Um garotinho gordinho de bochechas róseas corria balançando seus cachinhos loiros ao sol. Os pombos concorriam com ele e davam apenas saltinhos insistindo que aquele espaço era deles. Mais perto de mim, uma menina ruiva, de pés nus, brincava na areia. De quando em quando ela me lançava olhares desconfiados. Eu no meu banco apenas me deixava observar a cena. Por vezes o vendedor de maçã-do-amor passava por mim. Há quanto tempo eu não devorava esta iguaria? Não sei dizer. Um carro insistia em tocar Modern Talking. O tempo na praça era desmesuradamente outro. Não é o meu tempo. Havia os gritos, os espasmos. Os meninos jogando futebol, o casal próximo ao lago (que eles chamam de tanque…). Os grupos de adolescentes. As crianças em um brinquedo que gira, não sei o nome daquilo, cantavam Queen. We wil rock you. Estranhamente tudo parecia deslocado, como se a cena se moldasse. Um carro com um rapaz bizarro tocava Britney Spears. Nada fazia sentido. Eu tentava apenas fazer um retrato. Nada especial. A garotinha ruiva, lá pelas tantas, trouxe-me uma pequena florzinha, já despetalada pelas suas mãos pequenas e cheias de areia. Não sabia o que fazer. Dei-lhe um desenho. Ela me sorriu mais uma vez. Tudo parecia tão simples diante da bagunça da minha cabeça. A desordem de minhas notas, a minha mala ainda não desfeita ao pé da cama. Queria poder esquecer que havia um livro na minha bolsa, que teria de voltar, que talvez só me restasse o pó das prateleiras. Ainda há tempo para passar o natal em Nova Iorque… sempre resta a possibilidade da fuga, mas como fugir?
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Desleitura
Eu voltei a ler Piva, não queria encontrar nele mais nada de Mário. Queria ver apenas o quadro borrado e distante de um grito, de um assalto, de um crime na São Paulo noturna. Sem o noturno, sem réquiem, sem notas de piano. Há sempre pílulas coloridas ao alcance da mão. Não queria me importar mais com a internet ou escrever alguma coisa inteligente. Que beijos eu dava... quando não precisava pensar. Todas as minhas tardes agora são tardes desesperadas, regidas por um gesto distante e soberano de alguém que diz: continue, assim está bom, desista, assim não pode. Há uma insegurança como verme imitando um tigre que devora minhas estranhas palavras enquanto minhas entranhas ficam intactas. Algumas vezes queria me preocupar com o abraço que você poderia me dar hoje, aquele beijo morno da manhã, mas meu coração bem-pensante e bem-feito só faz soluçar. Tenho frio e abro as janelas. Eu peço o amor em todos os seus beijos. O vento da madrugada não te traz aqui. Há a insônia, a preocupação dos livros ainda não lidos e das coisas ainda não escritas. Eu te quero ainda, preso ao meu olhar, minha flor de girassol. Fará as orações sem mim na Sé? Ouvirá os sinos do mosteiro? Passará pela Paulista no mesmo horário dos meus arroubos e do meu assalto? Eu odeio tanto esta ilha e cada vez mais. Eu odeio esta casa de escadarias assombradas. Este quarto que sempre engole minhas coisas. O último metrô talvez não nos leve pra sua casa. Queria respirar. Para que tanto sol, quando no fim nada está claro? No fim não sei o motivo de ainda escrever e falar, se escrevo difícil e o quê falo é incompreensível. Estou deslocado. Às raias de cometer um crime e quem sabe um pecado capital. É o despotismo destes livros que me aflige. Talvez Florianópolis ainda seja o mesmo Desterro de outrora. Ele devia estar aqui. No fim, não encontro nem Piva, nem Mário, nem a ti, nem a mim. Não sei mais só chorar.
A paz do anoitecer
We take a walk, the sun is shining down
Burns my feet as they touch the ground.
-Beatles.
Burns my feet as they touch the ground.
-Beatles.
É segunda-feira. Não choveu, não sei se me cansei, o sol já foi. O que resta é um céu violáceo. Não sei se gosto de retornar para casa. Não precisei de meu cachecol roubado. Preciso fazer meus exercícios de inglês. Ainda. Preciso vestir o personagem. Andar solitário pelo Kensington Garden não faz mais sentido. Não sou princesa Diana e ainda não tenho meu conto de fadas. Contento-me com um passeio leve, um romance água-com-açúcar como única companhia. Eu e meu acento escocês incompreensível. Como sobreviver na fria Londres, tão distante quanto agora? Edmund insiste em repetir quando passamos próximos ao Tâmisa aqueles versos, marcando com os passos a cadência: “Sweets Thames run softly, till I end my song”. Mas sou eu quem vou mais devagar ainda, nunca querendo encerrar a canção. Insuperável a Royal Opera House, a noite na ópera, o xadrez do suéter dele se confundindo com meus tons negros. (…Mon anglais c’est bizarre, Monsieur…). São apenas os meus erres que se arrastam. Evito a todo custo atravessar as coisas. Through é impronunciável. Ele lerá para mim algumas páginas enquanto me põe para dormir? Creio que não. O chá para dois será sempre só para um. O quarto amplo no Ritz Hotel com as janelas fechadas para o Piccadilly diz e insiste nisto. Os lençóis de seda sempre amarfanhados pela mesma insônia de todas as noites. Eu sempre entre os mesmos papéis e querendo trocá-los por ossos, tentando encontrar algum corpo, mesmo que seja apenas algum resto de corpo, mesmo que seja um corpo frio e esquecido. Como meu corpo sempre se esquece. (Le laisser en plan). Como eu sempre deixo esfriar minha chávena de Earl Gray. Meus pés doem e eu não danço há tanto tempo. No meio do meu romance encontro um post-it, deixado por quem? Diz apenas em traços firmes: L’amour est un caillou riant dans le soleil. Eu sei ler hieróglifos, mas não sei ler o futuro na borra de café. Hoje não estou para excessos.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Liebesbedingung
(serial lovers)
Sentado, lendo, o garoto erguia a cabeça algumas vezes na direção do outro garoto, num desses cruzamentos um sorriu e o outro ficou vermelho. Distantes. Impossível trocar mais que este sorriso. Ele sabia em que botões se apoiar para se fazer amar, mas ele não amava necessariamente. Casar os botões é bem diferente de apertá-los. Speed dating. É necessário algumas vezes esconder a questão para depois levantar o véu e insistir em algumas perguntas. O primeiro garoto apenas olha, prende o olhar e o captura na página em branco com suas brancas mãos pequenas, quase infantis. O carvão é que corre. Talvez isto que se desenhe no limite de suas próprias verdades. O amor se endereça àquele (em) que (se) pensa que (se) conhece a (sua) verdade verdadeira. Os grandes olhos castanhos, o sorriso nos lábios bem desenhados, o cabelos levemente cacheados. Speed loving. Abro a cena parisiense e me acho no fundo: sou eu quem desenha em aquarela o teu rosto manchando com pérolas perdidas meus lenços de seda. Insisto na minha procura. O segundo garoto põe os óculos escuros para ir a praia prender ainda mais alguns raios de sol na pele bronzeada. "O que você lê?". A verdade do amor é sempre amável, agradável, porém é neste fato que ela se torna difícil de suportar. "É Mário de Andrade... Amar, verbo intransitivo". Amar verdadeiramente qualquer um, é acreditar que em amando, se tem acesso a uma verdade sobre si. "Posso?". Certamente que este sorriso lateral sabe provocar o amor do outro, não quero acreditar que suas palavras apenas ronronem para quem possas roçar minha pele. E há aquela falta ainda. “O quê você desenha?”. (O vazio que sempre insiste). No cinema, no banco lateral, não há ninguém. Vejo Angelina Jolie bancando uma aventureira, máquina de matar, minha homônima. Na trama ninguém morreu, o tiro foi calculado, a morte foi quase morte com veneno de aranha. Líquido e fatal: não-mortal. Constato dolorosamente nas fotografias que ficou este vazio sombrio, os pedaços. Tu bem que poderias ser Frederico Guilherme III da Prússia e sem pensar, entre Beethoven e Schiller, eu pudesse roubar meus versos e minhas sonatas. Seria fácil... allegro ma non troppo, un poco maestoso. Não sei se você se deixa levar por este ridículo aceno. "Preciso falar contigo..." O amor é quase líquido, afirmou-me Zygmunt quando observava os meus sapatinhos vermelhos e o petit pois do meu lenço. Aquele que ama é essencialmente feminino. Eu replico, sempre, meio revolto e século XVII demais pra deixar o violino silencioso. "Se te amo é porque você é amável". Nesta ficção não é Werther quem escreve as cartas, mas Charlotte que pensa demais. Sem serial killers.
