sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cristais de gengibre

"... my life you could call my life on the road"
-Kerouac.

talvez não queimasse tanto como foi a primeira vez. talvez não ardesse. talvez ainda mais eu sequer te tocasse. como te contar um segredo? como te contar o meu segredo? a manhã continua. não tenho fome. não me lembro de beber água. quase nunca tenho sede. os pés doem. o frio na ponta dos dedos, as unhas ruídas e sujas de tinta. eu pintei o seu sonho roubado. na linha lateral do teu desejo risquei um ponto de fuga. na realidade tenho os olhos tortos e não sou bonito, você sabe. as linhas, sempre elas, aquele pontinho de mais-ainda que sempre escapa, como sangue, pelos dentes. havia o beco ali diante da parede. a janela cerrada e o vento que insiste. deixaram as taças para serem lavadas. gata borralheira de joelhos engole em seco e recebe seus postais. sem sapatinho de cristal. o grito preso na garganta nunca sai. sairá um dia ainda? é preciso segurar no corrimão. labirintos caem e o chão cede sempre. é preciso refrescar o prolongamento do eu dentro do teu eu. eu conheço os números, as tabelas, os divãs, mas quando há necessidade democrática... os potes rugem. ecos nos corredores despertos. não é preciso saber parar. nunca. um gole a mais não é nada. a queda, o salto engatado na perna dele. O que você pensa? escreve um bilhete rápido, no calor da paixão e esquece dentro de um livro.

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