terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Balé & tradução


O que vai aqui, em épocas de “Black Swan” e Balé em voga, é a tradução de um texto de Mallarmé, feita em duas direções: primeiramente para auxiliar uma amiga na leitura dele; segundo, estabelecendo as relações possíveis entre o a dança e o texto, fazendo com que o texto levante o sentido “sur les pointes” impossíveis, para fazer imagem. Ler a dança na esfera da aparição, um discurso que dá um fantasma no palco.
A tradução era um composé de notas dispersas que ajunto aqui. Creio que Mallarmé neste texto faz da escritura um movimento lúdico, impõe movimento à imagem que desejar capturar e que dança (também e desde já) diante de seus olhos. É preciso que o texto dance em conjunto com o balé que sobre o qual tece seus apontamentos. Assim, se o que se escreve é um texto enquanto apresentação, um texto também eventual, pois também se faz performance.
Esta tradução é, ao seu turno,ainda uma maneira de recuperar outra potencialidade da dança e rememorar meus anos como bailarino clássico. Se o joelho esquerdo não me permite dançar, hora de usar a mão direita para danças na página. De todo, poder-se-ia dizer, num duplo caractere de movimento, que esta tradução, também se movimenta, quer capturar o próprio do texto, mas que na sua transposição, o passo bêbado (pas-de-bourré) a atravessa, realizando um outro movimento na cena, correndo por suas linhas para fazer dançar ainda mais uma vez “um” sentido.
Assim restará a leitura enquanto um pas seul, um movimento solo.
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BALÉS (1)
S. Mallarmé
(trad. minha)

A Cornalba (2) me encanta, dança como quem desvela: pode se dizer que sem a aparência de ajuda oferece à um enlevamento ou à queda através de uma presença voadora (3) e sonolenta de gaze, ela aparece, chamada no ar (4), sem se sustentar, do fato italiano de uma agradável tensão de sua figura.
Toda a lembrança, não! do espetáculo ao Éden, precisa de Poesia: isso que se nomeia assim, pelo contrário, abunda, deboche amável para o espírito liberado da freqüentação dos personagens de vestidos, hábitos e palavras célebres. Somente o charme nas páginas do libreto não passa pela representação. Os astros, eles-mesmos, aqueles que tenho por crença que, raramente, é preciso desordenar não sem razões consideráveis de meditativa gravidade (aqui segundo a explicação, o Amor os move e os monta) eu folheio e apreendo que eles estão de saída; e a incoerente falta altiva de significação que cintila no alfabeto da Noite consente a traçar a palavra VIVIANE, iludindo o nome da fada e título do poema, ainda que qualquer lances de pontos (5) estelares sobre uma tela de fundo azul: pois o corpo de balé (6), não figurará o autor de a estrela (a melhor forma de poder chamá-la!) a dança total das constelações. Ponto (7)! daqui se parte, você vê naqueles mundos, direito ao mundo da arte. A neve também em cada floco não eleva no vai-e-vem de um branco ballabile (8) ou mais uma valsa (9), nem o lance vernal das florações: tudo isso que é, efetivamente, a Poesia, ou natureza animada, sorte de um texto por se congelar em manobras sem valor (10) e a deslumbrante estagnação das musselinas coesas (11) e fogo. Também na ordem da ação, vi um círculo mágico por outra coisa desenhada pela volta continua ou os lagos da fada mesma: etc. Mil detalhes picantes (12) de invenção sem algum atingir à importância de um funcionamento provado e normal, no feito. Qualquer um jamais, principalmente no caso do sideral precipitado, com mais de heroísmo passará a outra tentação, de reconhecer no mesmo tempo que das analogias solenes, esta lei, que o primeiro sujeito, fora da moldura, da dança seja uma síntese móvel, em sua incessante ubiqüidade, das atitudes de cada grupo: como elas fazer senão detalhar, em tantas frações, ao infinito. Tal qual uma reciprocidade de que resulta o in-individual, em coreografia e em conjunto, do ser dançante senão que o emblema de qualquer...
Julgamento, ou axioma, a afirmar de fato do balé!
À saber que a dançarina não é uma mulher que dança, por estes motivos justapostos que Ela não é uma mulher, mas uma metáfora resumindo um dos aspectos elementares de nossa forma, espada, taça, flor, etc., e que ela não dança, sugerindo, pelo prodígio de recursos ou impulsos, com uma escritura corporal que precisa dos parágrafos em prosa dialogada tanto quanto descritiva, para exprimir, na redação: um poema liberado de todo aparelho do escrivão.
Depois de uma lenda, a Fábula perfeita como a combinação do gosto clássico ou maquinário celeste (13), mais ainda o sentido restrito de uma transposição de nosso caractere, assim que de nossas maneiras, ao tipo simples de animal. Um jogo rico consiste em re-traduzir com ajuda de personagens, é verdadeiro, mais instintivo como delimitador e mudos que aqueles à quem uma linguagem consciente permite de se enunciar na comédia, os sentimentos humanos dados pelo fabulista aos namorados voláteis (14). A dança é asas, agita-se como pássaros e das partidas do ao-nunca, dos retornos vibrantes como flecha: a quem escruta a representação dos Dois Pombos (15) aparece pela virtude do sujeito (16), isso, por obrigatoriedade seguida de motivos fundamentais do balé. O esforço da imaginação para achar estas similitudes não se anuncia árduo, mas é qualquer coisa como perceber uma paridade medíocre mesmo, e o resultado interessa, em arte. Engana! salvo o primeiro ato, uma alegria encarnação dos pombos (17) na humanidade mímica ou dançante dos protagonistas.

