segunda-feira, 3 de maio de 2010

um pouco tarde

(meio romeo & juliet)

pegue minha mão, assim, no escuro, não deixe minhas cartas esquecidas no fundo de alguma gaveta. tu não sabes as dores dos atrasos, os rasgos de papel, como a escrita pesa, na ânsia de uma pouco mais ainda. chove lá fora, um dia clichê, impossível evitar este resto de melancolia. é a mim mesmo que eu imploro ajuda. o mundo é este resto em movimento em que é impossível reconhecer um outro rosto. os trens não chegam, os aviões não partem. nada está como deveria, apesar de meu relógio estar adiantado alguns minutos, meu ritmo atropelar as horas, os atrasos acontecem como quedas, como luta da natureza, como algo que insiste ainda em tentar me fazer parar. um atraso esta muito perto de um silêncio. caso eu não receba o telegrama a tempo o que acontecerá? o tempo está fora do controle, bate além da arritmia de meu pulso e insiste ainda em marcar no descompasso o desejo que sinto na superfície da pele. telefone ocupado. para algumas pessoas é preciso se perder algumas vezes, perder a agenda, os diários, as notas de trabalho, perder um pouco desta vida regrada, caindo no poço da escuridão, viver livremente em angústia os minutos de puro descontrole. experimentar uma possibilidade outra como quem experimenta um outro tempo. em grandes goles de tequila. Eu te disse deste abismo em mim. é preciso chegar em tempo ainda, antes que as luas mudem, que se perca a voz e que nada mais faça sentido. não gosto de aventuras medievais. tu ainda tens o seu mínimo de tempo, mas a ampulheta já foi virada. na falta de um sim, devolve logo meu não.

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