho um rosto para transformar noutro. meus fantasmas. ai. ai. ai.   isso, esfrega devagar minhas costas. a maquiagem grita. o mundo gira. ando km. esqueci meu endereço. datilografa rápido a carta passada. espero notícias. um beijo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Muril&Ana

temos r, l, e, g
e há o a também
varios a
tão naturais
cada letra conhece seu encontro
sua catedral
seu vôo de quinto andar
a quina do bar
o copo roubado
(a fixação de moça solteira, ainda)
dois com dois
um infinito que dobra o outro
maior que
mais que
menor ainda
e tão inútil
a poesia de uma tarde inútil
onde está meu café?
meu bilhete?

o deserto em blues e jazz
abre-se no frio azul dos cachecóis
todas as estrelas são vermelhas em
meu all-star branco, sujo, verde, xadrez

a mente aberta com rachadura
os livros pesam nas costas
mas são a única opção

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

3 mesas vazias
quadriculadas
3 moças caminham
esguias fadas
insistemente
de um jeito e de outro
de ambos e com quase nada
há alguém que fuma
fuma muito com o andar da estrada
estrategema de delírio de pensamento
e na fumaça
ainda há espera
de lenços, laços, cardaços
apertados que machucam

desisto da escrita

roubo a fumaça
com o fundo do olho
nas rodas da boca
nos faróis do desejo
há apenas o suspiro,
freada de morte.

________________
São Paulo, 19.07.2008. [rumo ao Hotel Bourbon]
no silêncio de campo aberto
faço versos
entre linhas que se armam
no vôo dos pombos
de um espaço suspenso
sufoco a última palavra
engasgo
espero
no vão
rasgo de alma
por um vulto
humano
que nunca chega
___________________
18.07.2008.
15h23 - No MASP.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

um poema não vale uma xícara de café.
uma xícara de café não vale uma paisagem.
um desenho ruim.
poemas esparsos e não lidos.
a música da estrada.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

toilette

o gemido claudicante do piano implora que não esqueças. desfaço a maquiagem, os olhos borrados, os dedos azuis. um filete de sangue escorre do terceiro dente, perto do canino. o olho se descortina em escura névoa. eu, eu mesma, retiro as pérolas róseas como a pele que tocam. os dentes precisam de carne, de outro sangue. chove como saliva na superfície do espelho repleta com as dores que escapam do porta-jóias. o frio cristal. há a dor daquilo que não há. as notas se imprimem no fundo dos ouvidos, arrepiando os pêlos, ali nas marcas não deixadas no corpo pela pressão de teus braços, de teus lábios. o peito tem necessidade de espaço. o que se encontra no fundo falso do espelho nada mais é que o duplo certeiro de uma mulher que se aperta em seu corpete e não se deixa escapar nas cartas que escreve. duas vias. duas mãos. o silêncio que geme no letra-a-letra. a curva que treme o pulso. o vidro me esconde. o estômago vibra a liquidez de um gesto rarefeito. um gole amargo d'água. o peito marca um grito. os passos que não ecoam no quarto. tão telegráfica e reduzida às chamadas, à campanhia. sinos doloridos de casarão vazio. os diamantes ainda pendem majestosos das orelhas. alma velha mergulhada em finos champanhes e uísque. asas de um anjo branco de capote. a névoa, para além das cortinas de veludo vermelho e da mágoa pesada dos móveis centenários, engole as cartas. idéia cortada por assépticos bisturis. sem anestesia. pedra sobre pedra. gesso sobre a cara deslavada, preservando o impossível de vida sob a caveira. sem segredos a serem revelados. dor à revelia. o rosto humano visualmente exposto num furor de besta civilizada. cada piscadela apaga uma letra desta lápide indigesta. as navalhas abertas sob os lençóis de seda do leito abandonado. o piano rouco. o céu recolhe estrelas. restam os violinos. e a maquiagem desfeita - um múrmurio baixinho, os gemidos engolidos pela nobreza - um traço de lápis delinea o limite, maquiagem refeita. a verdade aos olhos escapa, mas se deixa rir. e se deixa ir.

