segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Arrenothelus

(A epopéia do amor começa na cama com os lençóis
desarrumados feito um campo de batalha) – Roberto Piva.


Precisava apenas correr, correr, correr, como um cavalo selvagem numa turba de sonhos. Tinha o corpo cindido nos desejos desesperados de estar e não poder, poder e não estar. Sumia sempre quando deveria ficar. Não ficava quando não devia, raramente estava lá. Os pensamentos circulares de uma alma esférica. Havia nos olhos aquela vontade de lágrima, tão cênico nesta sombra de saltos altos. A mão estendida tocava os olhos rasgados, suspendendo a vontade de dizer sempre que “gostaria ainda de estar contigo”… Não devesse talvez ter fugido ou silenciado. É preciso parar de fazer este retrato morto. Um verso alinhado sempre para além da biografia. Apenas aquele abraço ou aquele beijo. Numa caligrafia difusa escreveu o convite. Tu virias a minha festa, ao meu corpo, a mim? Simples: nada é simples assim. Não te serviria a ambrosia dos beijos quando são apenas amargas palavras. Dói. Mas o corpo da imagem é sempre mais sensível as dores, ao toque, ao olhar. Tudo se atravessa como se as dúvidas se acumulassem. O desejo é sempre uma dívida não paga. Os cães ladram. É preciso afogar isto ainda. eine Dummheit. O jazz, o vinho, o sono sempre adiado. (…Don’t know why…). Há este vazio que pesa e rompe as fibras do ser. Não evito ser clichê...

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