sábado, 26 de fevereiro de 2011

Duelo


(para André)

Poderia te roubar um verso de Racine e o faço: “Exercité d’un désir curieux”. Tomaríamos talvez, quem sabe em que tempo ou praça, um café para ferimentos superficiais, tocando o tecido não-tecido da mesa. Eu deixo minha luva e um livro. Te convido ao desafio. Ao delírio. Trago enganchado no salto vermelho-sangue dois deuses antigos já superados. Quando vais parar de contar as estrelas e perceber que elas não regem o destino. Talvez os deuses pudessem jogar os dados, mas se existissem. Estamos abandonados numa cúpula em que as estrelas são apenas fotografia do passado. O mínimo de poesia esta assim em queda. Em que acreditas. A carícia de uma luva poderá ser tão verdadeira quanto a de uma mão? Sua clínica de flores em cores talvez não faça matemática, talvez eu veja o numero atrás da letra, os valores e incisões, mas quem de nós poderá enfrentar o rosto no espelho? Quem se abandona a si, ao nu da vida, é porque tem medo ou porque, diante do limite do abismo apenas saltar tenha sentido. Sempre se pode ter a perigosa poesia dos cabelos ao vento.

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