cena IV

o gemido claudicante do piano implora que não esqueças. desfaço a maquiagem. olhos de gata cega, dedos de unhas longas. retiro as pérolas. rosas e frias sobre a pele. densa pele. frio crista que encontra o chão. a dor daquilo que não há. se poderá dizer que converso lentamente com a sra. fina que me observa do fundo do espelho e tomamos chá. aliceanamente.marquiagem refeita. conto o reis e réis da cena aberta. fundo vazio de cinema. estômago ecoando e insistente. 3 kg de beleza perdida. anos esquecidos no porta-jóias. empresto o rosto pra um outro.

cena III

o filete de sangue escorre do terceiro dente, perto do canino. o olho felino se abre em escura raiva. os dentes precisam morder. da solidez do corpo alheio. há a necessidade do espaço. de pisotear o cadáver. o pensamento clínico da hipótese. idéia cortada por mão hábeis e cirurgicamente tratada. sem anestesia. corpo deixado no éter. trabalho de cemitério. pedra-a-pedra. o gesso na cara deslavada. preservando o impossível da vida oculta sob a caveira sem segredos a serem publicados. alças, forcas, guindastes e roldanas. ganchos e pregos. em frontes. pal-pi-tan-tes. o rosto humano visualmente exposto num furor de besta civilizada. cada piscadela esquece um nome. um gole de uísque. pedra angular de um crime. as navalhas abertas de encontro ao rosto. adubo para os jardins e carne para a mesa. o céu recolhe estrelas.

cena II

chove. a saliva escoa com as dores baforadas na janela do carro. duas vias. duas mãos. o pescoço erguido busca ar. a palavra dói no face-a-face. a curva erra o pulso. o vidro me corta e esconde. o estômago dói a liquidez de gesto rarefeito em gaze. gás de cozinha. há bile nas palavras. um gole turvo d'água. o peito marca um grito. os passos não escoam no asfalto. há a polícia, os limites, o tabuleiro. as cartas somente extra-viadas. a névoa densa engole Aquiles. o silêncio dos deuses. não a deuses para a sorte. resta a morte. inventando palavras e buracos nas ruas. o sequestro da memória e a tosse amarga em sangue.

cena I

quando aceito as regras do jogo. fico ali quieto no canto, submetido as linhas de frente: as dores vagas da ausência e raiva. penso teoricamente uma imagem máxima. não tenho sequer aquilo que detestaria. tento poesia e faço maquiagem da palavra. tão telegráfica e reduzida as inúmeros chamadas de telefone. cansei de ser confessional. dessa biografia que não se sustenta. de um nome vago e impronunciável. sem acentos. sem ge-nealogismos. sem a música extrema a gritar em cores, em vermelhos agudos e doloridos. sem preciosismos e expressionismos. quero o ouvido, a orelha de diamantes. essa alma velha que transparece em gritos engolidos. liquidados. penso no hospício, no hospital.. no uísque e na vodca que se tem à mão. as asas de um anjo branco de Truman Capote. sem lágrimas, Penélope ainda tece.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

sauvage

rascunho

quando poderá ser a hora?

a renata gomex.