Delphins
(uma carta deixada na gaveta)
Talvez seja excessivo e confuso. Estou na angústia do não saber. Invejo sua coragem de se deixar levar assim, meio livre. Tenho medo de ser isto pra ti, uma coisa livre. Note o que você exige, me quer no controle, quando eu é que deixo mais rastros, sou mais facilmente encontrável. Siga minhas pegadas.Nem há necessidade de ser um gênio stalker para saber o que faço.Eu queria também poder ter minhas crises, poder perder o controle, eu sequer posso dizer direito que tenho ciúmes, porque você os tem por mim. Como me defender se sei apenas das armas, mas não dos oponentes? Talvez eu esteja ficando neurótico demais. Mas você, e não apenas você, exige que eu suspenda minhas pequenas regrinhas para que apazigue sua crise. Não sei o que esperar. Pondero. Pergunto: O que faz um casal de golfinhos tão especial? Não sei se quero ser a pessoa que sempre pondera e aquiesce. Tenho de ficar aqui, à espera, quieto. Espero o mal-entendido. Você sempre sabe onde estou. Apenas suponho, engolindo fantasmas e dúvidas. Sou a puta merda de um garoto de 22 anos, que por mais que leia demais, que pareça velho, suponha entender muita coisa, gosta de um mínimo de mágica. Eu preciso deste inexplicável, do encanto das surpresinhas… eu tenho esse maldito problema de ser literal demais algumas vezes. Não sei suportar ironias… É um lugar estranho pra mim. Queria poder apenas respirar algumas vezes, sair do controle… mas no fundo eu só tenho as mesmas coisas a que me apegar. Amanhã o fundo do poço pode não ter sequer água. É agora que as coisas doem e são insuportáveis. Talvez no futuro me descubra errado e tenha, querendo ou não, que pagar o preço e as taças roubadas. Ficarei mais uma vez abandonado a este regime de pensamento que me obriga a racionalizar tudo, a matematizar as coisas, voltar ao literal para me segurar ali… sei que consigo fazer isto, é o que venho fazendo. É uma maneira de me agarrar a esta realidade a minha volta, de não me deixar me perder dentro da minha cabeça, mas ao mesmo tempo é horrível ter de me submeter a isso.
Seelenmord
De um bom filólogo, mas mau gramático.
(este texto é um golpe de linguagem)
(este texto é um golpe de linguagem)
Sempre sozinho, assim… peito desnudo, vulnerável, cobertor lançado às costas, o corpo sobre a cama. Os livros, vários, espalhados pelo chão do quarto. Não queria insistir nisto. Cansei de pintar quadros há muito tempo. As mesmas pálidas maresias, a ponte, o barquinho com um navegador. Carimbos. Havia em algum lugar a necessidade de um sorriso largo, horizontal, mas sem perspectiva. Não obstante todos acreditavam, se não acreditavam realmente, ao menos deixavam parecer acreditar. E tudo isto bastava. A convenção estava estabelecida sem feridos. Je vous aime et vous m’aimez. O que doía mais era o fato de que a máscara colorida funcionava. Ninguém jamais duvidara do que ecoaria no vazio daquele rosto, no oco escuro da mente que sobrevivia aos próprios Blackouts. Havia um cheiro estranho no corpo e um tremor de espera, mas o melhor é que talvez soubesse esperar. Havia certo descompasso na mão que realizava a maquiagem, desenhando a linha dos olhos, apenas ali, naquele reflexo condicionado de quem não sabe que diz eu. A boca rósea fechada. C’est pas moi qui l’aime, c’est elle. Talvez fosse o corpo que precisasse se cansar, quase animal e primitivo. Mas impossível não satisfazer a imagem do beijo, da cena, dos cuidados. Impossível saber o motivo do corte no primeiro tapa. É a taça partida que sempre retorna e sempre se enche outra vez. Talvez fosse necessário que o outro não falasse tanto e talvez eu não escrevesse outros tantos. Talvez um pouco de vento frio nos cabelos não dissesse da liberdade, mas apenas do roçar de leve que se põe entre pele e vento. C’est pas moi qui l’aime, c’est lui. Um atrito que produz algum frescor. Mas se o espectro terceiro, excluído da cena, mistura no mesmo chão, roupas e palavras, é que estas tem, por certo, as mesmas capacidades. Há no fundo da cena um corpo que sempre se ausenta. C’est pas elle que j’aime, c’est lui. Talvez por isso outras vozes é que sempre sobrevivam, incapazes e persistentes. A insistência talvez não fosse do corpo, mas do desejo. Os olhos eram sempre os mesmos olhos vítreos, as vozes maquinais, os autômatos é que decidiam a abertura do jogo. No limite: eu não quero jogar! Não toca o desconhecido do meu corpo com suas mãos desconhecidas tentando descobrir algo. Je ne l’aime pas, je le détèste. O meu corpo é sem palavras. Talvez devesse ignorar a primeira pessoa e seus limites territoriais nesta trama. Tentei te ligar, mas você não pode me ouvir. Quem é a pessoa que sempre foge da cena? Quem é que sempre faz cena? Il me détèste. Insistindo no delírio de procurar um crime nas palavras, fazendo inquisição e indexando segredos presos numa pequena caixa de uma Pandora. Há algo que não é tão complexo, talvez passível de recortes. Você insiste em acreditar nas palavras, quando não acredita o quê aparece é esta mentira surda e acomodada. Só consigo entender a necessidade de dar uma alma ao corpo na necessidade de que alguma coisa sempre possa ser salva. Não acredito que algo possa ser salvo. Aos poucos as letras não fazem mais sentido, o buraco do jogo é que se abre, confundindo as letras. Talvez reste o traço, o desenho primitivo da parede da caverna como uma luz, um prenúncio, neste crime de dar à pegada sempre um corpo movente. Um corpo que nunca pode estar ali.
