sexta-feira, 11 de setembro de 2009

especulum

o porquê me atropela os trilhos, descarilho na trilha selvagem entre os objetos de toucador. na lembrança há um espelho de mão sequestrado. insisto no não grafado na superfície plana e longilínea da mão. não poderia. não deveria. há uma raiva vazia afogada em uma caneca verde. a fome conduz os dedos. a fuga dirige os olhos. o rasgo por onde vazo de meu vazio. desenho as letras de meu postal mentiroso. suspenso nos ganchos e vírgulas o corpo não grita, deixa-se atravessar pela escrita. um desejo politizado de ser-se, mesmo não tendo sido. não sou capaz de acreditar no que faço neste deserto de espelho. giletes também são espelhos. uma branca sombra de pó faz as pálpebras se agitarem em flashes. não pense para além do pincel. o curvex da dúvida. o jornal engana, mas vende. não compro o corpo vivo da esquina. prefiro cadavéricas sintaxes entornadas. a palavra truncada no desejo silencioso da covinha que agora já é ruga. e lateja. ninguém percebe que este eu é tão terceira pessoa que nem chega a ser o principal da cena. puro motivo retórico. toco (o) orgão. sinto cheiro de canela, cravo e violino. mastigo uma flauta doce e a cólica do crime advém. ana ri de mim. leio poemas anoréxicos. uma língua me corre as costas. é o dedo no espelho. não entendo de leis ópticas, por isso salivo. cão abandonado roendo o osso dos sons que a palavra não diz. um rosto de súbito aparece, dorso em decúbito, muitas lágrimas e um soco no nariz. violência final: nota de puro efeito especial. os copos gravitam. apaga-se a luz. adormeço na curva dupla do espelho.

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