quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Talvez não ainda

"Not enough ecstasy for me,
not enough life, joy, kicks,
darkness, music, not enough night"
-Kerouac.



Algo rasga aqui, parece até fome, mas tem outro cheiro. Penso tanta coisa. Não sei o que sei de ti. Não sei se gostei de tua última fotografia ou de tuas últimas palavras. Algo estranho cresce e é dentro de mim. Pauso o pensamento um pouco, suspendendo esta impressão dolorida. Talvez eu sinta que já te perdi, talvez você não me prove o contrário. Eu não tenho a cara de homem, os pés grandes, não arroto à mesa, muito menos 1 metro e 90 centímetros... tenho dedos demais, regras demais. Não me olha de canto, como significante fugidio. Ambos sabemos que eu sou este resto, que nunca pega ninguém, que se agarra as canetas, escala estantes para fugir do naufrágio instantâneo. O meu nome é somente lembrado para a polícia, mas você sabe dizer do quê sou? Sei do mínimo, mas talvez apenas escrever não baste. Tenho medo de dormir e ter outro pesadelo, por isso conto as moedas, invento um caminho, não quero dormir como não preciso comer. Destruí uma garrafa de vinho sem nome, sem selo, sem dignidade. A noite está fria, sequer posso abrir uma janela para respirar. Eu quase nu, as cobertas recobrem este mínimo de mim que se chama corpo, não afoga o gélido do pensamento. Meus anos de caligrafia perdem o sentido da letra do desenho que ela faz. Talvez não devesse insistir neste não. Não irei brincar à francesa hoje. Sem epígrafes, engolindo a pontuação, resignadamente respirando baixo. Eu queria saber como você me lê. O que faço quando não posso nem escrever sequer desenhar? Eu só sei estudar e como sanduíches reais, como Ginsberg. I think of Dean Moriarty. Talvez para mim haja coisas o suficiente. J'étais triste ce dernier soir en remontant dans ma chambre... sim, eu o era, não tenha estas dúvidas. Escrevi estas palavras para me cansar e poder fechar meus olhos.

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