Isto não é uma fuga
(Come away with me)
Nove horas da manhã, alguém bate na porta do quarto, um aviso simples põe ordem no dia. É preciso mais do que acordar, jogar algumas roupas na valise e partir. Partir rapidamente. Há algum sol no dia lá fora e não preciso saber o porquê. Meu coração não está mais mergulhado em vinho. Vou me esconder além da serra do mar. Não encontrei meu garoto de recados. Preciso dos meus tecidos, preciso costurar mais que as palavras, preciso vestir algo. O céu da minha boca tem um corte, a culpa não é da minha língua ferina. Queria dizer um pouco. Minha mão está marcada pelo peso. Três dias apenas. Não sei qual é meu espaço. Há quantos quilômetros poderei encontrar um rosto conhecido. Preciso ir. Sem grandes atrasos e sem grandes suspensões.
Nove horas da manhã, alguém bate na porta do quarto, um aviso simples põe ordem no dia. É preciso mais do que acordar, jogar algumas roupas na valise e partir. Partir rapidamente. Há algum sol no dia lá fora e não preciso saber o porquê. Meu coração não está mais mergulhado em vinho. Vou me esconder além da serra do mar. Não encontrei meu garoto de recados. Preciso dos meus tecidos, preciso costurar mais que as palavras, preciso vestir algo. O céu da minha boca tem um corte, a culpa não é da minha língua ferina. Queria dizer um pouco. Minha mão está marcada pelo peso. Três dias apenas. Não sei qual é meu espaço. Há quantos quilômetros poderei encontrar um rosto conhecido. Preciso ir. Sem grandes atrasos e sem grandes suspensões.
domingo, 29 de agosto de 2010
Uma página
Best read with your favorite cup of tea!
não me aproximei. a praça aberta no meio da cidade tinha um nome confuso e uma lenda estranha. alguns escoteiros corriam, crianças no balanço. restava esta sombra minha sobre uma toalha xadrez bancando Jane Austen. poderia desenhar, poderia se... você me ligava durante a manhã para me acordar, mais tarde, certamente, descobriria que talvez fosse sonho. não sei se gosto de sonhar. não sei como tu me encontrarias neste labirinto. tudo é uma insistência de procura. he could read his own history with an interest which never failed: this was the page at which the favourite volume always opened... não quero que insistas em bancar este Romeo impossível. descobri o que preciso talvez, meio alucinadamente, mas sei. o parque, além as árvores, as sombras, dos gritos, dizia algo mais. não vamos mais brincar de talking cure, certo? há decisões sempre limites. pensei no espaço que eu desenharia como os limites do meu lugar. cavalos não são muito bons pra alguns papos e o ar sem poluição acaba fazendo mal pra quem não tá acostumado, mas sempre se pode fazer o cowboy de alguma antiga propaganda de cigarros e tentar ser livre por alguns segundos em alguma campina. bancar o cowboy é legal! mas precisa envolver uísque e/ou tiroteios ao tramonto pro meu gosto. a banheira não foi capaz do que deveria. o vinho não me esqueceu o corpo. há ainda aqui muitas páginas de diário para serem queimadas.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Talvez não ainda
"Not enough ecstasy for me,
not enough life, joy, kicks,
darkness, music, not enough night"
-Kerouac.
not enough life, joy, kicks,
darkness, music, not enough night"
-Kerouac.
Algo rasga aqui, parece até fome, mas tem outro cheiro. Penso tanta coisa. Não sei o que sei de ti. Não sei se gostei de tua última fotografia ou de tuas últimas palavras. Algo estranho cresce e é dentro de mim. Pauso o pensamento um pouco, suspendendo esta impressão dolorida. Talvez eu sinta que já te perdi, talvez você não me prove o contrário. Eu não tenho a cara de homem, os pés grandes, não arroto à mesa, muito menos 1 metro e 90 centímetros... tenho dedos demais, regras demais. Não me olha de canto, como significante fugidio. Ambos sabemos que eu sou este resto, que nunca pega ninguém, que se agarra as canetas, escala estantes para fugir do naufrágio instantâneo. O meu nome é somente lembrado para a polícia, mas você sabe dizer do quê sou? Sei do mínimo, mas talvez apenas escrever não baste. Tenho medo de dormir e ter outro pesadelo, por isso conto as moedas, invento um caminho, não quero dormir como não preciso comer. Destruí uma garrafa de vinho sem nome, sem selo, sem dignidade. A noite está fria, sequer posso abrir uma janela para respirar. Eu quase nu, as cobertas recobrem este mínimo de mim que se chama corpo, não afoga o gélido do pensamento. Meus anos de caligrafia perdem o sentido da letra do desenho que ela faz. Talvez não devesse insistir neste não. Não irei brincar à francesa hoje. Sem epígrafes, engolindo a pontuação, resignadamente respirando baixo. Eu queria saber como você me lê. O que faço quando não posso nem escrever sequer desenhar? Eu só sei estudar e como sanduíches reais, como Ginsberg. I think of Dean Moriarty. Talvez para mim haja coisas o suficiente. J'étais triste ce dernier soir en remontant dans ma chambre... sim, eu o era, não tenha estas dúvidas. Escrevi estas palavras para me cansar e poder fechar meus olhos.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
um sonho com o Real
(depois de ler Schreber)
talvez este seja o impossível, encontrar o real naquilo em que apenas figura. não sou um bom gramático. mil perguntas neuróticas sempre surgem: eu o amo? você me ama?
sonhei com o vazio futuro, o aberto suspenso, sonhei com um pensamento que pensa o pensamento pensante. tudo se fazia no fundo negro da mente, tão igual a um labirinto de espelhos.
quem é que ama aqui?
isso é tão início do século.
preciso descobrir outras linhas ocultas, outros lugares em que esta escrita se inscreve. mas é apenas um sonho ainda. sem delírios.
não sei se depois disto há algo para escrever. puro delírio das relações.
eu não faço teu gênero.
talvez este seja o impossível, encontrar o real naquilo em que apenas figura. não sou um bom gramático. mil perguntas neuróticas sempre surgem: eu o amo? você me ama?
sonhei com o vazio futuro, o aberto suspenso, sonhei com um pensamento que pensa o pensamento pensante. tudo se fazia no fundo negro da mente, tão igual a um labirinto de espelhos.
quem é que ama aqui?
isso é tão início do século.
preciso descobrir outras linhas ocultas, outros lugares em que esta escrita se inscreve. mas é apenas um sonho ainda. sem delírios.
não sei se depois disto há algo para escrever. puro delírio das relações.
