domingo, 24 de fevereiro de 2013
sentado diante da tv, choro. mas não há nada de novo na tela ou diante dela. o sofá vermelho me expulsando devagar, os livros sobre a mesa já abertos à espera. eu também espero. queria não pedir, não implorar a migalha de atenção, mas aos poucos eu vou desistindo de mim. não é que o castelo de cartas desmorone, nunca houve castelo. talvez um dia toque a campainha e seja o correio. talvez um dia toque o telefone e seja você. te enviei um convite para um café, para embebedar seus dentes alvos num pouco de cafeína, o único modo que tenho de não lhe tocando (porque me é vedado) de lhe alterar o pulso. mas eu não sou a chuva com seus relâmpagos e trovões que te empurra para baixo do edredon, cada vez mais perto de mim. eu preciso preterir o pretérito. aqui, chovendo em mim, invento a ficção para fazer as coisas funcionarem: coloco hegel no divã de lacan. e tento me ocupar. não queria sentir sua falta ausente, você que nunca esteve aqui, nunca tocou nas minhas páginas. queria trocar chocolates por beijos. ou não trocaria nada e apenas teria os teus beijos. eu tenho fome, mas não consigo sair daqui. não consigo pensar nem no livro, tropeço na tua imagem. nesta imagem silenciosa que eu queria mas não posso... não devo. eu me sinto feio, estranho... não tenho nada a te oferecer a não ser a possibilidade de se perder comigo pelos corredores escuros da biblioteca, mas que você apenas me oferece nos meus sonhos. não tenho aqui, não estou nos teus sonhos, não te acompanho enquanto dormes. eu não tenho minha taça de vinho, nenhuma sequer,mas tenho o campo aberto até a linha do horizonte. talvez se eu corresse tanto, tanto e tanto, para além da última gota de suor, para além do ponto em que as pernas aguentassem, para além de qualquer expectativa, eu chegasse em algum lugar e lá te encontrasse. mas isso é apenas um desejo poético. eu sei onde estas, sei as ruas por onde andas e por onde segues. sei o peso de tuas letras. enquanto eu fico aqui contando até três, lavando o rosto, tentando e tentando, com força e ainda, e tu me engoles neste silêncio. talvez seja o peso do tempo que nos separa e não o espaço. como a madeleine de proust: estou lugar certo, mas no tempo errado. não sei se devo andar para frente ou para trás. como virar a ampulheta, sem mudar nada. cruzando os espaços, trocando os livros, escondendo o nome. e esta noite você viria a minha casa, escutaríamos john bennet, tomaríamos um scotch, que sei que tu não bebes, mas aprenderia. eu sei o que quero, que é nesta suspensão de corda bamba, sem exigências. o mine eyes... meu príncipe... é tua voz assolando meus corredores, tua respiração... mas meu príncipe talvez nem exista com sua nobreza de pés descalços e dorso nu... saltando na água ao fim da tarde, deixando-se beijar pelo quente toque de bronze do sol. e aos poucos até estas lágrimas perdem o sentido, estas palavras vão se apagando, o corpo amaciado abraça a tela, tenta se esquece de novo e ainda e mais uma. talvez tentando digerir o teu nome que ainda não sabe, esperando que os dados parem de girar ou que a bala, roleta russa, enfim atinja algum corpo. você logo vai descobrir que eu não sou a fantasia de ninguém. e eu não permito que você desconfie do real destas lágrimas, do gosto amargo da boca vazia, das borboletas digeridas pelo suco gástrico. eu tenho os postais que quero te enviar já escritos, as cartas, os planos no qual você é apenas um espaço a ser preenchido por um tempo que não vem. isto não quer dizer que eu creia em destino, mas que sonho e te faço delírio. te encontro nas linhas da minha mão porque, em vão, tento te segurar aqui. não sou eu que coloco o ponto final desta história que é impossível de ser contada, mas porque em nenhum mundo possível houve lógica que a suportasse ou uma linguagem em que se pudesse registrá-la. mas eu tento. é preciso tentar. arriscar puxar o gatilho do 38 ou o salto de um vigésimo andar, deixando o corpo em queda-livre. sem correntes. meu rosto ainda coça, estou sem maquiagem... vou ao banho, talvez um pouco de mim desça ralo abaixo, esquecendo a superfície da pele, limpando os pensamento. ou talvez, como sempre, depois do banho, na impossibilidade de me esquecer, eu abra um livro e durma sobre ele e num sono sem sonhos, mais uma vez eu não te encontre.
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