se me chamas, não insisto. existo e te atravesso num sonho confuso. espero contato. 05h54. e convido e abro portas, as comportas tão cerradas quanto os olhos. eis o sonho. 13h16. não tinhas certezas e fostes. o tempo reverbera, ecoa e destoa. sonho escrever um poema que não vem. eu decidi o gesto. as canecas dobraram sobre as asas de um zéfiro. as ondas, beijos d'alguma vênus, sereia secreta, se abriram entre pontas. o relógio. a sombra. o beijo. outro beijo. 17h30. as casas dormem vazias e engolem no silêncio pequenas pedras de solidão. 23h28. uma possível certeza que se acerta. tiro no muro. boca aberta. 23h53. a gente se basta e a voz, o vinil, lá nas dobras da terra em quem mar não toca a xícara, tu habitas. e tens os meus cabelos enlaçados aos teus cabelos. e longos. e negros. expansíveis como dor latente no meio do peito, entre os pulmões, no cotovelo. MEIA-NOITE. a vida. #fail. somos loosers ao reverso do espelho. ali no cantinho sujo da moldura. e ficamos, tu e eu. tão falantes, letras gritantes, reiteradas no silêncio. e dormimos, quietos e (equi)distantes. abraçando gatos, tigres e leões. (quem insiste sempre na morte?). e tantas ligações, cartas, recados. meus e teus e entre-nós e para além de nós. e nos sabemos tanto. a moeda gira: a coroa persegue a cabeça. sem valor. 14h33. mas o desejo se ausenta. fala num depois. num ainda que dói e rasga as páginas e se contorce em Tecnicolor. 22h06. e a dança. a valsa não veio. o canto do cisne não veio. mas viemos nós. tão iguais e incomuns. tu de salto e eu nos saltos me assombrava. a música descia em taquicardias. tão linda, a mulher. 10h58. o tempo corre com os atrasos: as pedras que habitam o fundo dos olhos. 15h38. a victória abre asas tão helênicas e roubadas. um rosto fake. mas tão verdadeiro. e eus & eles. mas há Tu aí. no silêncio que vibra e rugi. e odeia como eu amo. tão complementar. a voz do disco arranha cantando às 22h50. e se quisesse como tu querias. 22h59. tens dor no pescoço. eu tenho pés cortados e as mãos, costas, maltratadas. nem se pode dizer o motivo. o martírio não veio, mas a glória das dores... 23h05. o cão sentado é quase místico chacal. leremos os poemas da cidade em ruína. perderemos os versos para recuperar as cabeças. 23h08. plantão médico: as palavras sem cortes. cos-tu-ra-das. eu escrevo: MEIA-NOITE.


domingo, 16 de agosto de 2009

complexos cirque de soleil

eu voei. nas direções do fundo preto do palco. o samba tocava. as notas que rasgava entre os flashes e etiquetas diziam que minha nobreza caía. eu falei italiano com certo signore. não poderia dizer nada mais. nem muito mais. mas queria. e sabia. e desfazia as verdades que aos poucos reconstruía. sabia contar. 1-8.  greta vence audrey. abro novas listras. desfaço as malas. as certezas. quero doce. sorvete e certeza. queria ouvir a voz. a tua. aquela. espero. não sei. não deveria estar escrevendo isso.  burroughs vai brigar comigo. setas. setas. curvas. corpos. tantos e eu não queria nenhum destes. eu ando tão vesúvio entre flores, faunos e feras. encontrar a francesa no shopping? compras, não mais.  eu gosto tanto de suas bethânias e suas vozes abertas em largos cabelos. e eu queria. esta selva aberta em pêlo. selva seduzida em peles. queria tanto as estrelas impossíveis que não encontro. nem naquela dança. nem mesmo naquele rosto que me salva e me agonia entre dados e dardos. contramão de um saltimbanco assaltado e açoitado pelo vento das coxias. as cortinas sempre caem e matam. matam um cadáver que não há. aqui. e aqui mesmo. eu deixo. a queda roxa e púrpura que marca (palavra inaudita) sobre a pele.

sábado, 15 de agosto de 2009

festa

fomos que fomos, e quicamos. dançamos. éramos 3 e 4. mais vários. e chocados. e entregues. mergulhados em taças de champagne roubadas. flutuantes. eu pensava em ligar, queria aqui. não deixaram. okay. aceito. dancei. e tivemos as nossas núpcias. entre as jubas e jujubas de uma festa que roubamos os holofotes. tão lindos. tão esquecidos e lembrados entre si. nem precisamos de mais do que nossos abraços e danças reconfortantes, dessa poesia over. nem queríamos, bitches, se perder. e na noite. entre luzes faíscantes. copos. copos. copos. e felizes. e sorrisos. nos esquecíamos, amigos, um nos braços dos outros. uma musa marginal, que ria à americana... um modernista de alto escalão político, à alemã se impunha e se abria... e polidez e grandes e largos gestos que (re)comportam o mundo... um arquiteto à membro de conselho, que sabia onde encontrar os copos, sempre os copos, a fixação dos copos. e o nobre barroco que sabia das partes da corte, de onde fazer os cortes. todos em sedas e brilhos. nobílissimos. e tão mágicamente unidos e felizes, como um único sorriso que se rasga em festa e noite estrelada.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

linhas

ao sr. r.