eu não faço teu gênero.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Instruções de Bordo
(certamente para Eduardo Morato)
Preciso que você aperte bem os cintos, o que você vai ver é como acontece um crime. Não pergunte. Apenas observe bem. Respire fundo, talvez na primeira incisão jorre algumas gotas de sangue, não tenha nojo. A página não sente tanta dor assim. Ao mesmo tempo em que escrevo isto, não escrevo nada. Qual o efeito disto? Ora, sou pura ficção, ora me lês como pura biografia. Sem invenções o quê sempre aparece são sempre novos corredores na biblioteca. São sempre palavras roubadas. São sempre das palavras de outros que faço minhas meias-palavras, na impossibilidade de dizer de novo, digo ainda. Há sempre um limite de saída das palavras: tentar fazer o azul deixar de ser azul, ou ainda, ser azul na intermitência do vermelho. Usar as palavras até gastá-las para percebê-las apenas como esta coisa: palavra. De quatro versos que amo sempre posso fazer um teste, uma maneira de tocar a sensibilidade da linguagem (se é que isto é possível). O que é que reside aqui? um ser? uma lembrança? um nome? Talvez não seja preciso acreditar em um instante de consciência. Escrever talvez seja um crime nesta loucura desdobrada em que se crê acreditar como se fosse tão real quanto o corpo que escreve. Poderá um belo poema desabrochar uma flor? Quem é que diz eu aqui? Talvez o possível da experiência da escritura seja feito todo questionamento. O que te convido a fazer é a entrar no jogo. Assumir esta voz que não há no aprisionamento dos caracteres quando disponho um ao lado do outro. O seu sentido é no mínimo por mim consentido. (a-e-i-o-u ou b-c-d-e-f-g… como escolher?). Onde estão as manchas de sangue que te disse que jorrariam? Olhe suas mãos, do que elas estão sujas? É possível encontrar um pouco de mim aqui, sim, mas eu pergunto o que de mim você quer encontrar aqui? O crime que insisto que pode haver, mas que no fundo não há, ou há, mas velado e oculto por tantas palavras. É uma palavra circular aqui. Escrever é andar na superfície mais profunda da página, quase no lugar em que ele vira pele, mas não a minha pele, a tua pele que lê e que sente o que pode ter estado (se é que esteve) aqui. Cada leitor tem um projeto de leitura, de sua leitura. Prazer ou gozo, para além da descoberta ou do desvendamento. Talvez não haja verdade por trás das palavras; a não ser o outro lado da página, página que também aqui não há. Se um alquimista pode ser um educador e transformador da matéria, aquele que escreve pode fazer o mesmo, só que na esfera da linguagem. O que resta é uma grande imagem que inventa um mundo. Acho que é hora de mergulhar neste lago profundo, no raso da página, mas vai você primeiro. Eu não sei nadar…
Je te regarde me regarder: mon oeil
Monte je ne sais d’où
A la surface de mon visage
Avec l’impertinent regard des lacs.
- Yvan Goll.
Monte je ne sais d’où
A la surface de mon visage
Avec l’impertinent regard des lacs.
- Yvan Goll.
Preciso que você aperte bem os cintos, o que você vai ver é como acontece um crime. Não pergunte. Apenas observe bem. Respire fundo, talvez na primeira incisão jorre algumas gotas de sangue, não tenha nojo. A página não sente tanta dor assim. Ao mesmo tempo em que escrevo isto, não escrevo nada. Qual o efeito disto? Ora, sou pura ficção, ora me lês como pura biografia. Sem invenções o quê sempre aparece são sempre novos corredores na biblioteca. São sempre palavras roubadas. São sempre das palavras de outros que faço minhas meias-palavras, na impossibilidade de dizer de novo, digo ainda. Há sempre um limite de saída das palavras: tentar fazer o azul deixar de ser azul, ou ainda, ser azul na intermitência do vermelho. Usar as palavras até gastá-las para percebê-las apenas como esta coisa: palavra. De quatro versos que amo sempre posso fazer um teste, uma maneira de tocar a sensibilidade da linguagem (se é que isto é possível). O que é que reside aqui? um ser? uma lembrança? um nome? Talvez não seja preciso acreditar em um instante de consciência. Escrever talvez seja um crime nesta loucura desdobrada em que se crê acreditar como se fosse tão real quanto o corpo que escreve. Poderá um belo poema desabrochar uma flor? Quem é que diz eu aqui? Talvez o possível da experiência da escritura seja feito todo questionamento. O que te convido a fazer é a entrar no jogo. Assumir esta voz que não há no aprisionamento dos caracteres quando disponho um ao lado do outro. O seu sentido é no mínimo por mim consentido. (a-e-i-o-u ou b-c-d-e-f-g… como escolher?). Onde estão as manchas de sangue que te disse que jorrariam? Olhe suas mãos, do que elas estão sujas? É possível encontrar um pouco de mim aqui, sim, mas eu pergunto o que de mim você quer encontrar aqui? O crime que insisto que pode haver, mas que no fundo não há, ou há, mas velado e oculto por tantas palavras. É uma palavra circular aqui. Escrever é andar na superfície mais profunda da página, quase no lugar em que ele vira pele, mas não a minha pele, a tua pele que lê e que sente o que pode ter estado (se é que esteve) aqui. Cada leitor tem um projeto de leitura, de sua leitura. Prazer ou gozo, para além da descoberta ou do desvendamento. Talvez não haja verdade por trás das palavras; a não ser o outro lado da página, página que também aqui não há. Se um alquimista pode ser um educador e transformador da matéria, aquele que escreve pode fazer o mesmo, só que na esfera da linguagem. O que resta é uma grande imagem que inventa um mundo. Acho que é hora de mergulhar neste lago profundo, no raso da página, mas vai você primeiro. Eu não sei nadar…
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
da arte do presente
Então, aqui segue, meus 16 anos de ballet clássico, rapidamente capturados pelo migs @uddg. Vai dizer que não ficou fofo?
Nem reclamo, eu que nem sei usar o paint pra desenhar... só invejo.
:*
Não um filósofo, mas um estrategista.
(para Luiza Ribas: “não é uma teoria, é um plano”)
A cena está aberta. Os atores não sabem a língua que falam. Há um engano assombroso nas cortinas fechadas. Há uma sociedade que se põe com os corpos em aberto. Qual a mágica do espetáculo? O garoto quer militância e repudia a psicanálise. Qual é a situação em conflito? A vida atravessa a arte. Nem mesmo a minha identidade permanece igual. Algo que é o que nunca foi insiste. Podemos pensar no crime sem cometê-lo? Você quer ou você deseja? Não temos lugar aqui. Levante, corra. Todos sentados não lêem. As imagens passam rápidas, a música ensurdece. O corpo nu apaga o desejo. Qual o motivo da tua revolta? Há sempre aqueles garotos que insistem em maio de 68. Vimos juntos aquele filme do homem que virou suco. Aqui tudo começa com a possibilidade do delírio, portanto, é por isso que eu posso escrever. Não faremos a revisão dos mortos. Eu só consigo ver através dos meus olhos. Sem documentação burocrática (Casa Pratt para reparos de máquina de escrever). As trilhas que segui em São Paulo vão para além do Pateo do Collegio. É um corpo estranho que se esconde na Missa. Eu preciso insistir na pergunta, ainda: quem matou Roland Barthes, Gianni Versace e Lady Di?
Um inseto
Aos poucos vou fazendo os desenhos que devo e que prometi pra geral aí. Agora segue um inseto pro amigo biólogo @safrablau.
Espero a lição de taxionomia do bichinho...
:D
Quis custodiet custodes?
Plays that daring, darling Holly Golightly to a new high in entertainment delight!
