sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

(para B.).

são quase cinco horas da manhã e resolvi escrever para aquietar meus pensamentos, quando decidi, creia, comecei escrevendo isto num de meus bloquinhos, foram algumas páginas e tentativas frustradas depois que pensei que isto não daria certo. e talvez agora você sorria o com canto da boca, torcendo um pouco o lábio.  é engraçado como você conseguiu me afetar nesta sua primeira visita. é terrível, na realidade. eu, no fundo, torcia pelo contrário, não por um bônus maior de dor de cabeça. não consigo dormir agora porque estou perdido... sem chão... droga, eu queria te beijar! eu queria um beijo teu, mas um beijo não se pede. não sei dizer se o ganharia de outra forma ou mesmo em outra circunstância. também não sei se você teve esta vontade, fico repassando seus gestos na memória acreditando ter pedido ou deixado passar minha chance. não sou nada bom em analisar os fatos em que eu mesmo me incluo como uma variável, minhas equações sobre você oscilam. a questão é que também sei que estás saindo com outra pessoa, e isto me entristece de certa forma, por saber e concatenar fato, e talvez por isso eu tenha evitado dar o primeiro passo, não ter feito nada não significa que não quis fazer, não foi medo ou receio, mas esta não é uma escolha que deva ser minha. e também não quero me pôr na reserva, algo ao estilo "não está com o outro, mas está comigo", fazendo cara de satisfeito como segundo da fila, o segundo da linha. queria talvez nesta ilusão que inventei pra mim que você me visse, eu te mostrei o que sou, o que faço, não sei o que posso ser, mas deixei você entrar no meu campo, gravitar no meu espaço por algumas horas... esta é minha existência. pouca, rala, uma sopinha que mal dá pra dois, tão sem sal ou açúcar... quisera pensar de outra forma, mas me resigno, respiro - tenho medo de não te ver de novo. baixo a cabeça, espero as coisas se resolver, o pó se acumular nos livros... quem sabe, não é mesmo? bem sei que não sou bonito, eu e minhas pernas longas, meu pescoço enorme, meus hematomas de ballet, minha afetação e marcas de alergia. eu, que cheio de livros, sabendo dizer tanto em tantas línguas, simplesmente não sei o que dizer pra ti. talvez não tenha nada a ser dito e esta seja a angústia que me amassa no canto da parede, coisa que queria que você tivesse feito. mas, trocadilho ruim a parte, que me resta? vir aqui, escrever secretamente pra ti algo que nem sequer terás a chance de ler, que talvez ninguém leia... quais os olhos saberiam disto agora?  eu olho pela minha janela e bem sei do silêncio da rua, deste silêncio que se levanta quando abro um livro pra me perder dentro dele. mas meu pulso está descompassado, como você com sua arritmia pelo café. também não tenho nada para oferecer, meus domínios são isso, meus dias confusos e monótonos virando páginas. quem estaria satisfeito com uma vida como esta? o que todos parece procurar é esta aventura pequeno-burguesa conturbada, cheio de altos e baixos, copos e pratos quebrados. isto pra mim não é vida, não é a minha vida, é novela mexicana. você foi tão gentil, que não sei se foi apenas educação. eu conjecturo demais, falo tanto quanto escrevo (talvez mais ainda porque na fala meu ritmo é mais acelerado), encho os espaços a volta de mim, projetando minhas sombras, minhas palavras, minha voz, meus gestos amplos. você, garoto, com sua quinta posição fechada, com seu dehors perfeito. e nunca fez dança. você que ficou vermelho ao ler um poeminha de piva.como dizer de outro modo, como dizer de outra forma. eu gostei de estar contigo, apenas isto. o que isto significa? é impossível dizer.... é impossível dizer alguma coisa agora, porque isto depende de ti, mas você não esta para mim agora, e talvez nunca esteja, mas e se este for o momento de arriscar, se este for o momento de tentar, se eu tivesse de ter pegado em tua mão para que seu forte desmoronasse feito um castelo de cartas... e não tendo feito isto e eu me permiti estar assim. eu e esta minha cicatriz no joelho. eu e meus cafés. e meu desenho torto. e me gabando que sabia desenhar, não te desenhei, desenhei um estranho.... talvez não se consiga desenhar o que se quer ter por perto para olhar por mais tempo, mais demoradamente... há tanto tempo alguém não existia pra mim como você existiu e uma única tarde. poderia eu ser tão egoísta a este ponto, sacrificar sua palavra por algo, por uma aposta? no fundo, todo querer estar junto é uma aposta, uma aposta no tempo, na resistência, em que se suporte... que se suporte o preso da presença, o cansaço das mesmas manias e piadas velhas que retornam sem cessar.  é engraçado como a intenção era realmente te escrever algo, mas falhei, perdi, o pulso cambaleou. cheguei a pegar um envelope e, imitando sua caligrafia de letras uniformes, escrever seu nome. talvez, e penso tanto no talvez como se fosse uma outra opção, um outro mundo...e sinto a respiração presa no maxilar, os olhos querendo se encher de lágrimas,  a ardência no nariz...  