linhas são palavras. palavras dispostas em quadro. o quadrado de um céu abacinado por uma boquilha disposta em forma e elegância. o tropeçar de um gole de café n'um final de tarde. o olhar que me escondes na esquina que dobras. uma linha curva tangente ao largo sorriso de um boca toda luz e leve. as palavras delineam o limite da linha. a quebra da linha. o fim da trilha. é por puro capricho que te afastas e enquanto falas tento capturar (em desejo) as linhas de teu rosto. o lápis afiado, mas as linhas se dissolvem em sons. califo[r]nia. antevejo a ária que lhe dedico. sem ser verso virtuoso d'um victor hugo. antes, bradifasia, resta o timbre pouco rouco destas linhas e palavras costuradas de burato, brim e bragal. rede tecida para um camafeu que se oculta em luzes e sombras de enigma. sem geometria. apenas linha lida n'uma mordida. linha ousada? enquanto insisto no teu rosto - as palavras são traços e marcarei na pele aquilo que não se pode dizer - mais vivo e em cores me aparece. perco no tom a linha que te ama[rra]ria aqui. poesia feita corda neste círculo tenso. mas insistes em não te deixar ser pura palavra e nem te queixas n'alguma linha. [...e envolves o corpo...] . ao seu estilo e jeito. e todos os meus maneirismo são descobertos: reles brocatel diante dos cetins e sedas com que tramas ao tear que se faz lira. cítara. linha que sempre retorna. cabograma. mensagem feita linha. cardiograma. a tipografia tem o colarinho aberto em clâmide. linha de junção. sutura. abertura. fenda. coreografia. o corpo persegue a linha como destino.
AGORA: palavras puídas, mas as linhas sempre continuam. e sempre intactas.

domingo, 9 de agosto de 2009

advérbio de tempo

o corpo dói. ainda. dói como a ligação que espero. insisto. às vezes. assisto de maneira compenetrada. a música não era, no primeiro circo, acesso infernal, tão boa. as sombras das pessoas se mesclavam ao palpitar dos olhos. o resto da maquiagem. eu esperei e não tive. ali. largo aberto na enseada. um sonho bucólico num balneário. sem telegramas. uma noite moderna. barroca. clássica. a quarta sombra que junto estava não importava. o relevante era o caminho. para além do absinto diluído em água. a fada escavava uma pedra de gelo. estavas longe. e a gentes estranhas. segundo círculo. feito argila. barro. lodo. ao som duído distante. e conversavamos. [... te dou com o gênero na cara...] e relembravamos, tão velhas. nas declinações das rugas, um vínculo artístico de uma nota de literatura. e olhavamos. no fundo de quatro. seis. olhos. azul e damasco. foi simplesmente depois de uma ótima noite. uma boa noite. mas aqui. ainda insiste o monumento da escrita. que me espera. para a morte amanhã (se será sempre penúltimo, quase literatura o bilhete, não insisto em terminar). acho que preciso encontrar o corpo neste submundo em que se acumulam os restos. o roxo do vinho barato banhando as unhas. marcando-se como ferro. e não mais. e ainda. e talvez. pintando um quadro de ausências. sabemos do desconforto posto para além das telas. e 3 caminhamos. 2 juntos. um perto. outros mais ao longe. entramos no táxi. as portas mal-humoradas nos olham. entramos garrafa e para além disso, (nos) partimos. às escondidas.