Disseram-me que o dia de hoje foi um belo dia, com um sol enorme e muito calor. Não posso confirmar. É domingo e aos domingos apenas me esqueço. Porém agora esta ilha esta tomada pela bruma e um por um grande céu laranja e vermelho. Está frio. Não saberia dizer quem treme mais, se eu ou as palmeiras que nunca se integram à paisagem. Algumas crianças correm enquanto eu apenas espero o ônibus para casa, de bloco e caneta em punho. “Pára de correr, Cauã!”, insiste a mãe desesperada. “Só vou para de correr quando ficar tonto”, responde atrevido o garotinho. Talvez o garoto tenha encontrado uma verdade na impossibilidade da vertigem. Só de escrever já me encontro tonto e com náuseas. Tenho fome, mas isto não diz nada; sempre tenho fome. Uma fila se forma diante de meu banco. Treze pessoas que apenas vão, fugindo do vento. Impossível não querer sacar da máquina fotográfica pelas linhas, sombras e luzes que se formam. Possível renunciar ao querer e ao gesto. Não penso mais em Paris e em Charles com seus cisnes esculpidos em gelo. Nunca recebi uma carta sua. Nunca mais seria muito tempo para um pecado capital? Tenho de trabalhar por estes restos em que jamais se foge aos clichês – sem cinematografia. Quantas lágrimas cabem em um lenço de papel? É sempre o antes-do-desejo que lateja como dor estranha e alheia no inverso dos olhos. Ouço um dos homens da fila conversando, creio que se chama Juvenal, fala que algumas vezes as coisas mais belas são as piores. Não entendo o contexto. Eu uso sua camiseta, aquela que traz uma foto macabra e a legenda de Genôva. Tenho medo de nunca retornar. O futuro próximo suspenso. Quantas rodas sempre passam por aqui. Não sei mais encontrar o que dói e os pontos de socorro no mapa. A mochila pesa mais que a consciência. Abandono meu bloco mágico. Deu a hora, posso ouvir o relógio, é preciso partir.
domingo, 22 de agosto de 2010
Algumas palavras para acabar com a magia
(enquanto o sociólogo, o psicólogo, o analista e o antropólogo dormem)
é quase como se a cabeça, lado esquerdo, tivesse se partido. talvez algum cavaleiro medieval não fizesse melhor que isto. não posso dizer que não tenho aqueles sonhos solitários. tu me contas do teu dia, enquanto lê teu jornal, não consigo ler as datas. talvez as datas nunca importem num tempo suspenso, sem corpos e sem referências. a biblioteca tem as peles mais extensas que se tocam. um café repleto de crimes, a rua desenha as faces do mal. toca minha testa, não há mais febre, só a dor pugente. o que se cai das mãos é um corpo desfacelado. tu és ainda uma criança indefesa, num parque enorme. e quê sou eu? tudo isto deverá ser arranjado numa precisão fulminante. teremos nós dois a mesma lembrança das fotos que olhamos. talvez eu fique nu em sonho e vá para a escola num dia de prova. tão comum este sonho. eu talvez quisesse o mínimo de um abraço. tenho sede. não tenho fillhos, talvez nunca os tenha. eu sei dançar e talvez o faça demais. shame on me. não me entende? não queria me sentir descartável, minha criança. eu sempre escrevo tua carta, você não é capaz de juntar os pedaços esparsos para remontar isto. eu, talvez, pudesse insistir em te perguntar: Est-ce qu'il collectionne lespapillons?, não sei se você saberia do quê falo. há um crime macabro em fazer das palavras este jogo de ossos. Eu te leria esta pequena historieta, mas não para dormir, mas para entender que se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar entre millhares e milhares de estrelas, eles só será feliz quando e enquanto a admira. talvez seja um excesso, talvez... mas falta o quente do teu corpo aqui. a tua respiração dormindo. as palavras talvez insistam em ocupar este lugar no lado literal da cama, mas o copo cheio se esvazia, torna a encher e esvaziar. mas sem magia. as flores murcham, o vazio é aquilo que lateja, a dor é aquilo que sem preencher espaço se faz presente.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Madame Min
Eu também sou Disney, okay? e embora não seja Anastácia, o desenho de hoje é pra minha nova amiga a @madame_min, feito agora e com muita pressa. Espero que achem parecido, ao menos.
beijos.
Cristais de gengibre
"... my life you could call my life on the road"
-Kerouac.
-Kerouac.
talvez não queimasse tanto como foi a primeira vez. talvez não ardesse. talvez ainda mais eu sequer te tocasse. como te contar um segredo? como te contar o meu segredo? a manhã continua. não tenho fome. não me lembro de beber água. quase nunca tenho sede. os pés doem. o frio na ponta dos dedos, as unhas ruídas e sujas de tinta. eu pintei o seu sonho roubado. na linha lateral do teu desejo risquei um ponto de fuga. na realidade tenho os olhos tortos e não sou bonito, você sabe. as linhas, sempre elas, aquele pontinho de mais-ainda que sempre escapa, como sangue, pelos dentes. havia o beco ali diante da parede. a janela cerrada e o vento que insiste. deixaram as taças para serem lavadas. gata borralheira de joelhos engole em seco e recebe seus postais. sem sapatinho de cristal. o grito preso na garganta nunca sai. sairá um dia ainda? é preciso segurar no corrimão. labirintos caem e o chão cede sempre. é preciso refrescar o prolongamento do eu dentro do teu eu. eu conheço os números, as tabelas, os divãs, mas quando há necessidade democrática... os potes rugem. ecos nos corredores despertos. não é preciso saber parar. nunca. um gole a mais não é nada. a queda, o salto engatado na perna dele. O que você pensa? escreve um bilhete rápido, no calor da paixão e esquece dentro de um livro.
La Condessa Sangrienta
Muito à Valentino
(ainda para a seleção de @olivipasouza)
Quem me conhece sabe da minha pequena paixão pelos traços de Valentino Garavani, que o digam meus lenços e meu óculos LINDO e tão fartamente cobiçado (Queridas Aidé cleptomaníaca, vocês não irão sequestrá-lo assim tão fácil. Mas voltando ao croquis, embora o tom de azul e amarelo não façam muito a palheta do italiano, não sei bem o motivo de ter escolhido (deve ser sérias influências da "criente"), o corte em linhas retas e com golas grandes satisfaz a megalomania italiana....
vamos ver quem gosta.
Logo tem a série "Casamento" (para a migs @paularodrigues)... tão lindo isso né?
Quase Lacroix
Mais um croquis da série "desejos de @oliviapasouza"
Este vai colorido e bem à Lacroix, pelo corte e pelo tom.
Autre
(écrit au tableau)
à travers les ages
au point du temps où nous sommes
je m'avise que
à droite et à gauche
au titre du fantasme
d’autre
de la Genèse de M. Dieu
se joue
…“Il pleut”…
ni l'un, ni l'autre, ni ce temps, ni cet espace
à sa vie éternelle
nous retrouvions les manuscrits de la Mer Morte
- de la Mer de la Mme. Morte –
(de la merde-Morte)
c'est qu'il y ait un marché du travail:
l’autre de l’Autre.
__
L’autour du fantasme
13 novembre 1978
à travers les ages
au point du temps où nous sommes
je m'avise que
à droite et à gauche
au titre du fantasme
d’autre
de la Genèse de M. Dieu
se joue
…“Il pleut”…
ni l'un, ni l'autre, ni ce temps, ni cet espace
à sa vie éternelle
nous retrouvions les manuscrits de la Mer Morte
- de la Mer de la Mme. Morte –
(de la merde-Morte)
c'est qu'il y ait un marché du travail:
l’autre de l’Autre.
