sexta-feira, 4 de setembro de 2009

argonauta

[ao rapsodo que escondeu a voz]

não quero olhar o relógio. basta saber a noite. um fio de suor escorre ardendo nas costas. palavra inaudita. como abrir as portas do templo? como cerrar as portas do tempo? não lhe quero mal. até lhe enviaria flores. uma coroa de flores amarelas. e tomamos chá no salão azul suspenso com duas ladies. as rodas saltam aos solavancos. temos público, platéia. o cigarro é cenográfico. (em meia-hora te encontro nas quatro pilastras, embora não saiba me mover muito bem pela cidade). tudo não passa de puro efeito de projeção. sucessão de dores selecionadas cinematograficamente. bilhetes deixados nos degraus da escada. um-a-um. fragmentos não lidos. assino um rabisco. (uma feminista americana me mandou um postal - não chegou - correios machistas). chá inglês nos trópicos. minha francesa tão longe me manda champignons. sem nenhum problema de identidade queimamos os passaportes. voltar? para onde? para uma porquinha chamada barcelona e uma que virá a se chamar nova. empreendimento de matança. 3 moedas novas. o que eu posso roubar de mim mesmo. a americana tem os olhos vermelhos de cão raivoso. a inglesa tem olhos fundos e guturais, digo, tão culturais. sei esperar e isso dói. as bibliotecas pesam. galhos rangem. isso é lógica. as dobradiças do corpo não permitem mais que as idéias vaguem livres na pele, livros na pele, sobre a pele, rasgando a pele. não sei mais o que é desejo ou impossibilidade. é preciso da morte como ponto final. baixela de prata para depositar a cabeça. comecei o período, sei como acabá-lo. o fim-final último do drama: 15 segundos antes da cortina. sem nenhum abraço. sem ritmo. somente os diamantes sobrevivem aos diários e ossos. o resto, pó, não levantará no último dia. mergulho extremo e intenso entre a poeira das estrelas. passo de náufrago. achar e se tornar constelação. o grito.

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