sábado, 22 de maio de 2010

olhos baços

para andrea, ainda
como sempre
(os postais nunca voltam quando endereço
é um lugar impossível)

pneus rasos nas pupilas rasantes, 300 km/h. isto que tu não dizes e que eu sei. degraus acima de tua falsa inocência. chove ainda. e chove muito, ainda. as palavras alagadas doem. consegue entender minha dopia? abro o guarda-chuva. eu apresentei-me: descobri a cor de meus olhos, o tom dos meus cabelos, minha altura, essas coisas que você não vê. mas disso que você vê e teme. não uso c/v. vê? o código chaveado te dá a cena armada. tire as vogais, meio hebraico e conte os números. esse olho sobre o ombro pesa. consome. compete. arranja e destrói. eu penso no texto que você não lerá, não pode ser escrito aqui. eu te liguei, você nem sorriu. não ouve código de área. no espaço que se abriu a pele: apenas a infecção da palavra generalizada. eu insisto na latência do eu-presente. sem nós. você aí, a espera da sua pele. sem comunicação. sem uma intencionalidade. apenas laudo técnico e com nojo e com raiva. bebê, bebê. não poderia mais beber. tu sabes que no fundo eu não bebo, faço muxoxo e finjo. maquiando os olhos apertados e a careta. tudo cênico. outro espectador saberá assistir meu teatro além de ti? partilhando o pulso aberto, o sangue se confundindo no branco do chão com as taças quebradas. quem quer morrer, não se mata. sabe-se morto, apenas, sem isso ou aquilo, vivendo entre prateleiras que apenas sufocam e pesam. o tempo: incerto. o futuro sequer pressente o presente. eu ainda não decidi o curso que hei de tomar. me abraça, uma vez mais?

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