__
L’autour du fantasme
13 novembre 1978
Psicodiagnóstico
(ou: do corpo exposto numa loteria cultural)
Não vou mais te analisar, diz meu psicanalista. Aceito e troco a sessão por um jantar de comida tailandesa. Derek insiste em pôr as mãos onde não deve. Já disse isso a ele. Prefiro não pensar nestas coisas enquanto escrevo meu romance. O garoto da terceira mesa tem um dragão tatuado nas costas… e belas coxas. Estou velho: tenho câimbras. Não foi eu quem te enviou aquelas flores, você sabe, não? Flores nunca são para os finais de romance. Qual o sentido de ainda se escrever assim em pleno século XX? Essa coisa de picuinha pequeno-burguesa. Há um teor antropológico em toda imagem, mas estudaremos esta que a taça de vinho faz refletir no fundo de suas retinas. Você ainda acredita na matéria, no cérebro, no organismo, sou capaz apenas de sentir estas intensidades quentes e frias na extremidade deste desconhecido de mim. Percebes as manchas da minha maquiagem? Meu pequeno príncipe, eu já o lia aos cinco anos e em francês, diz deste essencial invisível aos olhos. Há alguma certeza que vem dos sonhos? Eu sempre vejo o mesmo filme, não sei o porquê, mas gosto de Cleópatra, entre Mélièr, Guazzoni, Edwards, DeMille… ainda prefiro Mankiewics, com Elizabeth Taylor soberana. Lembro-me quando estive em Paris, ah… la Place de La Concorde…. o obelisco de Luxor é, no mínimo, um luxo como já o apresenta o próprio nome. Preciso amarrar o instante-já para não esquecer. Como descrever a nota aromática de teu perfume, da tua respiração no meu pescoço, tudo isto que sobrevive numa pequena lembrança? Há um excesso de representação nestas palavras. Um pouco oportuno, talvez até oportunista (vamos encenar o gozo para além da durabilidade). Abra a boca, diga “oh!”, deixa-me contemplar sua língua. Deixa-me ver o quê eu vejo: o que já não é e ainda não é. Felix culpa. Há um ser que não caminha para a morte?
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
You are kidding me right?
(Um labirinto, meio-Borges)
Florianópolis: ainda. Alguém sonha que tem um filho meu. Eu, garoto-salto-alto, em laços rosas, pintando flores nas paredes. Sem Van-Gogh. As a child, Vincent was serious, silent and thoughtful. Eu preciso delinear técnicas. Escrever um pouco a mais, um pouco sem menos. Este teu olho torto. Esta tua falta de orelha. Meus livros tem duas orelhas. Não sei ler Shakespeare. Isto aqui seria arte & cultura? Qual outro espaço para isto. Eu leio falsos laudos desta sua psicose sem limite. Borro a fronteira. Estou na minha ilha: desterrado. Me abraça ainda através desta webcam. Eu odeio estas pessoas com pseudo-Europa. Estou rabujento. Quebra-cabeça de um tropeço: as palavras engasgam enquanto o estômago faz barulho. Muito. Amanhã eu começo a te costurar nas minhas palavras e tentar realizar os teus sonhos.
Há um jardim no vazio da praça.
Há um cão dormindo dentro do meu pesadelo.
Duas senhoras ao telefone...
A penteadeira segue vazia.
Florianópolis: ainda. Alguém sonha que tem um filho meu. Eu, garoto-salto-alto, em laços rosas, pintando flores nas paredes. Sem Van-Gogh. As a child, Vincent was serious, silent and thoughtful. Eu preciso delinear técnicas. Escrever um pouco a mais, um pouco sem menos. Este teu olho torto. Esta tua falta de orelha. Meus livros tem duas orelhas. Não sei ler Shakespeare. Isto aqui seria arte & cultura? Qual outro espaço para isto. Eu leio falsos laudos desta sua psicose sem limite. Borro a fronteira. Estou na minha ilha: desterrado. Me abraça ainda através desta webcam. Eu odeio estas pessoas com pseudo-Europa. Estou rabujento. Quebra-cabeça de um tropeço: as palavras engasgam enquanto o estômago faz barulho. Muito. Amanhã eu começo a te costurar nas minhas palavras e tentar realizar os teus sonhos.
Há um jardim no vazio da praça.
Há um cão dormindo dentro do meu pesadelo.
Duas senhoras ao telefone...
A penteadeira segue vazia.
2º Prêmio BlogBooks
Aqui estou eu me metendo também em fazer campanha e é campanha deste espaço que já dura algum tempinho. E desta vez a culpa nem é minha é do @samukaraulino que encontrou o prêmio e achou que eu tinha naipe pra competir. Aqui estou.
Então migs, se você quer dar uma forcinha pra este amigo pseudo-artista...
dá um ou vários votinhos aqui VOTE NO EV que depois eu agradeço muito mesmo.
então, bora me ajudar na campanha?
coraçãozinho S-2 s-2 pra quem tá na luta!
Então migs, se você quer dar uma forcinha pra este amigo pseudo-artista...
dá um ou vários votinhos aqui VOTE NO EV que depois eu agradeço muito mesmo.
então, bora me ajudar na campanha?
coraçãozinho S-2 s-2 pra quem tá na luta!
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O desejo é um frio escuro no dia
Resigno-me. Desisto. Não escrevo mais. Eu desenhei um vestido que não me serve, nem me pertence. My own brain is to me the most unaccountable of machinery—always buzzing, humming, soaring roaring diving, and then buried in mud. And why? What’s this passion for? Meus garranchos são incompreensíveis. Você caberá dentro desta prosa frouxa? Não diga seu nome. Nunca diga. É perigoso quebrar o silêncio.Por que você me trouxe aqui para dentro deste quarto? O parque aberto, o vento, o lago dos cisnes. Eu preciso te explicar algo. Não te movas: olha para o foco, mostra o rosto, sorria para os olhos que irão ter em mãos esta fotografia. Cansei de preparar os meus lencinhos para uma crise dramática de lágrimas oceânicas que nunca chega, mas esta gripe apenas fica, com seus resfriados, febres e tremores. Écart saisonnier: sempre há risco de precipitações.Eu quero que você saia daí. Escrever é algo sexual, não? A folha dura chupa a tinta. Na violência há algo que sempre respinga e alguém que fala demais. Não, não me desculpe. Now regarded as a classic feminist work. Sem pinturas e pichações no quarto escuro. A mão que pousa sobre a coxa não marca a pele. Atende este telefone garota. Agora, não atende mais. O que diz este livro que você lê enquanto anda? Eu queria entender um pouco mais destes signos e destas rugas. Não faz muxoxo, abre as pernas ao médico.Ele não tem desejos como eu. Eu sempre guardo "aquilo", você sabe "onde". E tenho que escrever, mas não posso mais. Que música diz de agora? Eu não digo eu aqui. É sempre a mesma história do menino de recados. Você m'entende?
The above biography is copyrighted. Do not republish it without permission.
