domingo, 23 de maio de 2010

lâmina

admito o erro. no fundo somos lembrados apenas por aquilo que deixamos. os objetos concentram a memória. as coisas da gaveta, os livros da biblioteca, acumulando sempre mais do que poeira. o sempre... um erro solene não constrói uma igreja? quem disse? escrever em duas ou três línguas e não ser lido. jonhy cash preso. pink floyd no vulcão tocando para gradiva. eu abro minhas janelas, uma rajada de ar. a menina e o jovem menino, ambos falantes de inglês. o rapaz louro desenhando fórmulas alemãs. o italiano preso no quadro ao fundo da sala. o português em queda, na sombra o francês se esfacela. o silêncio é o que dói. por isso falo falo falo falo e ainda insisto. não tire as fotos assim, chapadas e tão de frente. esconda a navalha. a porta blindada sempre grita. é preciso respirar sempre e esquecer de comer. esquecer o caminho de ida ou de volta. apenas ir. ou talvez, mais importante, não ir. abrir apenas a lâmina branca dos olhos e descobrir que o que dói é o vazio absoluto de que nada importa. nem eu, nem eu, nem eu. não há você aqui. a gentileza aqui é não exigir um latim clássico polido. o grego talvez falasse demais. heráclito. eu queria apenas saber destas cores disponíveis e como eu não consigo enxergá-las. desenho apenas a carvão, nanquim, em sépia. monocromático. fazendo sempre faltar algo. invertendo. invertendo. desmontando as peças. e nunca entendendo o seus gesto último de adeus. eu já escrevi um epitáfio.

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