segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Delphins

(uma carta deixada na gaveta)

Talvez seja excessivo e confuso. Estou na angústia do não saber. Invejo sua coragem de se deixar levar assim, meio livre. Tenho medo de ser isto pra ti, uma coisa livre. Note o que você exige, me quer no controle, quando eu é que deixo mais rastros, sou mais facilmente encontrável. Siga minhas pegadas.Nem há necessidade de ser um gênio stalker para saber o que faço.Eu queria também poder ter minhas crises, poder perder o controle, eu sequer posso dizer direito que tenho ciúmes, porque você os tem por mim. Como me defender se sei apenas das armas, mas não dos oponentes? Talvez eu esteja ficando neurótico demais. Mas você, e não apenas você, exige que eu suspenda minhas pequenas regrinhas para que apazigue sua crise. Não sei o que esperar. Pondero. Pergunto: O que faz um casal de golfinhos tão especial? Não sei se quero ser a pessoa que sempre pondera e aquiesce. Tenho de ficar aqui, à espera, quieto. Espero o mal-entendido. Você sempre sabe onde estou. Apenas suponho, engolindo fantasmas e dúvidas. Sou a puta merda de um garoto de 22 anos, que por mais que leia demais, que pareça velho, suponha entender muita coisa, gosta de um mínimo de mágica. Eu preciso deste inexplicável, do encanto das surpresinhas… eu tenho esse maldito problema de ser literal demais algumas vezes. Não sei suportar ironias… É um lugar estranho pra mim. Queria poder apenas respirar algumas vezes, sair do controle… mas no fundo eu só tenho as mesmas coisas a que me apegar. Amanhã o fundo do poço pode não ter sequer água. É agora que as coisas doem e são insuportáveis. Talvez no futuro me descubra errado e tenha, querendo ou não, que pagar o preço e as taças roubadas. Ficarei mais uma vez abandonado a este regime de pensamento que me obriga a racionalizar tudo, a matematizar as coisas, voltar ao literal para me segurar ali… sei que consigo fazer isto, é o que venho fazendo. É uma maneira de me agarrar a esta realidade a minha volta, de não me deixar me perder dentro da minha cabeça, mas ao mesmo tempo é horrível ter de me submeter a isso.

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