aquele momento em que se para se abre o livro, por onde começar a ler, o primeiro parágrafo, a primeira palavra, a primeira vírgula. o pensamento distorcido, a demanda de pensar mesmo quando o pensamento não quer, quando não se consegue, quando não se pode. e penso em você, andromaque, estrela equidistante e reluzente que me captura o olhar. tu, que como viajante descuidado, navegando em águas perigosas e turvas, nestas águas impalpáveis que escrevo como no fundo de um espelho, tu, é em ti que penso. e viro as páginas. tu me dizes, eu tenho medo. ("sorrisos", você escreveria). tu, pequeno, diante da escola, eu não te esqueceria, pegaria sua mão, o sorriso as covinhas... na mão um sorvete de pistache. enquanto o ônibus não vem. eu aqui, olhando o mar. você daí, também olhando o mar, como se um oceano nos separasse. eu me perco de novo nas referências e peço desculpas. (apaixonado por sorrisos e um bom amante de abraços). eu te escrevi minha pequena carta, numa letra torta, tu rirás, tu saberás rir quando retomar as garatujas de novo, decifrando mais de mim que a própria caligrafia permitiria. eu te sequestraria, na impossibilidade de me amares, esperando e cultivando a tua síndrome de estocolmo. final de noite, ocultos pela penumbra, fugindo até a padaria da esquina para comer coxinha. nossa trilha sonora desliza entre meu chico e minha bethânia, e sua tiê, roberta sá, daniel chaudon, dani black, jeneci... seu repertório é mais amplo, mas nos violinos antiquados, talvez o meu seja mais seguro. e ouvimos repetidas vezes, como se ouvir pudesse preencher esta distância, fazendo a exaustão aparecer ali onde os corpos não conseguem mais se tocar, não porque não se queira, mas porque esta distância tomada por espaço, preenchida pelo desejo, cartograficamente quilometrada impede. duas sombras pedalando à beira-mar. mas eu nem gosto de bicicleta. (me desenha um carneirinho?). eu te prendi nos corredores e nas esquinas dos meus sonhos. (me dá mais um beijo?). e dividimos os corredores da biblioteca... um bom beijo é aquele de quando os livros caem, páginas e páginas, e nos sentimos vistos, jane austen, virginia, joyce, que importa? e te peço desculpas por te encher de mim quando te prometi apenas doses homeopáticas... e te segurei, nos ponteiros, pelas pontas da imagem, com peito desnudo... meu cisne não escapará da gaiola, ele não está preso. eu te fiz perder a hora, não te quero fazer perder teu tempo... este tempo que também escapa ao relógio, me dá cá meu abraço, meu príncipe que precisa de mais do que um beijo para acordar, volta pra cama... vem dormir comigo no calor da manhã?
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