Dois pombos se amam de amor terno (18)

dois ou mais, por pares, sobre um teto, assim que o mar, visto no arco de uma fazenda tessaliana, e animados, este que esta, melhor que pintar, na profundidade e de um acerto. Um dos amantes ao outro os mostra si-mesmo, linguagem inicial, comparação. Tanto que pouco à pouco as velocidades (19) do casal aceitam a influência do adestrador do pombal, e picadas ou sobressaltos (20), extasiados, que se vê neste esvaecimento de lascividade sobre ele penetra (21), com semelhanças distraídas. Crianças, eis os pássaros, ou pelo contrário, os pássaros criança, mas que se pode compreender a troca de sempre ou de durante, ele e ela, deverão exprimir o duplo jogo: pode ser, toda a aventura da diferença sexual! Ou eu irei parar de me elevar (22) à alguma com-sideração (23), que sugere o Balé, adjuvante e o paraíso de toda espiritualidade, porque depois deste ingênuo prelúdio, nada tem lugar, salvo a perfeição dos executantes, que vale um instante de exercício-atrás (24) do olhar, nada… Fastidioso de colocar os dedos sobre a inanição qualquer saída de um gracioso motivo primeiro. Aqui a fuga do vagabundo, da qual coloca, por menos, à esta espécie extática e impotente à desaparecer de quem deliciosamente ata (25) suas pranchas a dançarina; pois quando virá, no aviso do mesmo local ou centro (26), no tocante da adorada do repatriamento, com a intercalação de uma festa à qual tudo vais [re]tornar sobre a tempestade, e que os rasgos, perdoados e fugitivos, se unirão: isso será… Vocês conhecem o hino da dança final e triunfal em que diminui até a nascente de sua alegria bêbada o espaço posto entre os noivos pela necessidade da viagem! Isto será… como a coisa que se passou, senhora ou senhor, casa de um de vocês com qualquer beijo muito indiferente em arte, toda Dança não é senão este ato de misteriosa interpretação sagrada. Somente, pensando (27) assim, é que se faz chamar novamente por uma nota de flauta o ridículo de seu estado visionário quanto ao contemporâneo banal que precisa, depois de tudo, representar pela condescendência pela poltrona da Ópera.

