sexta-feira, 15 de outubro de 2010

a queda da bastilha

(de uma decisão, quase destino)

uma pena escreve lentamente. entre os grão de areia, entre o deserto que cresce com cada letra. sem tempo para navalhas, não me leve a mal. tem isso aqui, dentro de mim. e sequer consigo culpar alguém. é meu crime. são duas da madrugada e há duas noites eu não consigo dormir. meus olhos estão vermelhos. meus ossos rangem. eu não tenho a quem escolher. queria poder chorar um pouco mais sem ter à vista a guilhotina como uma torre de liberdade. onde estará minha peruca? minhas luvas e meus sapatos. morrer sem nome talvez seja uma maneira de encontrar o corpo. talvez eu tenha feito algumas escolhas erradas. não sei. não voltarei a galgar estes degraus. não verei o mundo deste torre. eu preciso, violentamente, do silêncio. um silêncio amplo e quase profundo. como esta minha casa de móveis roupados. estou nu sentado na pedra fria e nem sequer consigo chorar. não acredito na igreja ou no sacré coeur. me calo devagar. e cada vez mais. fico assim. sem nada. mãos abertas. roupa suja. eu me assusto com os barulhos que invento nos corredores. não será a gestapo que me fara andar nestas linhas. isto é tão mais adiante e tão menos francês. eu respiro profundamente como um cadáver que não pode responder. não tem respostas e não dirá oráculos. que importa o amanhã diante das molduras vazias? que importa isto. eu queimo devagar todas as páginas. eu preciso fugir. eu não tenho nem mesmo a única e última das coisas em que acreditava.

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