segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Liebesbedingung

(serial lovers)

Sentado, lendo, o garoto erguia a cabeça algumas vezes na direção do outro garoto, num desses cruzamentos um sorriu e o outro ficou vermelho. Distantes. Impossível trocar mais que este sorriso. Ele sabia em que botões se apoiar para se fazer amar, mas ele não amava necessariamente. Casar os botões é bem diferente de apertá-los. Speed dating. É necessário algumas vezes esconder a questão para depois levantar o véu e insistir em algumas perguntas. O primeiro garoto apenas olha, prende o olhar e o captura na página em branco com suas brancas mãos pequenas, quase infantis. O carvão é que corre. Talvez isto que se desenhe no limite de suas próprias verdades. O amor se endereça àquele (em) que (se) pensa que (se) conhece a (sua) verdade verdadeira. Os grandes olhos castanhos, o sorriso nos lábios bem desenhados, o cabelos levemente cacheados. Speed loving. Abro a cena parisiense e me acho no fundo: sou eu quem desenha em aquarela o teu rosto manchando com pérolas perdidas meus lenços de seda. Insisto na minha procura. O segundo garoto põe os óculos escuros para ir a praia prender ainda mais alguns raios de sol na pele bronzeada. "O que você lê?". A verdade do amor é sempre amável, agradável, porém é neste fato que ela se torna difícil de suportar. "É Mário de Andrade... Amar, verbo intransitivo". Amar verdadeiramente qualquer um, é acreditar que em amando, se tem acesso a uma verdade sobre si. "Posso?". Certamente que este sorriso lateral sabe provocar o amor do outro, não quero acreditar que suas palavras apenas ronronem para quem possas roçar minha pele. E há aquela falta ainda. “O quê você desenha?”. (O vazio que sempre insiste). No cinema, no banco lateral, não há ninguém. Vejo Angelina Jolie bancando uma aventureira, máquina de matar, minha homônima. Na trama ninguém morreu, o tiro foi calculado, a morte foi quase morte com veneno de aranha. Líquido e fatal: não-mortal. Constato dolorosamente nas fotografias que ficou este vazio sombrio, os pedaços. Tu bem que poderias ser Frederico Guilherme III da Prússia e sem pensar, entre Beethoven e Schiller, eu pudesse roubar meus versos e minhas sonatas. Seria fácil... allegro ma non troppo, un poco maestoso. Não sei se você se deixa levar por este ridículo aceno. "Preciso falar contigo..." O amor é quase líquido, afirmou-me Zygmunt quando observava os meus sapatinhos vermelhos e o petit pois do meu lenço. Aquele que ama é essencialmente feminino. Eu replico, sempre, meio revolto e século XVII demais pra deixar o violino silencioso. "Se te amo é porque você é amável". Nesta ficção não é Werther quem escreve as cartas, mas Charlotte que pensa demais. Sem serial killers.

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