é esta falta de coragem me faz  simplesmente pausar e parar de existir por mim mesmo. e se tento gastar em tantas palavras é por acreditar que talvez na próxima linha eu possa compreender e chegar a alguma conclusão, a uma conclusão sobre ti e parar de sentir isso. afinal, o que tenho de ti? exatamente? a sua companhia e sua gentileza... mas não pense que isso seja pouco para mim, não é. é mais que isso, jamais o seria. acredito que quando duas pessoas tem de ficar juntas, isto depende da escolha delas, mas mais ainda que elas se suportem como presença, afinal, creio, que o amor, o verdadeiro amor, só possa se definir quando duas pessoas conseguem se imaginar numa posição em que o sexo já não é mais bom, em que os olhos opacos e cercados por uma moldura de rugas, quando os cabelos estão brancos ou já não a mais cabelos, quando o abraço quente durante a noite dá câimbras ou os pés gelam porque um roubou o coberto do outro, quando todas as coisas parece falhar, quando tudo parece não dar mais, quando os "120 anos de dercy dizendo palavrão" chegarem, eles ainda possam estar lá e se contentar na presença um do outro. saber que isto basta, não que seja suficiente, porque não o foi, foi corpo, foi rugas, foi dias... foi o acumulo de  um afeto que não foi bebido como água, mas que ainda está sendo descoberto, devagar. eu não sei se você poderia ser esta pessoa, mas você bem poderia ser alguém com quem eu gostaria de tentar. não me pergunta o motivo, não há razão lógica pra isso, nem eu com meus matemas e algorítimos, nem você com seus cálculos e matrizes poderiam dizer de outra forma ou pesar tal possibilidade. a matemática não responde bem e a estatística por pensar na tendência vai contra a corrente. eu  não sei o que você poderia pensar se chegasse até este ponto... o problema é que esta carta não é propriamente uma carta, já que se supõe que uma carta chegue a seu destino. qual o destino deste texto? qual o destino deste eu-você dentro deste texto? eu te prometi uma aquarela, talvez seja o que possa te dar. eu estou inseguro, inseguro do tempo,querendo que ele passe mais depressa para nosso próximo café, mas ao mesmo tempo impossibilitado, como te convidar? será que você me convidaria? como será? o que direi? ço e resta sempre, nesta minha insegurança, o que dizer ou fazer de novo ou ainda. o que ainda não foi dito?  não queria te encher com meus livros, te fazer bocejar com minha conversa fiada... mas ao mesmo tempo é isto que faço escrevendo isto, escrevendo pra você que tem os olhos vendados para esta minha caixinha posta em um universo paralelo. e que sei eu de ti além do que me dizes? no fundo, não posso dizer exatamente porque me afetas, porque te persigo naquilo que tu és, no teu corpo, na tua voz, nas tuas mãos, no toque que fiz no teu pé... no enrubescimento das maçãs do rosto. eu certamente te beijaria caso tivesse podido, mas a escolha era tua. não seria eu o predador que te traz a toca e te diz o que fazer e como agir, você tinha de escolher, tinha de ter a possibilidade de escolher me dar o beijo ou não, me dar um pouco mais de si, este si que é puro desvendamento; em algum outro lugar escrevi sobre o que eu esperava (sobre um céu nublado destes que parecem dar errado, em que tudo parece dar errado, que se derrama café na camisa, que se arrebenta as alças da mochila, que as sacolas rasgam e que os livros despencam... que este poderia ser o dia de um possível príncipe encantado), certamente não foi o que tivemos num dia de sol aberto em largo campo azul, dia quente... quente... e você suando do meu lado, me deixando entrever suas coxas... e isto foi maldade. não queria ter a ideia de caçar como quem caça pelas savanas ou porque tem fome... ou simplesmente por esporte. queria mais, queria que você estivesse aqui e quisesse estar aqui, que eu te beijasse ao mesmo tempo em que você também encontrasse meu beijo e me beijasse. em uma das poucas vezes que fui brincar de matemática, e sabes disto do tanto que frisei meu fracasso numérico, fui a pitágoras e há um momento, entre os teoremas em que o filósofo então se permite uma licença poética: ele diz que a vida de duas pessoas que se amam ou que são envolvidas pelo amor são tratadas como uma ilusão, mas não é uma ilusão ruim, cada uma, como um duplo de retas paralelas visando o infinito, só poderiam se encontrar na ilusão do horizonte que cria um ponto em comum entre elas. diferentes, jamais podendo ocupar o mesmo espaço, elas se encontram quando vistas a distância, porque não se confundem, se tocam porque inventam e escolhem esta ilusão para si, porque se vem ao longe, para além do espaço do simples presente. meio demodé para os padrões fast foods, eu sei, mas quê dizer? eu já não sei mais, o aperto continua, e sinto esta necessidade de dizer, de dizer, mas já não há nada a ser dito, mas como não há resposta a ser ouvida, eu continuo escrevendo sem parar. mas é fisicamente impossível, o dia começa a dar sinais de que vai amanhecer, preciso dormir, você já deve estar dormindo. que me resta? o teu abraço, já que nem sequer este beijo tornado linguagem eu ganho. e isto ainda me deixa mais confuso. talvez eu deva silenciar e por isto escreva, a palavras escritas não são som, não fazem ruído, são imagem sobre papel, um outro desenho, e  não podendo ter resposta, não podendo ouvir nem o eco da minha voz, não posso me enganar. não há você... por enquanto, não há. mas como eu gostaria que houvesse! talvez esta seja a grande invenção aqui e eu tenha inventado palavras para  te inventar, como aquele que és, mas desdobrado na minha ficção sobre ti e acabo fingindo que existes, no meu delírio, e que existes para mim e comigo.... sem exigências. suspendendo o jogo. apenas livro aperto, e tu, como personagem que escapa por entre as páginas, me sussurra baixo no ouvido alguma palavra inaudita e secreta (não posso escrever, me escapa), e fecho a capa, mantendo meu cavaleiro de armadura brilhante preso dentro de meu romance.

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