À exceção de uma relação percebida com nitidez entre o aspecto habitual do vôo e inúmeros efeitos coreográficos, pois a transposição em Balé, não sem trapaça, da Fábula, habita qualquer história de amor: é preciso que virtuoso sem par por meio do divertimento (nada é senão trecho e colagem) o encanto a Senhora Mauri (28) resuma o motivo por sua divina mistura de animalidade turva e pura à todo propósito as alusões não postas em foco, assim que diante (29) de um passo ela convida, com dois dedos, uma dobra (30) trêmula de sua saia e simula uma impaciência com as plumas em torno da idéia.

Uma arte tem a cena, histórica com o Drama; com o Balé, outra, emblemática. Aliada, mas sem confundir; isto não é certamente de imediato e por tratamento comum que ele precisa ajuntar duas atitudes possessivas de seu respectivo silêncio comum, a mímica e a dança, hostis a todo golpe se lhes força o contato. Exemplo que ilustra este propósito: não é menos, por render uma idêntica essência, aquela do pássaro, habita os dois interpretes, imaginada por eleger (31) uma mímica ao lado de uma dançarina, esta é confronta muita diferença! A outra, se é uma pomba, deverei ignorar o quê, a brisa por exemplo. Por meio, muito judiciosos, ao Éden, ou segundo os dois modos de arte exclusivos, um tema marca o antagonismo que habita seu herói participando de um mundo duplo, homem já e criança ainda, instala a rivalidade da mulher que marcha (32) (mesmo à ele sobre os tapetes de realeza) com aquele, não mais querido através do fato de sua acrobacia somente, a primitiva e fada. Este traço de distinção de cada gênero teatral coloca em contato ou oposição se encontra direcionando a obra que emprega o desparecer de sua arquitetura mesma: restará procurar uma comunicação. O libretista ignora do ordinário que a dançarina, quem se exprime pelos passos, não compreende da outra eloqüência, mesmo o gesto.

Por meio do gênio dizendo: « a Dança figura o capricho ao desenvolvimento rítmico – aqui com seu nome, as quaisquer equações sumárias de toda fantasia – ou a forma humana na sua mais excessiva mobilidade, onde verdadeiramente se desenvolve, não se pode transgredir, no entanto, eu o digo, senão a incorporação visual da idéia»: isso, pois um golpe de vista lançado (33) sobre um conjunto de coreografia! pessoa a quem neste meio se impõe de estabelecer um balé. Conhecida a expressão de espírito contemporâneo, habita eles mesmos, suas faculdades têm por função de se produzir miraculosas: é preciso substituir, eu não sei qual impessoal ou fulgurante olhar absoluto, como o clarão que envolve, depois de tantos anos, a dançarina do Éden, fundando uma crueza elétrica às brancuras extracarnais de manchas (34), e faz bem ao ser prestigioso recolhido além de toda vida possível.

O único entretenimento imaginativo consiste, em suas horas ordinárias de freqüentações nos lugares de Dança sem visar a qualquer condição prévia, paciente e passivamente, à se perguntar diante de todo passo, à cada atitude se estranhas, estas pontas e taquetés (35), allongés (36) ou ballons (37). «Quê pode significar isto», ou melhor, de inspiração, o ler. O golpe se operará em pleno devaneio, mas adequado: vaporoso, nítido e amplo, ou restrito, tão somente que o doente em seus trajetos (38) ou a transposição por uma fuga a bailarina iletrada se livrando dos jogos de sua profissão. Sim, aquilo lá (estás perdido em uma sala, expectador estranho (39), Amigo), por pouco que tu deposites com sua submissão aos seus pés de inconsciente reveladora assim como as rosas que elevam e lança na visibilidade das regiões superiores um jogo de suas sapatilhas de cetim pálido vertiginoso, a Flor do começo de tua poética instintiva, não espera nada de outra aposta na evidência (40) e sobre o verdadeiro dia de milhares de imaginações latentes: então, por um comércio em que parece seu sorriso depositar (41) o segredo, sem tardar ela te entrega através do último véu que sempre resta, a nudez teus conceitos e silenciosamente escreverá tua visão à maneira de um Signo, que ela é.