Uma dor oitavada
(bem à Manuel Bandeira)
Tosse. Tosse. Tosse. A sede torce o corpo. Um piano rouco ao fundo. O rosto preso a cama. O travesseiro úmido. A distância abrindo as veias. O suor abrindo oceanos. Febre. Febre. Febre. O que você diria doutor-todo-alucinação? A mágoa roída na unha do dedo mínimo. Tenta um grito em três tempos. Um filete de sangue escorre por um dente. O gosto amargo é passado e não futuro próximo. O futuro diante da janela, você não entenderia, mas as alucinações são sempre belas. Não há o sofrimento do poeta. A apenas o fato se fazendo imagem. O que dói nos pulmões não se imprime nas palavras. Os lápis se misturam. As mãos se trocam. Impossíveis os doentes mágicos. Pílulas coloridas se distribuem em copos plásticos. Nada combina. Não gosto das verdes. Não é tão fácil assim: cruzar as linhas da paisagem para vencer o mapa. Sem perspectiva. A vontade indizível de chorar, mas resta o grito sem voz, com a noite pondo areia nos olhos. A paixão está nas vírgulas. É cada vez mais difícil escrever. Não que seja algo sensato, inteligente ou com sentido. Simplesmente, escrever é o difícil. A mente dolorida, o corpo pesado, insiste em cair para fora da página. A paixão está nas vírgulas, mas e o amor? Quando você fala comigo algo lateja. Queria poder ceder ao jogo. Há a neurose. Sem todo amor que houver nesta vida. Desistir talvez conforte. Como você se sentiria se fizessem uma lavagem cerebral no seu melhor amigo? Sem complexos de culpa, vítima de críticas destrutivas com uma larga coleção de mágoas e coisas impossíveis de serem ditas. Há algo que falha. Quando você escreve pra mim algo palpita. De resto, respire, suspenda. Os livreiros e editores são sempre muito necessitados. Eu não consigo escrever tua carta. Troco as letras e não me sinto bem. Nada é tão simples. Dobrando as esquinas, é meia-noite ainda, quem me abraça são meus próprios braços sombrios. Sono. Sono. Sono. O que escoa e escorre, arde. Disto que enrijece com o silêncio e vai se perdendo pouco a pouco. Eu queria não ser tão fácil. Eu queria não ser tão lógico. Parar de admitir as coisas e seus lugares. O inverso de si. O impossível como aberto. Como porta-aberta. É preciso dar boa noite. Sem contos de fada. Na esquina, o vento que dobra, assovia. Amanhã quem gritará as horas?
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Modista
Pois bem, em alguns momentos é preciso mudar de carreira, não é mesmo? Aqui vai a primeira missão, exigida por ninguém menos que @oliviapasouza, além é claro das discussões infindas (e cheias de feminilidade com @francageorge e @lamaringoni) de uma tentativa de incursão criativa. Explico: a cara @oliviapasouza intimou-me a fazer um vestido pra ela, agora estou eu aqui envolto entre tintas, idéias, tecidos, agulhas e linhas.
Nesta brincadeira, para satisfazer aos desejos da "criente", selecionei minhas linhas-mestre, a saber, Valentino, Saint-Laurent, Dior, Tom Ford, Chanel, Givenchy, Gaultier, Balenciaga, Versace, Lacroix, Dolce & Gabbana, Marc Jacobs, Ralph Laurent, McQueen e McCartney, pra sobre elas, desalinhando os mestres, tentar algo...
O que vai aqui, ainda sem colorir e sem decidir tecido e nada mais é apenas um teste. Quem sabe? Não é mesmo? Entre Givenchy e Saint-Laurent, ao invés de grafar Yves, grafei Evy e foi isso o que deu.
Depois posto os outros e dependendo do que acontecer também fotos da coisa materializada...
Aguardo "sinceras" opiniões.
Доктор Живаго
(A hora da estrela de cinema)
Qual a manchete de hoje? Finjo que não sei. (Criança revoltada com Sherazarda que sempre continua a história). O que gira e abre na pista, no rosto estranho, no reflexo de estanho dos espelhos. Haveria a força do beijo aqui? O beijo que sacia está tão longe e em silêncio. Meu corpo é que lacrimeja em dores. Desta feita minha margarita não voou pelo salão. Os olhos que encontrei. Os corpos em que esbarrei. É preciso aprender a mergulhar nas garrafas e nos copos, fugindo do contato dos corpos, destes que querem te morder, que querem apenas o corpo no seu mais quente lateral, o corpo sem nome. Uma dose de tequila não faz do corpo uma marmita, destas que você leva para comer em casa. Meu amor, você fugiria de mim? Longe, bem longe, quase de madrugada, ao longe, é possível ouvir os sinos catedral e o canto gregoriano murmurando na distância. Se tu soubesses como eu posso ser carinhoso. Corro de todas as moças. Tudo é um risco. Lembro-me de uma garota estranha, certamente confusa, que veio de leve, sorrindo, copo confundindo o corpo na mão, seios afoitos, conversar comigo. Sorrateiramente me pediu um beijo. Impossível. Não há mulher que enfrente minha imagem refletida no espelho torto que se abre turva e oblonga no fundo de um copo de gim tônica. E eu nem falei francês e nem mesmo caí no abismo. O ego suicida ainda se sustenta, equilibrando-se no parapeito, trinta andares acima do solo, só esperando um analista gritar “pula!”. É o cinema, bem à Almodóvar, que me engole, cheio de cores e perfumes. Mas seu diretor preferido começa com F… minha memória é apenas 8/2 da tua. “Este telefone está programado para não receber chamadas”. É meu costume obedecer. A última vez que fiz minha barba foi pra ti, para que descobrisse meu rosto, além desta máscara inteligente e quase pensante que se cola muitas vezes, como uma máscara de papier-maché feita de obras raras. Tônica, rum e suco de limão. Hoje eu sonhei que corria por um corredor largo, cercado de quadros, buscava sua mão e não encontrava. Havia no corredor tantos outros. Tantos. Um engenheiro elétrico punha luzes no caminho, outro com uma jóia Tiffanys falava, mas era impossível de se ouvir, estranhos e estrangeiros. Como Holly-Audrey eu roubava máscaras, mas não me fazia cão ou gato. O pesadelo me deu nojo, você sabe que odeio vomitar. Parecia que a noite se desdobrava em duas. Duas longas noites. O meu mar tornado texto não tem segredos, é pura calmaria, mas não sei nadar. Quando o amor estará em perigo? (A sapatilha se suspende nas fitas e faz ponta sozinha: como confiar neste equilíbrio mudo que dói e sempre insiste no sangue?) O que diz a tatuagem que fiz na tua pele? O uísque cowboy é chave da noite, carregando poeira e calor nas botas. Os vaga-lumes bancando estrelas no quarto. Os insetos podem ser poéticos. Meu peito dói todas as noites, sinto que enfartaria, não tivesse apenas vinte e dois anos apenas. O que é que pesa aqui? Letras demais sem mulheres nuas. Uma taça de champanhe engana o paladar, fingindo um beijo em bolhas e brilho diamante. O que é que dói aqui ainda, não é o que mamãe sonhou, não são as dores das horas diante do grande espelho, alongando à barra, sempre buscando o movimento perfeito, sempre mais ao longe, ao longe, quase tocando o outro lado de mim, o outro lado do espelho, dançando uma valsa suspenso alguns segundos ao ar, quase voando. O joelho, as coxas, as costas, os músculos doloridos. Tenho medo da possibilidade de esquecer de ti. Permitiria isso? E eu, ainda, sempre continuo insistindo aqui. Mas onde é mesmo que eu cheguei sem chegar?
