terça-feira, 25 de maio de 2010

A realidade sanduíche

(Ou bem à Allen Ginsberg)

Ele lia calmamente seu New York Times - 1952. Beat Generation. Queria o corpo de Jack, mas Jack não dava, ligava para Phil, que também queria Jack, mas não queria a ele, Giovanne. Assim sempre restavam Gary e Gregory. Vivia na cidade das luzes e, vivia de bebida e ar, quando dava tempo. Não sei como Lawrence, sempre que o via, enfiava-se nas suas barbas longas. Se dizia um grande herói másculo, ao invés de judeu, bicha e comunista. Eu tinha que me cuidar, ele dizia também gostar de garotas. No corredor, The Doors gritava alucinadamente. Volte-e-meia dizia que precisava ligar para a mãe, nestes dias é que conversávamos. Como ela, ele acreditava que o mundo conspirava, mas diferente dela era a seu favor. A única vez que fui a sua casa o que encontrei, além de milhões de garotos nus e bêbados espalhados pelo corredor, com tatuagens estranhas, q ue descobri significar “filósofo de alma selvagem”. A ordem do dia era drogas, sexo e literatura. Ele sempre queria me levar aos bares de Greenwich Village, eu sempre me imaginei indo. Uma mulher com 1,75 de altura, armada de saltos, certamente passaria por um travesti. Ou não. Os travestis da área sempre eram mais mulheres, ou ao menos, mais gostosas do que eu seria. Ambos tínhamos assumido um estilo de vida bizarro, porém, Giovanne só piorou quando teve de internar a mãe e, com isso, quase acabou indo junto. Ele escrevia muito, muito, raramente deixava eu ver seus cadernos. Tudo era considerado por muitos, obsceno e pornográfico, assim como o seu autor. Eu e ele combinávamos fazer um picadinho de macho. Quanto, enfim eu tive de viajar à trabalho, fazia-me intelectual enquanto ele se vazia vivo, perdemos o contato, quando eu voltei ele estava já com D. John. Seriam três décadas calmas, de cafés e chás, eles no cogumelo hippie, eu apenas tentando algo sempre além. Sem exorcismos. Ambos eram altamente caçadores, eu me sentia uma lebre inofensiva perto deles, eles conseguiam fazer com todos os homens diante de mim sempre fossem gays. Eu nunca encontrei um que sobrevivesse aos olhos azuis de um, ou aos verdes do outro. Quando descobriram o LSD, foi a mágica do milênio. Virada para qual ele não sobreviveu, não resistiu e se deixou ser devorado por Nova Iorque. Quanto a mim, ainda sigo virando a ampulheta, sabendo os nomes que ele me deixou, Timothy e seus movimentos, antiquado como sempre, nunca fazia sentido. Sempre que ouço A Feast Of Friends, lembro de Jim me dizendo que eu era uma mulher-travesti, alucinando que eu seria uma cigana húngara, por detrás de meus olhos violetas e do cabelo ruivo, que jamais se casaria. Nada mais divertido do que lembrar Paul e Nick discutindo se eu realmente era mulher e pedindo para apertar meus seios. Eu os mandava sempre de volta para seu gueto. Iam, que era um pouco Cult, dizia a Joe que meus joelhos eram mais bonitos que minha cara. Eu acompanhava a corja. Se eu tivesse jogado os dados, quem sabe tivesse tirado 18. Ou mais pontos.

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