Notas de Leitura & Dança

(1) Pensar o caso do balé é lembrar que este ao mesmo tempo designa o conjunto coreográfico, quanto o corpo de bailarinos. Por outro lado é caracterizado na ação ou no movimento, figurativamente, como o balé dos animais, da chama da vela. Já quando caracterizado de ballets-rose (para garotas) ou ballets-bleus (para garotos) implica em reuniões clandestinas de crianças ou adolescentes para satisfazer a “perversão” de pessoas de certa idade. Etimologicamente ballet é o empréstimo francês do italiano balletto, proveniente de ballare, dançar. O objetivo, portanto, destas notas é tentar verificar o quanto o texto de Mallarmé também por si só dança, jogando com o léxico que concerne ao balé. Por este motivo é que as notas se multiplicam, tentando esclarecer aquilo, que em termos de dança, poderia não ficar claro. O texto original encontra-se em S. Mallarmé, Oeuvres Complèstes, 1945, p. 303-7. (Todas estas notas são minhas considerações).

(2) Elena Cornalba, bailarina italiana, que teve composta especialmente para si duas peças de Riccardo Drigo, intituladas L’echo (O Eco) e Valse mignonne (Valsa delicada). Foi ainda bailarina principal de Le Talisman (O Talismã), um balé fantástico de Marius Petipa também musicado por Drigo, e bem como La Vestal (A Vestal), coreografado por Petipa e musicado por Mikhail Ivanov.

(3) Há no balé uma série de movimentos que podem ser executados como volé, em vôo, como o brisé volé, que é a realização de um movimento brisé, partido, que é fundamentalmente um assemblé batido realizado em movimento (a perna em movimento arrasta-se da segunda posição para a segunda en l’air de forma que a ponta do pé fique a alguns centímetros do chão, bate na frente ou atrás da outra perna que se deslocou ao encontro dela, em seguida ambos os pés voltam ao chão simultaneamente em demi-plié na quinta posição), no caso de sua execução volé, o bailarino acaba sobre um pé apenas depois de sua execução e com a outra perna cruzada na frente ou atrás, a base deste passo é um movimento fouetté com jeté battu, acabando com a perna levantada em cou-de-pied devant ou derrière

(4) En l’air, como movimento do balé indica um movimento que vai ser feito no ar, como, por exemplo, um rond de jambe en l’air, ou ainda que a perna em movimento, depois de ter sido aberta numa segunda ou quarta posição, será levantada a uma posição de 45°, 90° ou 120°.

(5) Opto por pontos, porém no original consta alfinete [épingle], querendo enfatizar justamente a formação de uma imagem através de picadas, perfurações, nesta tela.

(6) O corpo de balé caracteriza o primeiro nível de uma companhia de balé, cujos integrantes constituem o suporte dos solistas e primeiros bailarinos, dançando quase sempre os grandes conjuntos, tais como as Willis, em (meu balé predileto) Giselle, ou os Guerreiros, em Danças polovitsianas. O corpo de balé pode ter sua função associada à do corpo da ópera.

(7) Com uma pequena licença poética pode-se acrescentar um “e” breve em point, e encontrar aqui outro movimento clássico: pointe, a ponta, que é um recurso técnico e artístico desenvolvido pela dança do século XIX, significando dançar sobre as pontas dos pés em sapatilhas especialmente preparadas para este fim. Começou a ser utilizado antes de 1820, sendo Gosselin e Istomina as primeiras bailarinas a se valerem da técnica em apresentações. Maria Taglioni foi quem transformou o uso da sapatilha de ponta em recurso técnico e artístico, passando a ser um meio de expressão dos ideais de elevação do balé romântico, sendo o marco deste o balé La sylphide, de 1832. A ponta também permitiu o aperfeiçoamento da pirueta. Raramente as danças em ponta foram utilizadas por coreógrafos voltadas para os bailarinos, não obstante, pode-se citar Nijinska, Les fâcheux (1924); Lifar, Feira de Sorochinski (1943) e Ashton, com The Dream (1964). Do ponto de vista cultural é importante lembrar ainda que os cossacos, da Ucrânia e Geórgia, há séculos executam nas pontas de suas botas diversas passagens de suas danças folclóricas.