Qual a manchete de hoje? Finjo que não sei. (Criança revoltada com Sherazarda que sempre continua a história). O que gira e abre na pista, no rosto estranho, no reflexo de estanho dos espelhos. Haveria a força do beijo aqui? O beijo que sacia está tão longe e em silêncio. Meu corpo é que lacrimeja em dores. Desta feita minha margarita não voou pelo salão. Os olhos que encontrei. Os corpos em que esbarrei. É preciso aprender a mergulhar nas garrafas e nos copos, fugindo do contato dos corpos, destes que querem te morder, que querem apenas o corpo no seu mais quente lateral, o corpo sem nome. Uma dose de tequila não faz do corpo uma marmita, destas que você leva para comer em casa. Meu amor, você fugiria de mim? Longe, bem longe, quase de madrugada, ao longe, é possível ouvir os sinos catedral e o canto gregoriano murmurando na distância. Se tu soubesses como eu posso ser carinhoso. Corro de todas as moças. Tudo é um risco. Lembro-me de uma garota estranha, certamente confusa, que veio de leve, sorrindo, copo confundindo o corpo na mão, seios afoitos, conversar comigo. Sorrateiramente me pediu um beijo. Impossível. Não há mulher que enfrente minha imagem refletida no espelho torto que se abre turva e oblonga no fundo de um copo de gim tônica. E eu nem falei francês e nem mesmo caí no abismo. O ego suicida ainda se sustenta, equilibrando-se no parapeito, trinta andares acima do solo, só esperando um analista gritar “pula!”. É o cinema, bem à Almodóvar, que me engole, cheio de cores e perfumes. Mas seu diretor preferido começa com F… minha memória é apenas 8/2 da tua. “Este telefone está programado para não receber chamadas”. É meu costume obedecer. A última vez que fiz minha barba foi pra ti, para que descobrisse meu rosto, além desta máscara inteligente e quase pensante que se cola muitas vezes, como uma máscara de papier-maché feita de obras raras. Tônica, rum e suco de limão. Hoje eu sonhei que corria por um corredor largo, cercado de quadros, buscava sua mão e não encontrava. Havia no corredor tantos outros. Tantos. Um engenheiro elétrico punha luzes no caminho, outro com uma jóia Tiffanys falava, mas era impossível de se ouvir, estranhos e estrangeiros. Como Holly-Audrey eu roubava máscaras, mas não me fazia cão ou gato. O pesadelo me deu nojo, você sabe que odeio vomitar. Parecia que a noite se desdobrava em duas. Duas longas noites. O meu mar tornado texto não tem segredos, é pura calmaria, mas não sei nadar. Quando o amor estará em perigo? (A sapatilha se suspende nas fitas e faz ponta sozinha: como confiar neste equilíbrio mudo que dói e sempre insiste no sangue?) O que diz a tatuagem que fiz na tua pele? O uísque cowboy é chave da noite, carregando poeira e calor nas botas. Os vaga-lumes bancando estrelas no quarto. Os insetos podem ser poéticos. Meu peito dói todas as noites, sinto que enfartaria, não tivesse apenas vinte e dois anos apenas. O que é que pesa aqui? Letras demais sem mulheres nuas. Uma taça de champanhe engana o paladar, fingindo um beijo em bolhas e brilho diamante. O que é que dói aqui ainda, não é o que mamãe sonhou, não são as dores das horas diante do grande espelho, alongando à barra, sempre buscando o movimento perfeito, sempre mais ao longe, ao longe, quase tocando o outro lado de mim, o outro lado do espelho, dançando uma valsa suspenso alguns segundos ao ar, quase voando. O joelho, as coxas, as costas, os músculos doloridos. Tenho medo da possibilidade de esquecer de ti. Permitiria isso? E eu, ainda, sempre continuo insistindo aqui. Mas onde é mesmo que eu cheguei sem chegar?
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Convescote
Eu penso em escrever aquele livro que te disse. Ou talvez ainda pintar aquele quadro. Ou dizer aquele poema. Penso tanto e a culpa é sua. Talvez não devesse beber. Talvez ainda não devesse parar de beber para pensar estas coisas. Tu dizes da distância, daquilo que ficou de nós, no chão da cozinha, preso na grama. Não tenho minhas pequenas dores para me confortar. Você pode dizer o que quiser, mas eu ouço Sufjan Stevens e não posso fazer nada com isso. Há o frio. Há sua imagem correndo sem camisa, com gelol no peito e halls preto na boca potencializando meus calafrios. Poderá ainda nevar na minha praia. Sabemos disso. O sul do meu peito não é tão profundo assim que suas palavras não possam me matar ou mesmo seus silêncios deixem de fazer eco. Apenas os diamantes são para sempre. Mas serão eles e apenas eles os melhores amigos? Não há nenhuma mulher insistindo aqui. Não hoje. Nenhum corpo nu de salto alto. As lolitas merecem, certamente, um céu melhor que aquele dos anjinhos rosinhas e rechochudos. Meu céu: uma taça de martini seco com azeitona. Não se pode prescindir do luxo das pequenas coisas. Isto não é um sonho em ritmo lounge. O que fazer se meus personagens são sempre superiores a suas histórias. Minhas narrativas no máximo dão um poema longo e hermético. Sem chaves. Estendo o pano xadrez das palavras. Não me restam peças ou refrescos. Abandonado no meio da ponte num dia de chuva, sem saber o que esperar. Poderei brincar de agente duplo sem resquícios de guerra fria ou marcas de dentes? Uma fogueira, um copo a mais e o céu estrelado para brincar de ligar os pontos. Há sempre, sim, aquelas nuvens. Não te diria que aqueles violinos me aprisionam no fim da noite. Não resto sempre aqui, preso? Insisto. Talvez algum dia escreva uma música para seus ouvidos, mesmo que jamais fique além de tocar a campainha de sua porta em ritmos criminosos no meio da noite. Isto parece tão pouco. 1664 caracteres como estas formiguinhas que resistem ao inverno, carregando as migalhas de nada.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
quase meia-noite
são selvagens. ocultos por um brilho estranho no cimento. a mão que tomba e arrasta. devassa. a mão suja invade o bolso, procura. diamantes, como sempre. actio in personam. não sobrevive. quiça sobrevive sem poder pensar. pensa no livro que deu de presente. no trem que perdeu para Paris. nas coisas que são roubadas. nos desenhos feitos no escuro de um parque. como não? me dá sua mão. não esvazia meu bolso. nem de leve. nem me toca. cuidado. outros olhos que passam e não vêem. eles nunca vem. nós sabemos. eu aqui soluçando. você, onde? no silêncio ambos. é além do meio-dia. uma volta. ou duas. é sempre o retorno que faz doer. o arquivo na bolsa, pesando em fibras nervosas. acho que devíamos ter ido ao cinema e nem parado diantes daqueles quadros tortos. será sempre a ausência de um pouco mais de luz? de um rosto menos anguloso? as linhas se abrem no asfalto, mas são sempre sinais de direção. siga. atenção. pare. que horas serão ainda? que horas será amanhã? o ponto cruzado entre dois alfinetes segura a inveja. o delírio é que bate no peito como necesssidade de um outro beijo. sabes? que sabes? não sabes. o risco suspenso, como corda esperando o pescoço.
Assinar:
Postagens (Atom)