sábado, 8 de agosto de 2009

os olhos

estréia. estrela de tablado aberto. giros compenetrados que se esboçam ao largo de um sorriso. caminhando e saltando os tracejados da íris. dedo contra o dedo no caminho escuro. caixa de máquina escura. filme revelado. os olhos que me miram no espelho quebrado de um banheiro circunstâncial são os meus. eu quero aquele ali. o fragmento de vidro no fundo do olho. retiro três cartas de circulação. circunlóquio em que as certezas se perdem. as levezas vieram com os cílios entre grandes luzes. fog & whisky. caiu o pano em sedas e palavras. as tuas costas, vodka voava. todos armados no parque romano do corpo (que a madrugada não fala e nem poderia). os não são sempre mais fáceis ainda que desmoronem. e salto listras azuis e brancas. o chão sujo e liso, língua colada no teu céu de boca. o olho contra o olho não. entre as bebidas no balcão. copos. cubas. gelos. quedas. os ossos isolados da noite. a fibrosa e gelatinosa música. sou apenas um e tão lúcido que francês nem saiu. a cifose em dança cai e espera na recepção de teu hotel. pequena letra comida e compartilhada. a santa ceia pode ser modernizada e os milagres ainda acontecem. esqueci o diário. pronto e vampirescamente almejo a luz do sol. do vão alto. 1,70 metros de obstáculo que liberam nos meus 1-7-5 alguns km de horizonte e de ponte em luz violeta. e observo. seres que a noite vomitou. [...vinte e cinco centavos para contribuir com a tua-minha morte...]. o labirinto me engoliu e eu tenho todas as chaves e todas as senhas, mas não vejo as portas. há a escada. acima o inferno, abaixo o céu: como o sono, na curva do ônibus, despencando pela janela - bebida, olhos, pés e corpo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

pré-canto

a Kant.

escolhi - sujeito - tão em razão de si
de seus meandros que inspiraria a
sua própria acusação solene
pinta os céus em seus veios
e dependendo se perde em coragens
desespera e conjectura
-viagem perigosa -
pedida em prosa
um sistema num mundo com convicção
e que desenho
desdenho a sabedoria
que sai das órbitas
gira e marca
de beleza perfeita dos efeitos
meios e fins
e crê no orgão timbrado
na essencial matéria de que se fazem
sons
redescobre - o sujeito -
cego como seus raios
surto diante do músico
que lhe impõe
gritos, dores, estocadas
a incrível ocasião
de dançar e vencer
e faltará bem a esta solidão
a palavra manca que ruge
e vem no largo e longo
bem longo braço de horizonte
um tanto ignorado
d'um lugar triste que
se conhece mas que esvai
nas palavras que nao lhe dizem
tão cedo
a dor do som num corredor abafado

poesia póstuma

«un seul [c]rayon suffit»
a noite não repõe um dia
nem noite nem dia se alternam
no fundo curvo do corpo
que decanta na cama
que se atravessa celeste
se faz mortal
e nas mesclas estrangula
o ar das mechas
o anjo que arremedas
-ninfa tenebrosa e quente-
na escura sibéria
as sola de teus pés pequenos
em três arcos
os filtros mais fortes
te giram entre meu gênio
e destino
mirando num mágico poema
de inferno-paraíso
aprisionado num último lampejo
a virada do rosto
as cadeias da mirada

Beijar / esta rosa [...]

Para ouvir o áudio do poema, download aqui.
http://www.megaupload.com/?d=JBYIHPU0

& vertigem (áudio)

para quem quiser ouvir o poema, pode baixar o arquivo aqui:
http://www.megaupload.com/?d=UCFJGJM7
quente no silêncio deixas o sorriso
todo nu entre grunhidos
que descobres
seio e pescoço
entre as pupilas de enigma
carícias inauditas
por um corpo posto em música
em que tudo se mostra
nas lápides de antônio
em que jaz, entre rios,
vultos e est(r)elas
as galés de cleópatra
creio ver e unir por novo desenho
os olhos fixos em mim
tigre domado que joga com as moiras
uma estranha roleta russa
cheia de bailados de máquina de escrever
e descrever
a insondável pele cor-de-sombra
em que as árvores sussurram e se consomem
avançando raízes profundas
largos braços
devoradores de cristal
a gemer e esconder o rosto
semeando rubis, pérolas, sáfiras
num tempo de lembranças
sutis
(para Andréa)
beijar
esta rosa trêmula dos jardins das carícias
em que cravas os dentes
n'um arcanjo de línguas charmosas
um alfinete prateado em pura dor
de amante
de uma bebedeira secreta

mais do que um goëthe
que lhe dedicasse um verso
clássico

eu, que não posso, trovar à paris
fico a oferecer-te este buquê de
de estrofes infantis

de que bem sabes em lábios mudos
que a rosa condescendente
que descende do olhar da aurora
quando desce ao galho o último gesto
e de ferida vermelha
- cicatriz aberta -
caí
ré confessa
sem gritos
e recomeça