(8) Passo de dança executado por qualquer dançarino ou por todo corpo de balé, geralmente ao final de uma ópera ou de um balé-pantomima. Do ponto de vista musical designa qualquer música passível de ser dançada ou com espírito de dança, uma tradução literal poderia ser apontada a partir destas características enquanto “dançável”, ou ainda, em consonância com uma direção de sentido possível de ser encontrada no texto, para aproveitar o termo de origem grega utilizado por Laban em seu The language of movement: a guidebook to choreutics (Londres, 1966), poder-se-ia dizer coreótico, uma vez que este põe em cena as diversas formas e movimentos de dança e sua relação com o corpo humano.
(9) Diferente da valsa “tradicional”, de origem germânica, executada por casais e caracterizada pelos giros sucessivos e pela rapidez dos passos, no balé há o pas de valse, executado com um gracioso balanço do corpo e com diversos movimentos de braço, podendo ser executado de frente ou en tournant.

(10) Aqui é aberta uma ambigüidade: de carton, equivale tanto a dizer do papel, quanto também ao uso figurativo de sem valor, falso (quando se trata de uma coisa), sem consistência quando é atribuído a uma pessoa.

(11) Lies pode ainda apontar para o caráter de depósito, de precipitação, de resíduo.

(12) Neste caso picante, piquants, não estaria ligado a um caráter erótico, porém erógeno, oriundo de picar, como um alfinete ou espinho sobre a pele [agulhada]. Importante lembrar que em dança os movimentos piqué se caracterizam pela exigência de que neste passo deve-se tocar com a pointe ou a demi-pointe do pé que já está em movimento em qualquer direção ou posição desejada com o outro pé suspenso no ar, sua realização pode ser piqué: en avant, en arrière, en arabesque, à terre, tourné en dedans, tourné em dehors, detourné, enveloppé e também piquer la pointe.

(13) Empyrée aponta para o espaço celeste compreendido em seus diferentes ângulos, na astronomia antiga significava a esfera celeste, cúpula, mais elevada onde estavam os elementos ígneos, mitologicamente aborda as divindades celestes.

(14) O texto indica em vôo, namorados voadores, porém como este movimento parece estar inscrito em volátil, opto por esta tradução e por enriquecer ainda as características destes namorados.

(15) Les Deux Pigeons: balé em três atos, coreografado por Mérante, roteiro de Régnier e Mérante, música de A. Messager, cenário de Rubé, Chaperon e Lavastre, figurino de Bianchini. Estreou em 18.10.1886, no Balé da Ópera de Paris, com R. Mauri e M. Sanlaville. O tema baseia-se numa fábula de La Fontaine: Pepio é um jovem camponês que, atraído por um bando de ciganos e pela vida errante que levam, abandona sua amada Gouroli para segui-los. A jovem se disfarça de cigana e reconquista seu noivo que, arrependido da aventura, volta a sua terra natal. Aveline também preparou, em 1911, uma versão em um ato para Zambelli. Ashton também coreografou uma produção para o Royal Balé, cuja estréia aconteceu em 14.02.1961, no Convent Garden, em Londres, sendo que nesta execução a obra foi reambientada no Segundo Império, reduzida para dois atos e três cenas, e Pepino tranformado num jovem pintor.

(16) Em francês sujet detém a ambigüidade posta entre sua acepção gramatical, de sujeito, mas também aponta para as acepções de assunto, motivo, propósito.

