domingo, 16 de maio de 2010

a tempestade

"pro Rafz e pro Danilo"


ela veste vermelho e se oculta no fundo dos olhos do garoto. os olhos escuros, buracos onde o vento se enrola como serpente, queimando em água algumas dores e planos. nada passa. nada passa diante da menina dos olhos de oxalá. é ali, na íris, onde tudo acontece, um lampejo a mais, uma risca de faísca, raiva, amor, paixão, tudo tão igual e tão diferente. é na ponta da espada que se decide o jogo. a mulher de cabelos raspados, batendo a testa no chão e se fazendo deusa, dentro dele. ele carregando os livros na chuva, sem medo, sente a chuva como abraço ancestral, último conforto. assim, a água, signo de sereias, faz fogo e faísca, dor para além do prazer. um corpo. sem outro, sem eu. as pedras que caem do céu, com o coração posto na balança, a mulher seduz e esconde no salto os seus segredos. as pupilas, as gemas, as pedras em fúria. as flores e pedras proibidas. o menino esvazia os bolsos e sorri. dinheiro eletrônico. lâminas, navalhas, os punhais que coleciona na parede do quarto. a amazona dos ventos e o bailarino clássico. sorrisos cruzados na mesma tempestade, um desejo de dizer um pouco mais, para aquele fogo mais adiante. e apenas sopra aqui, no fino da pele, no fino da folha, no fino istmo de pensamento rascante. tantos desejos quantos são os planos de batalha. ela e ele, um só. mãe e filho. herdeiros de uma verdade mágica. as velas acesas no escuro oculto de um vazio vermelho no peito. isto é para você e para aquele beijo de batalha, no escuro latente. rompante os tambores não fazem relâmpagos ou trovões. o vento é aqui o hálito da aproximação e talvez isto apenas. não mais. talvez seja apenas isto o possível para este futuro. hora de amarrar os cadarços soltos, respirar e deixar uma colher de chá suspensa. lá fora, resta o orvalho e as sereias que escovam os cabelos e se perdem no espelho enquanto uma mulher de garras afiadas corre para mais uma batalha.

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