quinta-feira, 1 de julho de 2010

O vôo da abelha em torno de uma romã

(de um tema de Salvador Dali)

para quem sabe que é dono destas palavras
ou há que se dizer o nome
l'unique Nombre qui ne peut pas

o calor dos dias
na esfera do tempo?

acordei, tinha o seu perfume (que não conheço) preso no nariz. como ter certeza que era o seu? je crois bien que je suis le premier homme qui ait vu cet ouvrage extraordinaire. como te querer deste jeito tão dependente, tão meu-teu, tão quero aqui. eu te disse o que não queria dizer agora. eu precisava da cena, das luzes, das velas, da pose certa, meio shakespeare espiando pela cortina. não ouvi a voz que dizia da escuridão, da distância. destas quedas. do mergulho. mergulharão depressa quatro dias na negra noite; quatro noites, presto, farão escoar o tempo como em sonhos. E então a lua que, como arco argênteo. no céu ora se encurva, verá a noite solene do casamento. vejo teus lábios, queria-os aqui. saltando ao desenho. tocando em corpo quente o desejo. sempre além do sonho, encobrindo a pele. na raiz dos cabelos. na luz que reflete e me rasga. eu tenho teu retrato preso na carteira. tenho um eu te amo preso na garganta. ciúmes. como dizer de outro jeito, que não tão século XVI e tão eu, tão preciosista e tão imagem diante do espelho em maquiagem. sou, milord, sou. teremos uma família tão nobre. maior de amor para suplantar as vanglórias. poderia me fazer demétrio e sonhar ainda, neste inverno, quase à loucura do teu amor. tu és tão culpado de amor. o que resta aqui é a flor que se abre, a metamorfose do narciso, em flores brancas e amarelas, abrindo a pele, o teu perfume em vermelho-cortante, marcando na minha pele sua presença mesmo que em sonho. tenho o teu gosto sonâmbulo na boca, a marca da sua mão na minha coxa, o respirar preso à nuca e o resfolegar enquanto dormias. não obstante, me dominas mesmo dormindo, mesmo em sonho. como te encontrar, Teseu, novamente neste labirinto? eu descobri o que significa "doblez''. procuro no saloon uma dose de forte cognac. preciso de coragem ainda. os deuses jogam poquêr e blefam com os destinos. você não fugirá da minha moldura... ou fugiria? aquelas duas crianças nos esperam, você permitirá que deixem de ser apenas fantasmas e corram no aberto do poema. rythmique suspens du sinistre. ainda há o perfume e a tua imagem premente presa na retina.

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