(17) Há em balé um passo de difícil execução, característico da variação do balé L’oiseau bleu, coreografado (também) por Petipa, intitulado ailes de pigeon, asas de pombo, ou ainda pistolets, no qual a perna esquerda é atirada para cima enquanto o bailarino pula para a direita e, ao mesmo tempo, lança a outra perna até tocar o tornozelo esquerdo; em seguida trocam-se as pernas para um novo movimento, havendo então mais uma mudança e o encontro do pé direito com a perna esquerda estendida no ar. Geralmente é realizado en avant e en arrière.

(18) Os versos completos de La Fontaine são: “Deux pigeons s'aimaient d'amour tendre: / L'un d'eux, s'ennuyant au logis,/ Fut assez fou pour entreprendre/ Un voyage en lointain pays”.

(19) Allures, aponta tanto para a velocidade quanto para o aspecto.

(20) Paralelo à soursaute, existe como passo de balé o soubressaut, um salto realizado da quinta posição para frente (en avant, croisé ou ouvert en avant). Quanto o corpo está no ar os joelhos e as pontas estão esticadas, e o pé da frente deve esconder o pé de trás. Cai-se simultaneamente com os dois pés na quinta posição com o mesmo pé que iniciou o movimento à frente, também pode ser realizado sur les pointes ou demi-pointes, geralmente a realização das pontas é sous-sous (relevé na quinta posição para frente, portanto, os pés estarão bem juntos no momento de se levantar nas pointes ou demi-pointes de maneira a dar impressão de um só pé).

(21) Glisser, deslizar, uma das características possíveis dos passos em balé: o deslizamento, glissade, geralmente executado com o pé em movimento da quinta posição na direção desejada com o outro pé fechando-se junto dele. Os glissades realizados com ou sem a mudança dos pés começam e acabam com um demi-plié. Há seis tipos de glissades: devant, derrière, dessous, en arrière; a diferença entre eles depende das posições de partida e de encerramento, bem como da direção.

(22) Élever, elevar, em dança, élevé, indica a subida do bailarino sobre a pointe ou demi-point. Já como característica de élévation, aponta para a habilidade do bailarino de “subir alto” dançando, sendo este o termo utilizado para descrever a altura atingida em passos pulados tais como entrechats, grand jetés etc, combinada com ballon de modo que o bailarino pule com graciosa elasticidade, como o movimento de um bola de borracha que toca no chão num momento e salta outra vez no ar. A elevação é reconhecida pela distância entre os pés em ponta do bailarino no ar e no chão. Ao descer depois de um pas de élévation (qualquer movimento que encerre um salto) as pontas devem tocar o chão em primeiro lugar, rapidamente seguidas pela sola dos pés e do calcanhar. Todos os passos de elevação começam e termina com um demi-plié.


(23) Opto por grafar consideração separando as formas para evidenciar o duplo aspecto da observação que é o movimento siderado da dança e ao mesmo tempo a esfera das idéias e considerações.

(24) Arrière implica a direção de um movimento, en arrière, e designa passos que podem ser executados para trás, ou ainda, na direção oposta ao público, como o assemblé en arrière.

(25) No texto parece implicar o gesto de estar cativo dos encantos da dançarina, mas atache, ainda implica nas partes passíveis de serem atadas, como os tornozelos e os pulsos.

(26) Foyeur implica a casa, o lar, porém em dança pode indicar o centro enquanto um dos locais em que a dança pode acontecer no palco.

(27) Songer, implica pensar desta maneira, mas também sonhar.

(28) Acredito que esta Senhora Mauri seja Rosita Mauri, (Tarragona, 1849 - Paris, 1923), dançarina que estreou no T. Principal de Barcelona, em 1868, dançou no La Scala e no Balé da Ópera de Paris (1878-1907), onde se tornou étoile. Minha crença se baseia no fato de que ela criou papéis em: La korrigane (1880) e Les deux pigeons (1886), ambos de Mérante, e em La maladetta (1893), de Hansen.

