sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

de um diálogo acerca do paraíso

bem à Caio F.

ele tem quinze anos agora, nascia quando tu te perdias, nos caminhos, nos amores, na imensidão infinita do sem horizonte. enquanto mergulhavamos num poço e não sabiamos como nos cruzaríamos. eu tinha apenas nove anos, te encontrava em livros infantis, perverso poliformo fantasiando meu desejo em pequenas páginas. eu te lia, mas mal sabia do teu desejo. ouvia "head over feet" ou "ironic", com alanis dizendo dos pulsos... e você tão perto de mim, batendo no frio, no calejado do corpo, escrevia um suspiro de fim-final. sem dramas, mas também sem damas. nem sabia ainda da dor do abandono, enquanto corria para o ballet, para a escola, para o rosa da vida. eu nem te via que estava te perdendo. acreditava ainda que as pessoas que escreviam eram grandes e que toda escrita, por mais sofrida e dolorida que fosse, era ainda bonita. mas já ali estava o medo, de cada vez mais, não estar onde deveria. talvez esta seja a frustração. mas e cresci já sem ti, sabendo seu nome, codionome, do teu corpo noutro corpo de papel. aprendi um pouco de zodíaco e de revolução, mas a minha era tão limpa, tão sem sexo, tão sem drogas, com muito pouco rock'n roll. mas ir a ópera talvez seja tão transgressor quanto manter regras nos dias em que elas estão suspensas. talvez, meu sonho de hoje, em que acordava com os labios fendidos e olhos rasgados, mas não sangrava, digam de alguma composição tua. talvez devesse fazer cinema nestas viradas cênicas em que todo abraço fica supenso e toda boca aberta à espera de um beijo nunca encontra outra boca para completá-la. mas tu sabes que eu não fumo... que eu não amo.... que eu não sei nada. que eu leio, insisto, colo post-its. invento esta maneira de me perder e te encontro sempre, me acenando em alguma esquina, sorrindo malévolo como quem sabe que já perdeu a alma pra um antigo garoto, numa outra página qualquer.

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