& vertigem

onde está? de onde és? aqui. aqui está. ele. e enfim nós. ambos e prontos. nos batemos contra a porta. jogamos os turnos. a têmpera aos parafusos. e o roçar da barba.
não há lágrimas. nem quadros vagos, retratos e labirintos. as palavras ressoam declarações ao resfolegar da respiração.
teu suor. teu silêncio. tua presença.
a resistência das linhas e dos versos que quedam não apenas uma vez.
ao terminar aquela história: golpe de amor sem glória.
penso em ti sem cessar e te dou estas páginas em que atendo e me suporto no branco vazio.
és verlaine, ronsar, musset.
palavra presas no vinco das calças bem passadas.
& marot. & rimbaud.
de tristes destinos.
..e & e &...
toda a miséria em palavras famintas e sangrentas. bife mal-passado de baudelaire.
um fantasma em força preso à forca que nem os nós e as atas que seguram este poder ver e ouvir que sabe em 3 rimas, talvez, sem algum soneto. as sirenes de uma poesia de ausência e sem coragem.
... à votre tour une carrière de grand poète...
e em nada, nas forças das águas, a guinada dos ventos.
uma última mordida às garras da palavra.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lisbonne et sés murs
faire d’Holand um beau pays
dans l’autre-mer
la voix du silence
le gramophone joué les mots
lancés par ton sourire
il y a notes de parfum dans l'air
fruits tropicaux
et de nouveau la mer
et encore la mer
l’écume mordre les pierres
le soleil caché tes yeux
crié, la peau,
les oiseaux infini
des étoiles
le verbe échappe
(miROIr non-dit)
les lettres
sont,
cygnes et lumiéres,
enfuis de la maison
dans les roues
de peur
Lisbon between its walls,
make of Holand a pretty country
oversea
the voice goes off
echoes in the silent pleasure
from the silence of a wrong letter
lost letter in the abyss
two foreign languages
a thousand perfurms and sounds
discovering lost languages
beyond the sea
behind the poetry
leading
the touch
(take it easy)
as the blurred syllables
dust of the mirror
and the point is not
signs of avoidance
smiles of attack
and the writing
as commas
are only
period not marked

terça-feira, 4 de agosto de 2009

lisboa entre seus muros
faz da holanda um belo país
no ultramar
a voz escoa
ecoa num gozo
de erro de tipografia
o lapso con-sensual entre línguas
a colônia descobre o perfume
neocolônia
deocolônia
entre silêncios
o toque
entrechoque
de nada
que insiste
que queria
mas o insignificante insiste no
espelho alheio
e não vem
na deriva
o verbo se esquiva
e fica ali
suspenso,
pendurado por uma vírgula

domingo, 2 de agosto de 2009

versos de geladeira

onde está a manteiga das palavras
o gosto quente e moreno do café
aprender a olhar
sentindo a ponta dos pés
a vagar dos dedos
o ar que exalar entre dois tons
percebendo nos volumes
nas cores
as dores
e fragmentos
uma comunicação falha
cílios escondem desejo
olhos o fulcro seco
e cego do corpo
que se esconde
no inverso do texto
que nem tão longo
quanto suas pernas
se esquece como recado
bilhete de amor
para ser lido
numa manhã de domingo
colado junto a geladeira

sábado, 1 de agosto de 2009

labrys

as sombras na parede se devoram
pelos cotovelos e cantos
a voz silenciada e aguda
reflete e ecoa
além do corredor
e dos pés perdidos
os livros despencam
as cartas despencam
as referências equivalem
e assassinatos acontecem
votos de sangue casto
pra casar
o louco regurgita as palavras perseguidas
letra dentro da sílaba oculta da palavra
diz: verdade
há talvez ou ainda
quem sabe
a casa fria
o vento morno
os ossos das mãos e do rosto
quentes em pó
pólvora
rubro desejo incandescente
de lápides e sequestros
trêmulos e sem trema
como resumir a trama?
as óperas nunca acabam.
varanda repletas de janelas
rostos que se afagam e se consomem
corredor do tempo no templo
ou às avessas
resta nua, a roupa
sem rosto, a maquiagem
e os pés
virados
3,4, 12
na espera
serpente rosa
de anfíbio voador
presa no teclado
reclamando baixo, piano,
última nota
frescor de calvagada.