(29) Avant, uma das direções possíveis dos movimentos realizados em um palco, em avant, para a frente, em direção ao público.

(30) Pli, devolve em dança o plié, dobrado, movimento que designa a flexão dos joelhos executada nas cinco posições básicas, no instante em que se começa ou termina um passo, ou como exercício destinado a conferir elasticidade e força aos músculos e tendões das pernas; geralmente inicia as aulas de dança acadêmica estando subdividido em demi-plié, quando os calcanhares permanecem no chão, e grand plié, quando a flexão é maior, realizada à demi-pointe, por exemplo.

(31) “Imaginada delírio” também se pode ser ler aqui, aproximando d’élire de délire, impondo o gesto de desleitura (de-lire).

(32) Em itálico no texto de Mallarmé, marche também aponta uma série de passos no balé, como por exemplo, o rictus marcial do pas-de-marche.

(33) Jeté, lançado, atirado, diz-se de um pulo de uma perna para outra, no qual a perna em movimento descreve um movimento de lançamento no ar e parece continuar sendo atirada. Existe uma grande variedade de jetés que podem ser realizadas em todas as direções. A mais considerável, creio, é o grand jeté en avant, um grande lançamento para a frente, geralmente precedido por um movimento preliminar como um couru ou por um glissade que dá o necessário impulso. O pulo é feito de maneira com que o pé é lançado para a frente com um grande battement, a altura do pulo dependendo da força do impulso e seu comprimento dependendo da força do impulso da outra perna que é lançada para cima e para trás. O bailarino tenta permanecer no ar numa atitude propositadamente expressiva ou num arabesque e desce na mesma pose. O mais importante, além do golpe de vista em que se lança este movimento, é seu inicio com um plié cheio de impulso para terminá-lo com um plié suave e controlado.

(34) Fards implica no resultado do verbo farder, pintar, assim pode assumir tanto o caractere de maquiagem, fards à joues, ou sombra, fards à papières, abrindo assim o campo da aparência e da (dis)simulação.

(35) Mallarmé alude aqui ao taqueté, estaqueado, termo utilizado para designar todos os passos de dança em que é acentuado o uso da sapatilha de ponta, como o pas de bourré e o piqué.

(36) Chama-se allongé, alongado, esticado, estendido, a linha alongada, geralmente utilizada em combinação com o arabesque: uma linha horizontal que se forma com os braços estendidos para frente e para trás. Cabe-se salienta que a ligne, linha, designa o perfil apresentado pelo bailarino durante de alguns passos, marcações ou poses. Diz que um bailarino tem um bom ou mau sentido de linha, na conformidade dos arranjos da cabeça, corpo e pernas numa posição ou movimento. assim sendo, é vida de regra que uma boa linha seja indispensável ao bailarino clássico.

(37) Ballon, balão, bola, termo utilizado em dança para designar a capacidade de um bailarino de saltar, dar uma pequena pausa no ar e descer suave e levemente. Também é usado para descrever a capacidade de saltos de um bailarino. Todos os passos pulados requerem o ballon para que o dançarino possa, com facilidade aparente, manter por um momento no ar uma pose ou posição como se estivesse no chão.

(38) Circuits abre ainda, na direção de um corpo-máquina, na crueza elétrica, a esfera dos circuitos. Opto por trajeto, para manter a direção dada na leitura dos movimentos, no texto, não ignoro porém esta segunda nuance.

(39) Étranger anuncia tanto o estranho quanto o estrangeiro.

(40) Mise aponta tanto para o verbo mettre, pôr, colocar; quanto para a aposta, que pode ser entendida ainda como encenação, mise en scène.

(41)Verser, assume o caractere de depósito em banco, o que vai de conformidade com o aparecimento deste comércio; mas pode ser ainda, versar, verter.



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